Capitulo 3 - Beatriz

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O dia seguinte amanheceu com um pouco de sol. Abri os olhos e notei que meu namorado, Rafael, havia me ligado umas vinte vezes. No dia anterior, eu havia tentado ligar para ele, mas ele não atendeu. Na fazenda a internet não é muito favorável para esse tipo de coisa.

Olhei no whatsapp e vi que ele estivera online há pouco tempo, então, resolvi ligar.

— Alô, amor — ele respondeu do outro lado da linha. – Já estava ficando louco por não conseguir falar com você durante todo esse tempo.

— Meu amor, nós temos quatro horas de diferença — respondi. — É por isso que a comunicação está complicada.

— Não consigo dormir. Estou pensando muito em você. Estou quase me arrependendo de tê-la deixado ir — disse, com o sotaque mineiro que eu amava.

Tentei responder, mas a ligação caiu e não consegui retornar. Talvez a internet dele não estivesse funcionando mais. Rafael era o namorado perfeito. Morava em uma fazenda ao lado da dos meus pais e nós crescemos juntos.

Desde pequena eu o conheço e nós sempre soubemos que seríamos um do outro. Ter que me despedir dele foi tão difícil quanto me despedir dos meus pais. Ele era parte de mim e a minha vida nunca existiu sem ele.

Depois dessa ligação, os meus olhos estavam com tantas lágrimas que mal conseguia enxergar. Mas eu precisava ser forte. Eu passaria um tempo na Irlanda e o levaria para morar comigo, caso tudo desse certo.

Ele, assim como eu, sempre foi muito humilde e infelizmente não tinha uma madrinha rica para ajudar. Então, eu tinha mais um motivo para seguir em frente. Precisava levá-lo para perto de mim.

Esfreguei os olhos e decidi que iria sair. Tinha que respirar ar puro para conseguir pensar direito, então, resolvi ir para o parque da Catedral outra vez. Não sei por que, mas aquele lugar me trazia uma calma absurda.

No caminho, passei pela mesma rua de novo para ver se via o garoto, mas ele novamente não estava lá. Depois disso, segui para o parque. Deitei na grama e comecei a observar a igreja. A ponta da grande construção acinzentada parecia chegar ao céu, e os pássaros flutuavam calmamente, acompanhando o balançar das nuvens.

Estava distraída, tentando colocar a cabeça no lugar, quando alguém passou correndo por mim. Minutos depois, a pessoa se sentou. Quando observei melhor, notei que era a mesma garota do dia anterior.

O coque ainda estava no cabelo e ela parecia estar com a mesma roupa. Fiz força para olhar o seu rosto e notei que os olhos ainda estavam roxos. Seu olhar estava perdido e ela parecia nem estar ali.

Não havia muitas pessoas no parque, então não foi difícil observá-la de longe. Fiquei olhando por um tempo e, de repente, vi a garota cheirar algo, uma espécie de aerossol.

Antes de eu me chocar com a cena, vi a loira desmaiar. Ela estava sentada e caiu como um pacote no meio da grama. A primeira atitude que tive foi de sair correndo até ela.

Coloquei a mão em sua boca para ver se ela ainda estava respirando e, segundos depois, uma mulher chegou e tentou falar comigo. Acredito que ela tenha me perguntado o que aconteceu.

Não consegui responder, mas com os meus gestos ela entendeu. A morena tirou o celular da bolsa para ligar para o socorro e, uns dez minutos depois, eles chegaram.

Todos tentaram falar comigo. Mas quando perceberam que eu não sabia dizer nada, começaram a conversar entre si. De repente, um bombeiro entrou no parque com uma maca e colocou a garota em cima.

Quando eles estavam levantando a loira, o garoto de moletom cinza apareceu. Continuei observando a cena e o ruivo começou a tentar impedir os socorristas de levarem-na. Eles conversaram por alguns minutos e ele pareceu convencê-los de que a garota não podia ir.

Não entendi nada do que estava acontecendo. Juro que aquele foi o momento em que eu senti ainda mais vontade de aprender o idioma. Estava diante de uma cena terrível e sequer podia ajudar, eu simplesmente não estava entendendo nada.

Passados alguns segundos, os socorristas foram embora. O garoto, então, sentou no chão e colocou a cabeça da garota em seu colo. Eu estava bem diante deles, estática. E pela primeira vez notei que ele olhou para mim. Os olhos azuis grudaram nos meus. Eu simplesmente não conseguia desgrudar o olhar, nem ele.

O garoto de Moletom Cinza (COMPLETO) - Quadrilogia " A Ilha da Esmeralda"Onde histórias criam vida. Descubra agora