O Pianista

Appassionata

Gaara acordou um tanto perdido, assustado pelo lugar em que estava. Sentou-se na cama macia com certa rapidez, gemendo baixinho pelo repuxo em suas costas enquanto procurava pelo celular na mala que estava mais perto de si. O aparelho tinha se perdido por entre suas roupas e estava quase descarregando quando o encontrou, marcando oito e meia da manhã. Gaara não era de dormir muito então sabia que não era tão tarde, mas o que lhe chamou atenção fora a mensagem de Temari.

"Estamos bem. Espero que esteja bem também".

Ele sorriu com a mensagem e mandou a resposta de volta para a irmã. Estava mais aliviado por saber que seus irmãos e sua mãe estavam bem. Aquele começo de sábado estava ensolarado e quente e por entre o vão de uma das cortinas Gaara pode ver a parte lateral da mansão, o lugar imenso tinha um jardim na parte de trás muito bonito o qual ele não tinha prestado muita atenção na noite anterior. Podia ver uma parte de onde estava, mas imaginava que ocupava uma grande área do terreno da mansão.

Apesar de ser um tanto cedo Gaara estava bem disposto e não conseguiria mais dormir. Tinha o costume de vestir roupas vermelhas por um motivo bem triste, mas que se tornara comum, pois depois de tantos anos apanhando tinha se acostumado a lidar com escoriações fortes que sangravam e achara que a melhor forma de lidar com aquilo era usando tecidos da cor rubra para tentar mascarar um pouco de suas lesões.

Bem, ele ia estudar muitas vezes depois de uma noite de surra – ou uma manhã como acontecera em alguns momentos – e precisava lidar com as marcas sem que ninguém soubesse então não era assustador ver tantas roupas vermelhas em suas peças pessoais. Naquela manhã, porém, resolveu usar uma roupa inteiramente preta. A calça era comprida o suficiente para não lhe causar problemas e a camisa de mangas compridas cobria as lesões mais perto do pulso sendo que apenas uma pequena ponta estava aparecendo, tão imperceptível que Gaara achou que não teria problema em ficar com a camisa.

Tinha deixado tudo arrumado na cama e aproveitara para guardar algumas roupas no móvel destinado e sobre a estante colocou algumas poucas coisas que tinha de cunho pessoal. Era triste lembrar de que não tinha nenhuma foto com seus irmãos ou sua mãe, mas naquele momento não podia fazer nada a respeito. Calçou os pés e saiu do quarto um tanto incerto se não teria problema com aquilo. O corredor silencioso parecia abrigar apenas ele ali, mas era apenas consequência da quietude do lugar.

Gaara saiu caminhando sem pressa, seus olhos se perdendo sobre as janelas dispostas pelos corredores, o sol entrando parcamente pelos vidros, iluminando o trajeto que fazia. A mansão Uchiha era grande, bem disposta no terreno e extremamente bonita. Gaara podia ver pontos de natureza aqui e ali, além da ponta do jardim que ficava ao lado de seu quarto. Todo aquele bairro distante de onde morava era cercado de mansões – ele mesmo morava em uma, mas que não ficava em um terreno tão grande – e o lugar era tranquilo, de todas as noites de sua vida aquela era a primeira em que conseguira relaxar de verdade.

As marcas pretas ao redor de seus olhos pareciam um tanto amenas aquele dia como se soubessem que ele tinha conseguido dormir de verdade, além de que a própria mansão lhe transmitia paz, diferente da sensação de medo que sempre o acompanhava na casa de seu pai. Gaara estava divagando sobre o lugar e sequer se dera conta de que já estava quase chegando à escada. Seus pés o guiavam tranquilamente que ele só parou quando esbarrou em alguém.

Seu olhar se encontrou com o de Itachi, que lhe direcionou um sorriso.

- Desculpe Itachi-san.

- Não se preocupe com isso. E me chame só de Itachi, sim? Não precisa se preocupar com formalidades.

O médico também usava roupas pretas, uma calça e uma camisa de mangas até a altura dos cotovelos. Os cabelos compridos estavam jogados displicentes pelos ombros do Uchiha e agora que o percebera melhor Gaara o achara realmente bonito. Não que isso mudasse alguma coisa, mas Uchiha Itachi, a seu ver, era alguém bonito.