Capitulo 11 - Beatriz

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O domingo acordou cinzento. Levantei da cama e vi que não tinha ninguém em casa. Roberta saiu e não me disse nada. Até que enfim eu teria um dia inteiro só para mim, sem ter que conversar com ninguém. Eu realmente sentia muita falta da minha privacidade, dos momentos em que eu podia ficar inteiramente sozinha.

Fui para a sala e abri o notebook. Comecei a navegar na internet com a esperança de encontrar alguma luz. O tempo estava passando e eu tinha que conseguir um emprego.

"Vamos lá, Beatriz, você tem que conseguir achar alguma coisa", pensei, em voz alta. "Daqui a pouco o seu dinheiro acaba e você terá que morar na rua."

Digitei no google: Emprego para brasileiros na Irlanda e graças a Deus apareceu uma luz. Encontrei um canal no youtube chamado "Casal em Dublin" que explicava tudo o que eu precisava saber. Os simpáticos enamorados davam uma verdadeira aula de como sobreviver na Irlanda. Tinha vídeo falando sobre tudo, desde dicas de supermercado, até conselhos para se dar bem em um intercambio.

Abri o vídeo que dava dicas de como arrumar um emprego e a voz acolhedora da garota que apresentava o canal fez com o que eu sentisse muito mais segura. Ela simplesmente clareou as minhas ideias e eu soube exatamente o que eu tinha que fazer. Foi como se ela tivesse me passado coragem.

"Tenho que pegar o meu curriculum e sair entregando por ai", pensei em voz alta. "Se eu não fizer isso, ninguém vai fazer por mim", continuei pensando enquanto lembrava das dicas do casal.

Coloquei uma roupa quente, peguei alguns currículos que Roberta havia impresso para mim e desci as escadas com a esperança de que não chovesse naquele dia.

Atravessei a rua e fui até o mercadinho que tinha na frente do meu prédio. Pensei que talvez eu pudesse deixar o currículo lá. Então entrei e peguei um pacote de biscoitos para disfarçar.

Segui até o balcão e olhei para o rapaz que estava do outro lado, mas senti medo de não conseguir me comunicar com ele. Como eu iria entender o valor do pacote ou falar que eu estava atrás de emprego? Entreguei a embalagem junto com uma nota de dez euros e rezei para que ele não puxasse assunto comigo.

O homem, que aparentava ter uns quarenta anos, sorriu e foi gentil. Deve ter entendido pela minha cara que eu não conseguia falar nada. Segundos depois ele me entregou o troco, eu coloquei um currículo no balcão e saí correndo.

"Como você é idiota", pensei em voz alta, quando já estava na calçada. "Por que deixou o currículo em uma conveniência? Você não pode ser vendedora sem saber falar nada."

Continuei andando junto com a vergonha da minha atitude burra e impulsionada. Quem iria contratar uma pessoa que não sabe nem entregar um curriculum decentemente?

Olhei para o céu e as nuvens estavam cada vez mais carregadas, mas arrisquei que eu daria mais algumas voltas na esperança de encontrar algo para mim.

Depois de alguns minutos caminhando, olhei para o lado e vi um garoto deitado no chão. Ele estava de moletom cinza, mas não dava para ver seu rosto, parecia desmaiado.

Cheguei mais perto, curiosa, e joguei algumas moedas perto dele. O garoto levantou o rosto de supetão e notei que era o ruivo, o ruivo que não saía da minha cabeça. Olhei para ele e saí correndo assustada.

Mas ele gritou algo que não entendi e quando olhei para trás, ele fez sinal para que eu voltasse.

— Obrigada — ele disse em inglês e eu entendi. Parecia meio bêbado.

Agachei ao lado dele no impulso e ele me olhou profundamente. Antes que eu pudesse pensar, ele me beijou, sem me deixar alternativas. Correspondi por alguns segundos e antes que eu pudesse pensar em parar de trair o meu namorado, senti uma mão puxar meus cabelos para cima.

Caí e todos os meus currículos se espalharam pelo chão. Tentei me levantar e senti um murro forte no meu olho. Caí de novo, tentei abrir os olhos e quando olhei para frente, a loira de coque estava diante de mim, gritando coisas que não consegui entender.

Fiz forças para sair do chão e ela veio para cima de mim de novo. De repente vi um monte de gente com moletom cinza vindo em direção a nós; deixei os papéis no chão e saí correndo, desesperada, sem olhar para trás.

O garoto de Moletom Cinza (COMPLETO) - Quadrilogia " A Ilha da Esmeralda"Onde histórias criam vida. Descubra agora