Capítulo 3: O Mural.

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Horas depois, Pedro chegou a sua casa, apanhou uma maçã na mesa da cozinha, rumou para o quarto, destrancou a porta e logo passou a chave. Absolutamente ninguém entrava naquele lugar sagrado enquanto ele estivesse fora, nem mesmo a doméstica tinha permissão. Ele mesmo varria e arrumava os objetos. Ela apenas lavava o banheiro e recolhia a roupa suja, sempre com certa desconfiança. O recinto funcionava como uma espécie de refúgio de todos os problemas que enfrentava dentro e fora do colégio. Ali jazia sua própria verdade, sem medos e preconceitos. O verdadeiro adolescente, oculto de todos que o cercavam, sem exceção.

Atirou a mochila na cama e retirou a camisa, parando diante do espelho. Arrumou o cabelo ondulado, retirou os óculos e recostou a testa no espelho.

— Cê sempre faz merda, hein, parceiro? — desabafou diante da imagem. Seus quase cinco graus de miopia o impediam de ver a coloração castanha dos olhos.

As palavras de sua prima ainda ressoavam no cérebro congelado. Aquilo a faria mudar?

Bateu a cabeça três vezes e mirou no mural preto, onde residiam inúmeros desenhos da garota feitos por ele, a lápis. Era seu passatempo favorito.

Colocou os óculos e aproximou-se devagar analisando cada um dos rostos moldados, e sorriu, admirando-a. Naquele enquadramento retangular habitava a morada de seus sentimentos desconhecidos, que permeavam cada parte do seu corpo.

Os dedos tocavam no papel como se a tocasse. Ele pegou seu desenho favorito. Era como se tivesse vida naquela folha amarelada. Ela o olhava diretamente e o sorriso discreto na boca carnuda parecia se mover. O que poderia ser aquilo?

Uma infinidade de dúvidas o açoitava, retalhando suas certezas inexoráveis com chicotes, empunhados pelo carrasco mais impiedoso: sua consciência. Os sentimentos que ocultava residiam naqueles desenhos, por isso aquelas paredes permaneciam em segredo.

Sentou-se e voltou a mirar o espelho. Quem segurava o papel e olhava de volta? Quem era o verdadeiro Pedro? O sentado na cama ou o reflexo que a sociedade assistia? Somente o espelho tinha a resposta para suas perguntas. No entanto, haveria coragem para aceitar a verdade? Ou permanecer estagnado em seus divertidos dias até dormir em seus segredos, apesar de visceral, era melhor?

Abaixou a cabeça e firmou os dedos no papel, buscando a concentração necessária para vivenciar dias melhores. E, ironicamente, a resposta estava em suas mãos, desenhada.

— Pedro! —Henrique, o pai do adolescente, chamou da sala.

Era um adulto de semblante jovem, risonho, muito parecido com o filho, um pouco mais claro em sua tonalidade. Alto, magro e bem vestido. Não usava óculos, apenas aparelho ortodôntico.

O garoto regressou de seu transe, colocou o desenho no lugar e encaminhou-se até o pai.

— Fala, coroa! — brincou Pedro.

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