— S-Slendy! Ainda p-por aqui? — Uma voz masculina alegre perguntou de trás da criatura alta.
Era um menino muito estranho, tão pálido que a ele chegava a ser cinza, os cabelos eram bagunçados, castanhos, e ele usava visores de aviador na cabeça. Em frente à boca, uma máscara cinzenta que simulava um sorriso, e, em suas mãos, um par de machados sujos.
Cassie aproveitou que o monstro estava distraído e voltou a falar com Eldritch.
"Eu não vou a lugar nenhum com essa criatura." Ela falou. "Ele é perigoso!"
— Ainda não sabemos disso. — O demônio rebateu, os pés ainda pendurados, chacoalhando. — Além do mais, pode ser nossa melhor saída. Não esqueça que a polícia ainda está atrás da gente.
Cassandra cruzou os braços. Como poderia esquecer? A cada segundo, mais flashes apareciam em sua memória. Os rostos apavorados, a pele queimada, os labirintos de chamas.
— Hm... Eu e-estou atrapalhando alguma c-coisa? — O garoto perguntou.
— Não está não, bonitinho. Estávamos apenas conversando. — Cassie fuzilou Eldritch com o olhar. — O que é? Ah, para. Eu sei que você o achou bonitinho. Eu senti aqui. — Colocou a mão sobre o peito.
"Isso não vem ao caso!" Ela sentiu as bochechas esquentarem.
— Que gracinha... — O sarcasmo transbordou da voz do demônio.
"Vamos logo embora!"
— Não! Vamos seguir essas pessoas. É a nossa melhor opção. Cassie, você não achou mesmo que sobreviveríamos sozinhos na floresta, achou? — A garota mordeu os lábios. — Pelo amor... Você não pode estar falando sério. Acha que fingir ser alguém que não é vai te safar dessa?
"Eu não vou com eles." Pontuou, teimosa.
— Então azar o seu. Terei esse corpo inteiro para mim.
"De jeito nenhum!"
— Você q-quer que eu faça o quê? — O garoto estranho gritou, chamando a atenção dos dois. — Mas..., mas Slendy! Ela é t-tão... — Ele olhou para o rosto de Cassandra/Eldritch. —...normal. Tão básica, chata, entediante.
— Ei! — Eldritch e Cassandra falaram um uníssono.
— Além do mais, v-você sabe muito bem q-que no m-momento que pisar naquela casa, Jeff vai atacá-la. — Mais zumbidos do monstro. — M-mas... Argh! — bufou o garoto. — Tudo bem, tanto faz. Eu a levo em s-segurança até a cabana, mas é só isso!
A criatura pareceu satisfeita, pois pousou cuidadosamente Eldritch no chão. Ele girou, esticando as pernas pela primeira vez em semanas. Era muito bom estar em um corpo de novo, principalmente um humano.
— E aí? Para onde vamos? — O demônio soou ansioso e o garoto revirou os olhos.
— Vamos para P-Proxy. Não é m-muito longe daqui, mas devemos ir andando. Consigo escutar as s-sirenes das viaturas daqui.
"Eldritch, eu estou falando sério. Devolva o meu corpo."
— E o grandão? Ele não vem? — O companheiro a ignorou, seguindo o garoto, que caminhava rapidamente por entre os ramos das árvores.
— O Slendy? Ele d-disse que tem uns lances para pegar.
— Slendy?
— SlenderMan. Ah, n-não o chame disso. Ele não gosta.
— E por que você chama?
O garoto começou a andar de costas, olhando para os olhos azuis dela.
— Eu sou especial. — Disse com uma piscadela.
"Eldritch! Eu vou te expulsar daí!"
— Quero ver você tentar!
— Com que está f-falando? — O garoto pareceu tenso.
— Só uma parasita qualquer.
Cassandra bufou, sentindo-se incapaz. Eldritch era um demônio de quinhentos mil anos, com poder acumulado e transbordando conhecimento. Já ela, não. Uma órfã solitária, uma garota comum que nem sabia o que era ser adulta direito. Se ele realmente quisesse roubar o corpo dela, provavelmente não teria nada para ser feito.
— O q-que está havendo?
— Relaxa aí, lenhador.
— Lenhador? — o garoto pareceu ofendido.
"Tá." Ela suspirou. "Mas, por favor, não faça nada estranho."
Não tinha problema ele ficar no corpo dela só por mais um tempinho, certo? Ela queria dizer que era um ato de generosidade, mas a real é que ela estava com medo. Ver as coisas de cima e vivenciá-las eram coisas completamente diferentes.
— E então, bonitinho? — O demônio empinou os seios e olhou sedutoramente para o garoto. — Qual o seu nome mesmo? — Cassandra teria escondido o rosto se não soubesse que estava invisível.
— Hm... — Ele ergueu uma sobrancelha. — T-Toby.
— Olá T-Toby. Eu sou Cassandra, mas pode me chamar de Cassie.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Parábola de Cassandra
Misteri / ThrillerCassandra é uma mulher órfã que presenciou e foi culpada pelo assassinato dos pais. Após ter passado quase dez anos em uma instituição para os mentalmente desordenados, fugiu para iniciar uma nova vida ao lado de seu companheiro, um demônio parasita...