Capítulo 1

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Chicago, 23 de dezembro de 2011

Quando Normani Kordei recebeu a incumbência de fotografar um evento corporativo no Natal, imaginou funcionários embriagados se jogando aos pés de executivos gananciosos. Muita gemada, traseiros nus sentando-se nas copiadoras, alguém vomitando na gaveta de uma escrivaninha, sexo no armário do zelador... em suma, uma típica festa de fim de ano do trabalho, na qual as pessoas se esqueciam de que eram profissionais e bancavam adolescentes em festas de repúblicas estudantis, construindo lembranças e reputações que iriam precisar de um ano inteiro para serem esquecidas.

Ela estava errada. Completamente errada.

A Elite Construction, que a tinha contratado havia alguns dias, quando o fotógrafo cancelou sua presença, escolhera um caminho diferente e muito mais saudável. Eles optaram por um evento vespertino, uma festa familiar com todos os funcionários, clientes importantes e quem quisessem levar, incluindo os filhos pequenos. O bufê, que tinha de caviar a espetinhos de salsicha, agradava a todos os paladares. Havia presentes sob uma árvore imensa, uma bela decoração, música repleta de sininhos tilintando e muitos sorrisos. Era quase o suficiente para contagiar uma pessoa avessa ao Natal, como ela.

Ah, exceto pelo fato de ela estar trabalhando com um Papai Noel muito mal-humorado.

- Se eles pensam que vou ficar até mais tarde, podem esquecer. Fui pago por três horas de trabalho, nem um minuto a mais.

- Estamos quase acabando - disse ela ao sujeito fantasiado, cujo enchimento da barriga gelatinosa parecia feito em casa.

Se ao menos a natureza dele fizesse jus à sua aparência. Embora, Normani tinha de admitir, naquele instante em especial, o mau humor dele era compreensível. Ele tivera de secar as calças sob o secador de mãos do banheiro masculino depois que um garoto ficara tão empolgado que chegara a ponto de fazer xixi nas calças. E nas calças do Papai Noel.

Sendo muito honesta, o Papai Noel não era a única fraude naquela tarde. A própria roupa dela não combinava exatamente com sua personalidade. Ela sentia-se uma idiota usando o velho traje de elfo, uma sobra de seus tempos na faculdade. Mas as crianças adoravam. E uma criança feliz e relaxada era uma criança fácil de ser fotografada, rendendo ótimas imagens.

No fim das contas, ela poderia dizer que o evento tinha sido um enorme sucesso. Tanto para a Elite Construction, cujos funcionários deviam estar dentre os mais felizes da cidade hoje, quanto para si.

Desde que retornara a Chicago, depois de sair de Nova York, há dez meses, ela estava tentando erguer seu negócio ao mesmo nível de sucesso que possuía na costa leste. As coisas estavam melhorando, muito, mas uma injeção rápida de grana por uma tarde de trabalho fácil definitivamente era de grande ajuda.

Finalmente, depois que a última criança da fila foi atendida, Normani deu uma olhadela para o homem rechonchudo vestido de vermelho.

- Acho que é só isso. - Ela olhou para o relógio na parede. - Cinco minutos para descansar.

- Ótimo - disse ele. - Deus, como eu odeio crianças.

Normani ficou boquiaberta; não conseguiu evitar o espanto.

- Então por que trabalhar com isso?

Ele apontou para si, para o cabelo branco, a barba cheia, a barriga imensa.

- Que outro personagem eu poderia fazer? O coelhinho na Páscoa?

Não, ao menos que ele quisesse apavorar todas as crianças do planeta fazendo-as jurarem que nunca mais consumiriam doces.

- Aposto que você é capaz de conseguir um papel na versão teatral de O estranho mundo de Jack - murmurou ela. Ele certamente se parecia com o bicho-papão. E era tão amigável quanto.

The Emotions - Norminah (Dinah G!¡P)Onde histórias criam vida. Descubra agora