Oito

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      Cassandra estava sentada, esperando ansiosamente pelo grupo de assassinos. Ela era uma garota baixa, por isso suas pernas ficavam penduradas na cadeira. Na longa mesa a sua frente descansava um belíssimo banquete. Um frango assado dourado estava pousado em uma travessa de rúcula verde fresca. De um lado, um pote enorme de purê de batatas, e, em outro, uma cesta de pães caseiros quentinhos. Logo a sua frente, um creme de milho brilhante e cheiroso estava em uma vasilha de vidro. Ela tinha arrumado a mesa mais cedo, colocado talheres e pratos lascados para todos.

      "Não tem porque ficar nervosa" Eldritch tentou acalmar.

     — Mas é claro que tem! Quer dizer, e se eles não gostarem da comida?

      "E daí se não gostarem? E, além do mais, olha esse frango! Ah, se eu tivesse uma boca..."

      — Ou um estômago.

      "É. Preciso disso também."

      — Eu só espero não me tornar alguém substituível... — A garota suspirou. — E se...

      "Shh! Cala a boca, eles estão descendo aí!"

      Cassandra olhou para o amigo de cenho franzido enquanto o grupo barulhento de assassinos desciam as escadas.

      — Whoa! — Ben falou, pousando os olhos na mesa pela primeira vez.

      — Isso sim é comida, porra... — Jeff murmurou, e, por mais orgulhoso que fosse, Masky teve que concordar.

      A garota sorriu, um tanto aliviada, enquanto todos encontravam seus lugares na longa mesa. Eles começaram a se servir, ávidos. Até mesmo ClockWork, que costumava ser rabugenta, deu um suspiro de prazer. Cassandra provou o creme de milho e notou um sabor realçado de pimenta, o que complementou o frango perfeitamente.

      — Tudo está divino, querida! — Ann exclamou. A menininha de vestido rasgado e rosto sujo acedeu veemente, as bochechas cheias.

      — Agora, p-pelo menos, temos um motivo para te d-d-deixar viver. — Toby expôs, um tanto mal-humorado.

      Aquelas palavras ásperas surpreenderam Cassandra, principalmente vindas de Toby, que tinha sido gentil até aquele momento. Ela deixou seu garfo cair sob a mesa. Desculpando-se, agachou-se para pegá-lo.

      — Isso é... Por enquanto, né? — Ela ouviu a voz de Ben rir.

      Em um ímpeto, levantou-se, batendo a cabeça com tudo na quina da mesa.

      — Ouch! — Grunhiu.

      "Cassie, você tá bem?"

      — Acho que sim... — Ela se sentou ereta novamente, mas sua cabeça ardia.

      — Querida, essa foi uma batida e tanto, hein? — Ann falou, parecendo preocupada. — Lá em cima, no banheiro do corredor, tem uma caixa de curativos. Quer que eu pegue para você?

     — Ah, não precisa. Eu vou.

     E, pedindo licença, ela subiu os degraus. Em meio aos seus cabelos, um pequeno corte tinha sido feito e um fio brilhante de sangue escorreu pela sua nuca, manchando levemente a gola da enorme camiseta preta. Nenhum dos assassinos realmente notou aquilo, uma vez que estavam concentrados demais em seus jantares, mas um em particular não conseguiu tirar os olhos da garota.

     Toby viu o sangue escorrer e mordeu os lábios, tentado. Ele casualmente alcançou a enorme faca que estavam usando para cortar o frango e a escondeu atrás das costas, também pedindo licença para sair.

A Parábola de CassandraOnde histórias criam vida. Descubra agora