Dei alguns passos para frente e continuei a examiná-lo com os olhos ainda muito calada.
Não queria acreditar que Price seria capaz de tantas coisas. Me recusava a sentir ódio dele mas ao mesmo tempo sentia uma decepção imensa por ele ter mentido para mim. Por ter me dito que não era uma ameaça quando na verdade era a própria bomba atômica ao meu lado. Sentia uma decepção por ele não ter me dito seus planos, por ele ter me usado para atrair alguém. Por mais que não fosse uma surpresa.
- Deduzi que viesse desfrutar do meu estado.
- Não quero desfrutar do seu estado. - Me aproximei pouco a pouco, e assim sucessivamente.
O rosto do Price se erguia para permanecer com seus olhos fixos aos meus.
- Você... - Ele pausou, transmitindo um gemido rouco pelos ferimentos causados.
Esperei pelo prosseguimento.
- Você me apareceu naquela biblioteca, Jane. Eu estava fugindo daquele lugar para fuzilar todos que estivessem na minha frente. Mas você... você me veio como um complemento. E eu pensei: "Mas que coincidência." - Ele riu dolorosamente com seu tom mais sarcástico. - Fazer você achar que por mim "tanto fazia" sua presença foi a maior piada que não pude rir.
- O que você quer dizer com essas coisas?
- Quero dizer que você foi o meu plano. - Ele não parava de sorrir para mim. Seu rosto coberto de sangue e um arranhão enorme na lateral não o fazia demonstrar sentimento de dor. - Eu lhe trouxe para cá no intuito de fazer uma troca com ela, sabe?! Negociar. Caso eu visse a vulnerabilidade dela, eu a mataria ali mesmo e ficaria à frente de todos. Você não tem noção do quanto eu sou capaz, Sullivan.
Eu não estava surpresa.
Eu não estava surpresa.
- Sinto pena de você, Nathan.
Price foi fechando seu sorriso mais e mais. Ele ainda estava me olhando e de repente pareceu suavizar sua expressão à mim.
Ele ficou durante um tempo assim e eu me recusei a interromper o momento e o silêncio.
- Eles me drogaram e talvez eu diga umas merdas, mas Jane... - Ele pausava constantemente.
Eu abaixei a cabeça e cruzei os braços para diminuir o frio que estava sentindo.
- Eu não quero que você sinta pena de mim. Eu quero ser temido, mas não por você. - Talvez ele tivesse achado suas palavras ridículas e tentou gracejar de alguma forma para ofuscá-las, em seguida ele engoliu em seco e senti seus olhos sobre mim o tempo inteiro. - Não sei se isso pode ser considerado algum tipo de fraqueza, mas eu me sinto diferente quando você está perto, e eu fico me perguntando se uma bala no meio tua cabeça faria eu parar de me sentir assim. - Price transmita sua voz com suavidade e às vezes suspirava pela dor que estava sentindo.
Não soube como reagir. Me mantive de cabeça baixo e não sabia se sentia medo por suas palavras ou se me sentia segura por saber que ele estava preso. Nathan estava dizendo coisas que não pude compreender.
- Ao mesmo tempo eu torturo a mim mesmo por imaginar uma bala na tua cabeça.
Tornei a olhá-lo. Pigarreei.
- Eu sei sobre você. Sei das coisas que passou. - Tentei mudar de assunto. Fui direto ao ponto que me era mais interessante.
- Você não sabe.
- Sei que teve de se acostumar muito cedo com um regime bruto criado pelo seu próprio pai. - Continuei. - Eu não sinto ódio de você, por mais que tenha me decepcionado. Eu sinto pena, apenas.
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Leaves To Air: O domínio
FanfictionA maioria dos lugares tendem a ser calmos e bem povoados. Já em certas ocasiões há lugares que são exceções e tendem a ser cheios de surpresas, a exemplo de Morning Tree. Jane Sullivan, com seus 16 anos, acaba se interessando na história de rebeldes...