CAPÍTULO 22 | "Eu poderia passar a minha vida,

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Nesta doce redenção."

I Don't Want To Miss A Thing - Aerosmith

Jon Crover

A vida é um complexo, formado por coisas boas e ruins. Por trás de cada coisa existem as razões. Razões para fazer algo, razões para não fazer algo, razões para continuar, para desistir, e a mais importante: razões para ser feliz.

Há um tempo atrás eu poderia dizer que minhas razões eram poucas e suficientes. Minha mãe, meus amigos, a banda... Mas agora, diante das circunstâncias, elas se tornaram muitas mais, e nada suficientes. Era um desejo incessante de superação, de melhora, de conquista..

Agora, eu tinha uma boa razão para ser feliz, e isso significava que eu deveria fazer alguém feliz. E esse alguém era a Kathe. Contemplar seu sorriso, sentir a emoção transmitida por seu olhar, e saber que a razão maior daquilo tudo era eu, estava me fazendo ser um ser humano melhor, um que conseguia enxergar além do óbvio.

Eu descobri que o amor está nos detalhes, nas pequenas demonstrações. Na preocupação, no afeto, na cumplicidade. Na vontade de ser o melhor, e de fazer o melhor. No dom de abrir mão de seus caprichos para se igualar ao outro. Amor não é diminuição, submissão. É igualdade, é compreensão.

Talvez eu ainda não estivesse pronto. Era uma caminhada infinita. Mas poderia dizer que já consegui percorrer um pequeno trajeto à caminho da redenção.

Mais uma vez estávamos na caminhonete, um do lado do outro. Eu dirigia tranquilo até o endereço fornecido pelo agente imobiliário. Não ficava tão longe de Whitehall, mas não quis correr. Também estava aprendendo a ser cauteloso. Paciência era a alma de um relacionamento.

O prédio era antigo, com cores fracas, e os letreiros apagados. Tinha sido um hotel de luxo construído por um europeu em 1895. Depois de ter ficado viúvo e todas as suas três filhas terem se casado, ele vendeu o lugar por um preço suficiente para comprar uma casa simples e viver os últimos de seus dias. Mesmo depois de ter sido comprado, ele continuou sendo um hotel, mesmo que as instalações começassem a ficar precárias. Com o tempo, o prédio de dois andares começou a ser esquecido, perdendo espaço para os grandes prédios e arranha-céus do "futuro".

O proprietário atual do lugar já havia colocado o anúncio de venda há três anos, mas não conseguia obter sucesso. Até o dia que passei com Kathe, após termos visitado minha mãe. Era o lugar perfeito. E seria ainda mais depois de hoje.

Desci da caminhonete, e coloquei a mão esquerda no bolso, só para ter certeza de que a chave antiga, de ouro velho, ainda estava ali, segura. Dei a volta, e cheguei bem a tempo de ajudar Kathe a descer. Mesmo com a barriga ainda pequena, eu mantinha o maior cuidado com ela.

— Que lugar é esse? – Pergunta, completamente encantada.

O lugar poderia ser velho, mas a sua beleza rústica era incrível. Com janelas e portas grandes e de vidro, se igualava aos grandes solares imperiais.

— Vem. Eu vou te mostrar – Seguro sua mão, e faço me acompanhar para dentro.

É surpreendentemente reconfortante vê-la observar o prédio com tamanho encantamento. Hora ou outra sua mão aperta a minha, deixando claro sua surpresa e seu nervosismo.

Percorremos o térreo, e depois seguimos para o segundo andar. Quartos enormes, com móveis rústicos e únicos. Algumas fotografias desgastadas nas paredes, assim como a tinta branca descascando.

Decido parar dentro da suíte presidencial. Uma cama de casal empoeirada ainda está lá, fazendo companhia as cortinas pesadas de algodão.

Paro na frente dela. Da minha Kathe. Jamais serei capaz de me acostumar com sua beleza, sua doçura. Ali, diante de um lugar repleto de lembranças, decido tornar real uma das quais quero carregar para o resto da vida em meu coração.

[PAUSADO] Melodia PERFEITA - Série PERFEIÇÃO Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora