CAPÍTULO 16 | "Se nós pudéssemos ter um tempo, para acertar tudo.

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Eu poderia descansar minha cabeça, simplesmente sabendo que você foi minha. Toda minha."

November Rain - Guns N' Roses

Jon Crover

Eu estava bêbado, não surdo. Tinha ouvido claramente tudo que Kathe havia me dito. Tempo. Uma palavra tão pequena, mas com um significado perturbador, considerando as atuais circunstâncias.

Desci o elevador completamente perdido. Algumas pessoas apontavam para mim, sabiam quem eu era, mas naquele momento eu não queria falar, nem agir, muito menos pensar. Continuei meu trajeto até chegar a saída. Thompson me aguardava do lado de fora do carro, com os braços cruzados. Assim que me viu, se endireitou.

— Senhor. Para Whitehall? – Pergunta formalmente.

Balancei a cabeça negativamente. Ir para lá agora significava dar explicações, coisa que eu não queria fazer no momento.

— Não. Quero ver minha mãe – Pedi, ainda meio tonto por conta da bebida.

— Sim, senhor – Disse, abrindo a porta para mim.

Seguimos o trajeto em silêncio. Em outras situações, gostava de conversar com ele. Thompson era um bom homem, do tipo que nos inspira, e até nos da inveja.

— Você já amou alguém? – Pergunto, do nada. Ele me olha rápido pelo retrovisor e depois desvia.

— Tenho uma mulher, e um filho de dois anos, senhor – Conta, naturalmente.

Eu não sabia disso.

— Isso é apenas formalidade. Não que eu seja contra, longe de mim. Mas me refiro a amor, paixão, essas coisas que nos deixam fora de eixo. Já viveu algo assim? – Insisto, vendo ele ficar um pouco incomodado.

Pelo jeito, esse assunto não mexia apenas comigo. Muita gente estava no mesmo barco, prestes a naufragar no desespero.

— Sim – Responde, como se fosse uma pergunta qualquer. Certo, ele não queria entrar em detalhes. Talvez esse amor não fosse sua atual esposa. Mas quem poderia apontar o dedo ou julgar? Cada um vive a vida que quer, do jeito que quer. — E essa mulher nunca vai ser minha totalmente – Completa depois de algum tempo.

Não era difícil notar o peso na sua voz. Quem quer que fosse ainda mexia com ele! Será que eu ficaria assim, se Kathe não me quisesse mais? Só de pensar, sinto um vazio estranho. Um vazio que pode crescer com essa distância. O tal tempo.

— Ah, mulheres! Deusas, que nós, meros seres mortais, somos incapazes de não adorar... – Declaro, vendo Thompson sorrir um pouco. Um sorriso fraco.

— Chegamos, senhor – Informa, estacionando em frente ao St. Pauls.

Deixo Thompson do lado de fora, e entro. Todos me recebem com sorrisos e gentilezas. Uma enfermeira me acompanha até o quarto da minha mãe. Segundo ela, Nora está muito bem, se recuperando com louvor.

Abro a porta devagar, e encontro ela se maquiando no espelho da escrivaninha. Era desse jeito que ela fazia quando ir me levar á aniversários ou qualquer outra comemoração perto de casa. Não podíamos ir para longe. Meu pai não deixava.

— Jonathan? – Chama, me despertando das lembranças. Um sorriso nasce em meus lábios ao vê-la tão bem novamente. Seu braço se estica, e ela mexe levemente os dedos da mão, me chamando para perto. Exatamente como no passado, num pedaço bom do passado. Vou me aproximando, e vendo como ela me olha assustada. — O que houve com você, Jonathan? – Indaga.

Me sento na poltrona que fica de frente para ela, e fico calado, até achar as palavras certas.

— Eu fiz tudo errado, mam... Nora! – Quase esqueço e a chamo de mãe. Ela nunca aceitou. Sempre diz que seu filho tem sete anos. Os efeitos caóticos e constrangedores da amnésia.

[PAUSADO] Melodia PERFEITA - Série PERFEIÇÃO Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora