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O dia começou gritante, como de costume. Acordei cedo, refiz as tarefas por simplesmente não ter nada para fazer e preparei o café do meu pai. Sabia o quão preferia minhas torradas e principalmente o café. Então as deixei prontas e, no horário exato, cheguei a escola.

Por incrível que pareça, comecei a notar o clima completamente disforme pela primeira vez naquele lugar assim que enfiei o pé adentro. Mais adiante do corredor estava Melinda, segurando grossas apostilas com uma enorme mochila nas costas enquanto passava informações para outras Star's. Aquele lugar estava absurdamente cheio, sendo que eu podia jurar desde o dia anterior que não haveria ninguém por conta do cancelamento do projeto. Mesmo assim fiz questão em tentar descobrir o que havia de diferente e provar para mim mesma de que não era paranóia minha.

Dei apenas dois passos para trás, mas acabei pisando no pé de alguém que permanecia bem atrás de mim.

- Ei! - Enfim reclamou. A pessoa tinha uma certa voz grave, então automaticamente me fez distinguir que talvez eu estivesse arrumando encrenca com os valentões (sem ao menos saber).

Era tarde para fugir e fingir demência. Ninguém nunca havia chamado a minha atenção, então fiquei parada no mesmo lugar esperando que um milagre acontecesse.

Fiz o favor de seguir meus dois passos para frente mais uma vez.

- Você está surda? Estou falando com você, garota! Olhe só o que fez com os meus sapatos!

Só podia ser brincadeira. Já não bastava ser o triste objeto do colégio inteiro, agora ser xingada por um par de sapatos? Ah, poupe-me.

- Olhe para mim. Não me faça de idiota, pois não estou reclamando com as paredes.

Eu pensei duas vezes antes de encarar o valentão. Conclusão: permaneci na covardia e no medo. Boa parte do corredor já me olhava com o ar da graça, e eu podia sentir a vontade de rir de todos.

Se fosse eu assistindo, eu também riria.

- Ah, fala sério. - Resmunguei. - Hoje não.

O Sr. Valentão agarrou meu braço e bruscamente me fez virar até que eu estivesse em sua frente. Daí logo o vi. Parecia bem zangado, estressado e... muito engomado. Parecia mais um robô. Juro que me perguntei se realmente dava para respirar em suas condições, porém foquei em cada expressão que fizera.

- Desculpe, não foi de propósito. - Olhei para seus sapatos, que por sinal estavam brilhando e quase não dava para notar o simples borrão de lama marcado com a sola do meu tênis. - Belos sapatos!

Bom, eu tinha tentado pelo menos passar uma boa impressão para não ser xingada. Mas...

- Sim, são belos sapatos, que você sujou.

- Ei! E daí se sujei? Minhas desculpas não foram o bastante? Então perdão por isso, Sr. Engomadinho. Vê se não morre por falta de ar.

O dia tinha começado estranho, então não seria má ideia deixá-lo mais estranho com a minha primeira revolta na frente de boa parte da escola.

Puxei meu braço para longe de sua mão e saí pisando duramente no chão, cercada por várias pessoas gritando e fazendo baderna.

No fundo, notei Melinda rindo do rapaz junto com as outras garotas, mas não vi o que aconteceu depois de tudo, pois me adentrei na sala de aula e fiquei até a primeira aula começar.


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Não demorou para todos entrarem na sala de aula. Isso com a inclusão da própria professora de química.

Leaves To Air: O domínio Onde histórias criam vida. Descubra agora