1- S T A L K E R

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S T A L K E R

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S T A L K E R

Havia muito tempo que eu tinha finalmente aceitado que em meu coração só havia maldade. Nada mais parecia move-lo, nada mais parecia fazer ele bombear tanto sangue quanto o olhar de medo e fracasso no rosto daqueles a quem eu torturava e atormentava.

Mas eu não me culpava, não sentia remorso, pena, dor, misericórdia ou quaisquer outros sentimentos, eu não sentia nada, a não ser a sensação de adrenalina e supremacia que subiam em meu corpo alimentado-me de falso poder.

Eu não era ingênua, eu sabia que não duraria nada até que eu tivesse que procurar outra pessoa pra atormentar. Eu não era alguém bom, eu era má, mas eu já não via sentido em ser alguém bom e não me importava com isso.

Fazia muito tempo que eu havia morrido. Eu era somente mais uma casca vazia daquilo que um dia foi o lar de uma alma. Tantas partes de mim haviam morrido que eu acabei fragmentada em diversos pedaços, tentando recompor-me o máximo possível e fracassando ao tentar encaixar peças em lugares em que não pertenciam. Então eu morri, eu continuo morta e mais uma vez não me importo com isso. A única coisa que restou do meu antigo eu foi a casca, o casulo de uma alma que um dia ousou ser chamada de Azarya Drakkar.

Azarya Drakkar havia morrido, e só havia um culpado. Ela foi quebrada torturada e o culpado sendo o mesmo. Ela foi levada ao inferno e eu ainda só conseguia enxergar um culpado. O culpado de tudo, Vincenzo Salvatore  Accio .

 O culpado de tudo, Vincenzo Salvatore  Accio

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"Lúcifer, nos dias de hoje"

Eu o observava, sentada, no parapeito do terraço de um dos edifícios mais altos de Nova York. O edifício dava-me uma vista frontal do local onde se encontrava o meu alvo. Vestida de negro como a noite, eu me camuflava perfeitamente na escuridão daquela madrugada fria. Já passava da meia noite, e nem eu, nem o meu alvo apresentávamos qualquer sinal de sono ou cansaço. Nem a altura em que eu me encontrava me distraia por um minuto sequer daquele que era o motivo das minhas insônias. Também pudera, eu havia chegado a uma fase da minha vida que já não temia mais nada. Eu o observava, rondando pela casa, na cobertura do edifício, com um copo de whiskey na mão.

Ele parecia enjaulado, uma fera prestes a sair do seu covil para caçar. Mas mal sabia ele, que eu era a fera que assistia cada passo, cada movimento, cada respiração dele, ele era a minha sexy presa, minha maior obsessão.

Lucca Alik Salvatore Accio. Eu não sabia explicar com exatidão o que tanto me fazia observá-lo, mas eu dizia a mim mesma que era pela vingança.

A maldita sede de vingança que me atormentava dia e noite. Todo meu corpo queimava e minha mente pedia que eu saciasse a minha ela. Eu queria me vingar, na verdade eu não só queria, eu necessitava me vingar.

Eu havia aprendido, da pior maneira que até os mais fortes tinham uma fraqueza. Por mais clichê que soe, é a verdade. Todo mundo tem um ponto fraco, um calcanhar de Aquiles. E Vincenzo não era a exceção.

Sua fraqueza era ele, Lucca Accio, filho único de Vincenzo e herdeiro do Império Accio.

Lucca era a fraqueza do pai não porque Vincenzo nutria sentimentos fraternais em relação ao filho. Mas sim porque Lucca era seu único herdeiro e o único capacitado para continuar a linhagem Accio, que detinha o controle da Máfia Italiana. Era tudo uma questão de poder, pois caso a linhagem não continuasse, nesse caso, se o último Accio não produzisse um herdeiro, o poder da família iria pra segunda família em comando, no caso os Carbonne.

O engraçado era que o tempo passava, Vincenzo envelhecia e Lucca parecia não sequer pensar em continuar com a linhagem. Lucca era extremamente imprevisível o que atentava mais à minha curiosidade, levando-me a observar-lo mais minuciosamente.

Não que houvesse alguma possibilidade de eu o observar por razões sentimentais, afinal de contas eu era Lúcifer. Eu não sentia nada a não ser vontade de ignorar a existência do mundo. Mas alguma coisa me levava à observá-lo mais do que eu costumava observar as minhas presas. Sim, presas, eu era uma predadora e a minha natureza era caçar. Mas antes de caçar qualquer presa, eu observava-as e Lucca não fugiu à regra. Eu o observava esperando o momento certo em que o abordaria e colocaria em prática a vingança que durante tantos anos eu planejei.

Segurando o cigarro com os dentes, voltei a posicionar os meus binóculos sobre os olhos e observei com atenção quando Lucca levou mais uma vez o copo de Bourbon aos lábios. Seus olhos eram atentos, e os passos calculados. Eu tinha que admitir, ele era espectacular. Era o tipo de Homem que nunca quebrava o contacto visual, se movia com altivez e tinha essa aura à volta dele que gritava perigo. Poucos Homens conseguiam me impressionar ou sequer intimidar por isso Lucca era meu objecto de tanta curiosidade.

Na verdade eu gostava da sensação que corria em meu corpo em cada momento que eu pensava em enfrentar Lucca, pois eu sempre gostei de um bom desafio. Lucca com certeza era um, e eu não via a hora de quebra-lo. Seria um pouco triste, pois demoraria a encontrar alguém que estivesse à altura outra vez mas eu esqueceria tal como tudo.

Dando uma tragada em meu cigarro eu observei quando Lucca andou até as grandes janelas de vidro que rodeavam todo o apartamento e davam vista pra toda a cidade. Seus olhos trilharam as estradas, os edifícios, mas mesmo assim pareciam não estar ali. E mais uma vez tal como todas as vezes eu me perguntei o que o moreno tatuado dos estonteantes olhos azuis tanto pensava.

Talvez tal como eu, ele era solitário. Um lobo sem matilha, um desgarrado. Mas como é possível ? Indaguei à mim mesma. Ele pertence à família Italiana não ?

E eu ? Voltei à indagar. Eu pertenço à MERCY. Ninguém sabia nada sobre mim além da MERCY. E assim eu espero que permaneça.

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