CAPÍTULO 14 | "Oh, você não enxerga?

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"Você pertence a mim."

Every Breath You Take - The Police

Jon Crover

A semana inteira havia sido reflexiva para mim. Passei quase todos os dias visitando minha mãe, que graças á Deus, já estava bem melhor. Suas crises eram sempre traumáticas, e cada uma delas traziam uma consequência dolorosa. A última havia sido um pouco antes do Vince morrer, e para mim nunca mais aconteceria de novo. Mas aconteceu, e ela ficou naquele estado por quatro dias.

Me peguei várias vezes olhando para ela, deitada naquela cama desacordada, e relembrando da vida dura que tivemos. O fato do meu pai ser um alcoólatra, da nossa dificuldade financeira, da morte do Alec, meu irmãozinho. Era porrada atrás de porrada, e a minha mãe nunca abaixou a cabeça, nunca desistiu, e isso era o que eu sempre admirei nela. Sua garra.

No entanto, Nora Crover era um ser humano como qualquer outro. Uma hora os problemas seriam mais fortes que ela, e sua determinação não seria suficiente. Então veio a primeira crise, e depois a segunda, a terceira... Hoje em dia, minha mãe vivia em estado de amnésia anterógrada. Se lembrava perfeitamente de todos os fatos passados: seu casamento, seu marido, seus dois filhos; mas não se lembrava de nada após isso. Ela nem se lembrava que o Alec havia morrido, e pior, não havia sentido o tempo passar. Resumindo, não sabia que o seu pequeno Jonathan era eu, o mesmo Jonathan, só que mais velho. Para ela, eu era apenas um bom rapaz, que a ajudava e conversava com ela. Um amigo qualquer.

No começo dessas suas reações eu não aguentava. Chorava, ficava com raiva, gritava com ela, não aceitava toda àquela situação surreal. Pensei que na verdade o problema era comigo, que estava ficando louco. Mas com o tempo as coisas mudaram. Devagar, fui aprendendo que aquilo era o máximo que ela podia me dar. A única coisa que eu tinha que fazer era aceitá-la daquela maneira, afinal de contas, ela era minha mãe.

Sentei e observei meu reflexo no espelho do camarim. Essa era a noite da inauguração do Arena Nightclub, e eu estava péssimo. Aquele "serviço extra" não fazia muito meu tipo, porém era o que eu tinha de melhor para esquecer dos meus problemas. Trabalho, trabalho e mais trabalho.

A porta abriu, e Dale entrou por ela.

— Não sabe bater na porta? – Perguntei sem paciência.

— Não sabe parar de reclamar? Está parecendo um velho ranzinza! – Disse debochado. — Aposto que vai mudar essa carinha de pouca-foda rapidinho, quando ouvir o que tenho para falar! – Debochou ainda mais.

— E o que é tão bom para você vir correndo? – Indaguei, me levantando da cadeira e indo escolher uma das inúmeras jaquetas que Deena havia separado para o show.

— Digamos que a sua garota acabou de entrar na área VIP da boate...

Quê? Porra! – Xinguei. — Você está brincando comigo, não está? – Me aproximei dele, para poder olhar em seus olhos e enxergar a verdade.

Dale cruzou os braços, sorrindo.

— Olha para mim, meu irmão! Você acha que eu iria brincar com uma coisa dessas?

Merda! Por essa eu não esperava!

— Mas porquê? O que ela está fazendo aqui? Como ela conseguiu?

Dale caiu na risada. Fiquei sem entender.

— Você deve estar muito mal mesmo! Esqueceu que o melhor amigo dela é o nosso guitarrista? Em que mundo está vivendo!?

Ah, é claro! O Kurt... Ele deu um ingresso á ela!

— Tanto faz! Isso não faz diferença alguma! – Falei, finalmente escolhendo a jaqueta.

[PAUSADO] Melodia PERFEITA - Série PERFEIÇÃO Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora