Capítulo 004

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Subaru só se lembra de ver suas mãos e camisa ensanguentadas quando acordara. Deitada, no chão, ao seu lado, a sua avó. Morta. Com um de seus olhos fora de órbita. O outro, aberto, em súplica, tristeza. Uma faca. Uma faca negra punhalada em seu peito.

No PC, ainda ligado no game, uma mensagem:

Did You Survive

Se olha no espelho do banheiro. Não se reconhecia. Sua face esquerda com três arranhões profundos, ainda sangrando um pouco. Seus olhos estavam vermelhos, inchados. A vontade de chorar voltara.

Lágrimas se misturavam ao seus berros.

Um flashback dos momentos mais felizes com a mulher que mais amara após a morte de sua mãe se passa na cabeça do jovem.

Mais uma pessoa se machucara por sua causa.

O rapaz joga a fileira de remédios e cosméticos bem organizados na pia no chão.

Se escora na parede fria, gélida. Seus dedos enfiam-se em seus cabelos, os puxando, em uma tentativa falha de apagar o fato:

Subaru matara Hinata Itoh. Sua avó.

[...]

Anos atrás...

"Meu menininho!" Sua voz era tão doce, tão gentil. Seus cabelos negros estavam presos em um coque frouxo. De qualquer jeito ela ficava bonita, segundo Subaru. "Vamos viajar!"

Mesmo tendo só 7 anos, sabia que a palavra 'viajar' era algo bom. Mas algo nos olhos de sua mãe dizia o contrário, como se ela estivesse com um pressentimento ruim.

"Vamos, pequeno Subaru! Vamos viajar!" Seu pai ressalta o que a mulher acabara de dizer, com um sorriso estonteante. Entra no carro, dá a partida.

Subaru aperta seu saco de brinquedos contra seu peito.

[...]

"Pare, Subaru!" Sua voz já demonstrava a sua raiva. "Pare de jogar seus brinquedos em mim! Não posso brincar agora!"

O menino só ri. Continua à jogar brinquedos em seu pai, o motorista.

"Subaru-kyun, por fav..." Antes que a mulher pudesse terminar a sua frase, um barulho estridente soa, seguido de um baque. A moça é arremessada para fora do carro.

O veículo vira.

"M-mãe...? Mamãe!!!" Subaru grita, aos soluços. Sua cabeça doía, mas ainda estava consciente.

No banco à sua frente estava seu pai, desacordado.

"Ma... Mãe..." Sua vista estava ficando turva.

A última coisa que vira pela janela fora uma ambulância.

[...]

"Papai?!" Gritos e lágrimas estavam tornando-se constantes.

No seu campo de visão estava seu pai, deitado no chão, ao seu lado uma faca ensanguentada. Uma faca negra.

Ele havia cometido suicídio.

Um ano após a morte de sua mulher no acidente de carro, o homem cometera um atentado contra a própria vida.

Ele a amava. Seus últimos meses foram culpando o filho.

"A culpa é sua, seu maldito!" Dizia várias vezes, com um misto de ódio e pesar. "Se você... Se você tivesse ficado quieto, porra, o carro não teria batido! Sua mãe taria viva, caralho! Viva!"

Games And Demons - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora