5 -Os misterios da Fé

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Conforme vimos, podemos considerar a fé sob dois aspectos: natural e sobrenatural. A fé natural se caracteriza pela confiança, que faz parte da natureza humana, evidenciada na segurança, no crédito e na esperança nas pessoas e nas coisas.
Não é preciso crer em Deus para ter a certeza, por exemplo, de que colhemos o que plantamos. Assim é a fé natural; ela é de todos, pertence a todos, crentes e incrédulos, porque faz parte da estrutura humana desde o ventre materno.
Este tipo de fé não é a da Bíblia, atribuída aos homens de Deus. Quando ela fala de fé, refere-se exclusivamente à sobrenatural, ou seja, a que provém de Deus. Ao contrário da fé natural, a sobrenatural não é de todos ( 2 Tessalonicenses 3.2).
Esta qualidade de fé é uma certeza tão absoluta e tão forte, que passa a ser um poder acima de todos os poderes deste mundo, capaz de realizar todas as coisas, inclusive o impossível. Daí a razão pela qual o Senhor Jesus disse que "...Tudo é possível ao que crê." (Marcos 9.23). O poder da fé sobrenatural nasce no trono de Deus e de lá flui como um rio, em busca de pessoas humildes de espírito, para lhes encher o coração. Pessoas simples, que crêem na simplicidade do Evangelho, que não é outro senão "os rios de água viva" prometidos pelo Senhor Jesus para aqueles que n'Ele crêem, de acordo com a Bíblia (João 7.38).

O fluir da fé sobrenatural é uma manifestação do Espírito de Deus em nós pela pregação da Sua Palavra. Estar cheio do Espírito significa estar cheio de certeza, cheio da fé sobrenatural, e servindo como vaso, jorrando espírito e vida; ajudando os que têm fome e sede de justiça; tornando-os livres, para a glória de Deus.
Por isso, a fé sobrenatural é um dom divino exclusivo para os verdadeiramente humildes, que acreditam sinceramente na Escritura Sagrada. Nosso Senhor ensina que "... a boca fala do que está cheiro o coração." (Mateus 12.34), o que significa dizer que, quando o coração está cheio do Espírito Santo, a boca professa certeza; convicção; confiança; fé; determinação e tudo o mais que edifica aqueles que ouvem.
Foi assim que aconteceu com o próprio Senhor Jesus, quando levado ao deserto como homem, cheio do Espírito Santo, para enfrentar Satanás como homem e vencê-lo como homem de Deus (Mateus 4.1).
O mesmo também ocorreu com os apóstolos, que, uma vez cheios do Espírito Santo, sendo homens iletrados e incultos, anunciaram a Palavra de Deus com intrepidez, no poder do Espírito Santo (Atos 4.31).
A fé sobrenatural é caracterizada por uma certeza absoluta de que Deus irá fazer aquilo que prometeu na Sua Palavra. É uma revelação divina, a qual tem como única explicação o que o Espírito Santo ensina por intermédio do autor da carta ao povo hebreu, quando diz: "Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem." (Hebreus 11.1).

A partir daí, o autor passa a mostrar fatos que comprovam a manifestação da fé sobrenatural, por intermédio de pessoas simples, que creram verdadeiramente nas promessas divinas. Cita vários heróis do passado: "E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jafté, de Davi, de Samuel e dos profetas, os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros (...) Alguns foram torturados (...) outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andavam peregrinos (...) necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno) ..."
Hebreus 11.32-38

Aqueles homens e mulheres estavam sujeitos às mesmas circunstâncias de fraquezas e debilidades que enfrentamos hoje. A grande diferença entre eles e nós é que enquanto desprezavam a razão, em virtude da crença simples, nós procuramos pela razão a explicação da fé.
Enquanto neles havia o "amém", em nós há o "por quê?". Estamos sempre querendo explicações, porque insistimos em atender à fome da razão. Aqueles homens e mulheres de fé não tinham conhecimento algum de Relações Humanas, Psicologia, Sociologia ou qualquer "logia" deste mundo, mas obedeciam cegamente à Palavra de Deus, porque criam nela de todo o coração!
Conhecedores que eram da posição do servo em relação ao senhor, pois a sociedade na qual viviam admitia o sistema da escravidão, eles levavam muito a sério o senhorio do Senhor Jesus Cristo. Para eles, Jesus era realmente o Senhor de suas vidas; daí a facilidade de compreenderem e obedecerem à Sua Palavra, pela fé.
Embora a analogia do senhor e do servo ainda deva ser aplicada no relacionamento entre Jesus e Seus discípulos, vemos hoje em dia um outro tipo de servo, ou um outro tipo de sentimento de servo: de um modo geral, os servos de hoje querem impor sua vontade ao Senhor Jesus, sem ao menos considerarem se ela está de acordo com a vontade d'Ele.

Este procedimento distorce totalmente o relacionamento entre o Senhor e o servo. Assim sendo, de que maneira Deus, que é o Autor e Consumador da fé sobrenatural, pode doá-los aos servos?

Pode ser que este seja o motivo pelo qual muitos servos se encontram abatidos e fracassados, pois a condição de servo, para muitos, presta-se apenas como pretexto para satisfazer os caprichos do seu ego.
A fé é o único canal de comunicação entre o ser humano e Deus; entre o ser material e o espiritual. A partir daí se estabelecem as regras da comunhão com Deus; "todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz, a minha alma." (Hebreus 10.38).
Quando Deus determina a lei da fé, Ele o faz objetivando a nossa dependência d'Ele, com o intuito de nos abençoar. Entretanto, este canal da fé precisa estar totalmente desobstruído, para que funcione.

Mas o que tem obstruído este canal? Em princípio, as dúvidas, e a partir delas acrescentam-se os medos, as ansiedades e as preocupações. E o que tem gerado dúvidas no coração convertido? O pecado.

O pecado é a gordura que bloqueia as artérias, as quais conduzem o sangue da vida, ou da fé, ao coração de Deus. Daí a razão por que o pecado conduz à morte: Ele macula a boa consciência, bloqueia o canal da fé e neutraliza o seu fluxo vital, interrompendo finalmente a comunhão e dependência de Deus. Em sua orientação a Timóteo, o apóstolo Paulo o exorta de maneira enfática, dizendo: "Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate, mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé." 1 Timóteo 1.18,19

Já na sua segunda epístola endereçada a seu filho na fé, Paulo o consola com as seguintes palavras: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé." (2 Timóteo 4.7).

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