Março IV

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A visão da carteira vazia me deu um banho de água fria de realidade. Ela escorreu pela minha cabeça, meu peito e desceu gelada entre as pernas - na maior metáfora que consegui construir então.

Em anos de convivência, eu sabia que a Maria só faltava à escola se estive doente – muito doente, do tipo morrendo de doente, preferivelmente internada num hospital bem caro nas colinas (?). Ou então se alguém tivesse morrido na família.

Convenhamos, ambas as coisas eram raras de acontecer. Ela quase nunca pegava um resfriado sequer, quanto mais algo mais grave. As únicas vezes que me lembro dela ter ficado doente foi dois anos antes, de dengue, e quando tínhamos, sei lá, onze anos e ela pegou catapora tardiamente. E mesmo assim ela teria ido à escola se o médico não tivesse prescrito uma recomendação para os pais dela de que a catapora era terrivelmente contagiosa. E a dengue era hemorrágica. Enfim.

O fato inegável era:

A Maria nunca faltava à escola.

Obviamente aquilo me desconcertou o resto do dia todo. Por mais que nós estivéssemos sem nos falar (ela não havia nem mandado uma mensagem sequer, nem no celular, nem no facebook, e eu não ia dar o braço a torcer, não senhor), fiquei preocupado. E se tivesse acontecido alguma coisa realmente grave? Só podia ter acontecido. Certo? Ela não faltaria ao colégio só por causa de uma festa, da Natália ainda por cima.

Não ficaria em casa só pra não ter que me encarar.

Faltaria?

Depois de ficar me remoendo a manhã inteira, descobri que já não tinha mais tanta certeza da resposta. A Maria Eduarda que eu conhecia era diferente da que eu vira da última vez, da que falara comigo e gritara comigo na frente de todo mundo.

E confesso que isso quase me fez chorar.

Aprendendo a Gostar de Garotos {Aprendendo I}Onde histórias criam vida. Descubra agora