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Eu não tive uma figura materna durante minha vida inteira. Eu não sabia como seria sentir o aconchego de um abraço quente e confortável de uma mãe. Não sabia como seria minha reação ao vê-la pela primeira vez. Ver a mulher que me abrigou em seu ventre durante 9 meses.

Será que eu sentiria necessidade de acusá-la pelo que me fez? Será que eu sentiria vontade de descobrir o tal aconchego de seu abraço?

  - Coma. Não podemos mais esperar. - Disse Price, se levantando e agarrando sua jaqueta de couro escuro de cima do balcão do restaurante.

Podia não ter sido estranho antes, mas com certeza este restaurante havia sofrido algum ataque dos rebeldes e ter se tornado uma catástrofe e tanto. Haviam pratos abandonados sobre mesas vazias, cacos de vidros estilhaçados sobre o chão em todas as partes e muita sujeira.

Não saberia responder se estava com sorte ou azar por ter encontrado o que comer naquele lugar imundo.

Encarei meu prato. Havia um pedaço de pão e uma banana, que por sinal parecia estar boa o suficiente para comer.

Mas o problema era a minha fome. Tinha a perdido completamente depois da conversa que tive com o Nathan há dois dias. Às vezes me recordava do susto, da incerteza sobre diversas coisas sobre ele e não sabia se sentia medo do que estava lá fora ou do que estava bem mais próximo a mim.

Ele era como um oceano. Profundo, às vezes sombrio e frio. Totalmente cheio de mistérios por dentro. As moléculas de água poderiam ser destacadas como seu imenso prazer em ser soberano.

Agora entendo.

Sempre tive medo de oceanos.

Peguei o pão junto com a pequena banana e enfiei dentro do bolso da jaqueta em que eu vestia. Não sabia se iria sentir fome depois.

  - Sullivan.

Me levantei daquele banco que mais parecia de um gigante e me apressei para sair do local, passando pelo Price e consequentemente ralando meu ombro na lateral do seu corpo.

Eu não queria lhe acompanhar. Não queria fazer parte do seu plano de contribuir com os rebeldes. Não queria ser sua isca. E por mais que o medo que eu sentia viesse à tona toda vez que eu lembrasse de sua frieza ao reagir às coisas, eu jogava todas as minhas cartas e tentava ao menos me sentir no controle.

Eu queria que isso acabasse.

  - Por que está tão quieta? Há dias está assim. - Sua voz pareceu me perseguir, sobretudo porque Nathan estava bem atrás de mim.

  - Engraçado. - Ri sem transmitir som algum.

  - O que é engraçado?

  - Há dias mandou eu me calar. Enfim seu momento de paz chegou.

Nathan ficou em silêncio. Um insuportável e gritante silêncio.

Não liguei.

Caminhamos até o carro e logo me adentrei. Ao olhar pela janela a fora, me perguntei se seria uma boa dar uma de louca e sair correndo. Fugir. Mas seria mesmo uma boa ideia fugir e ser morta na primeira esquina em que eu virasse?

Com o Price, mesmo com medo, eu me manteria viva pelo menos por alguns dias ou talvez algumas horas. Não sabia. Não fazia ideia do que esse maluco seria capaz de fazer para ter o que queria.

  - Não ligo se estiver me enfrentando, Jane. - Disse ele ao ligar a ignição. Ele não me olhou e nem eu o olhei, mas notei o som de sua respiração descontrolada ao meu lado.

Não entendi sua preocupação. Não compreendi o fato de ele ter achado que eu o enfrentava propositalmente.

Mesmo assim não lhe disse nada. Mais uma vez, ele indignou-se pelo silêncio.

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