CAPÍTULO 15 | "Mais que palavras.

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É tudo que você tem que fazer para tornar isso real"
More Than Words - Extreme

Kathe Miller

— Ei, Kathe? Onde vai? – Ouvi os gritos de Sandy, logo atrás de mim.

Mas eu não queria parar. Só tinha que correr mais, sair logo de dentro daquela boate. Foi uma péssima ideia ter vindo, como eu imaginei que seria.

Me encostei na parede perto da entrada principal, dando tempo para Sandy se aproximar e me olhar incrédula.

— O que ouve? Você ficou lá, olhando ele cantar, e de repente saiu correndo, como o diabo foge da cruz...

Respirei fundo por alguns segundos.

— Mas é exatamente isso que eu tenho que fazer a partir de agora. Fugir do Jon, porque ele é louco. Não consigo entendê-lo, não consigo. Ele fica bravo comigo por nada, me faz sofrer, me deixa sozinha, vai embora sem nenhuma explicação, não me procura em nenhum momento, e agora canta para mim aquela música. A mesma de La Jolla Cove, como se todas as palavras fossem promessas. O que ele quer de mim? O que ele quer, Sandy? – Pergunto, me entregando ao nó na garganta permitindo que a primeira lágrima caia.

Sandy me abraça, e me consola. Eu estou perdida, sem saber o que fazer dali em diante. Jon pediu passagem, eu permiti que entrasse, e tudo se tornou confuso desde então.

— Kathe? Kathe? Aconteceu alguma coisa? – Ouço a voz preocupada do meu pai chegar até mim.

Droga! Ele não podia saber de nada.

— Ela não se sentiu muito bem, senhor Miller. Deve ter sido o lugar fechado, ou algo do tipo – Sandy mentiu.

— Minha filha não está acostumada com todo esse tumulto, ainda mais com aquele som pesado de rock. Venha, Kathe. Eu vou te levar para casa – Papai se aproximou, me pegando dos braços de Sandy, e me encaminhando para o estacionamento.

— Posso ir com vocês? – Sandy pede, fazendo eu e meu pai pararmos no meio do caminho.

Ele sorri e olha para trás.

— Claro que pode, Sandy. Você já é quase da família. Venha. Talvez eu precise mesmo da sua ajuda.

Sandy foi no banco de trás comigo, enquanto papai dirigia. Mesmo ele estando de costas, eu podia sentir sua preocupação, a respiração pesada, os olhares atentos, e a velocidade um pouco acima do normal. Tudo isso me lembrou da primeira vez que passei mal no colégio, logo depois que Katrina nos abandonou.

Na época, a produtora ainda estava no começo. Materiais precários, apenas um ou dois contratos, funcionários trabalhando de graça. Ela ainda não nos trazia muito lucro, apenas o suficiente para pagar meus estudos, o aluguel do apartamento, e nossa alimentação. Roupas? Eu usei as que eu tinha desde os dois anos, até os sete.

Vox ficou louco quando recebeu a ligação. Eu vomitava e chorava sem parar. Ele veio correndo, me levou ao hospital, e ficou comigo lá até quando tive alta. Cerca de três dias. O único momento que ele saia era quando eu dormia. Ia em casa, tomava um banho, comia alguma coisa e voltava. Seu sono era preenchido no hospital ao meu lado.

Ele sempre se dedicou por mim, por ele, pela nossa família. Mesmo com todas as dificuldades, nunca deixou que isso refletisse no seu dia a dia, na minha criação. Sim! Ele é super-protetor, meio antiquado, exagerado, e às vezes, até um pouco chato, mas ele me ama, do seu jeito desajustado e complicado. Ele só queria meu bem, minha felicidade, mesmo que isso significasse que eu não faria o que ele deseja, como dançar, exatamente como a minha mãe fazia. Para ele era o fim, mas para mim, o que eu realmente era. Não importava que isso era o que Katrina fazia. Eu não era ela, e nunca seria.

[PAUSADO] Melodia PERFEITA - Série PERFEIÇÃO Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora