02. Bela adormecida, ou o sono dos justos

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Era fim de expediente e Ana sentia que um buraco iria se formar a qualquer momento em seu estômago.

Respirou aliviada assim que pôde tirar o vestido verde e todos os seus componentes, e o banho gelado que tomou em seguida ajudou a aliviar sua tensão. Assim que saiu já pronta, do vestiário, encontrou suas duas amigas em uma conversa animada, elas provavelmente discutiam o próximo local de almoço.

Teriam algum tempo antes de retornarem ao trabalho.

- Então, pra onde vamos? – perguntou direta assim que se aproximou.

- Vamos para a casa da Amanda, a mãe dela fez lasanha. – Camila respondeu fazendo Ana sorrir pelo fato da amiga quase pular de animação, não era segredo para ninguém o quanto ela amava todos os tipos de massa.

- Pois vamos logo, a Amanda está nos esperando. – Diana avisou apontando para uma garota baixinha de traços asiáticos. Ela fazia a Mullan, para a alegria da maioria das crianças que amavam ver a encenação de luta que ocorria dia sim dia não entre a princesa guerreira e um soldado contratado três vezes por semana por seu Eliseu, o dono de tudo.

Mas antes que qualquer uma das três chega-se perto de Amanda, uma garota loira passou esbarrando em Diana e lhe lançou um olhar irritado antes de continuar o seu caminho. Ela fazia a Cinderela e era conhecida por seu comportamento nem um pouco amigável.

- O que foi que acabou de acontecer? – Camila perguntou confusa assim que as quatro pisaram do lado de fora da empresa.

Diana respirou fundo e lançou um último olhar na direção onde havia garota sumido e se virou para as amigas que esperavam por uma resposta ansiosas.

- Eu posso ter dito que não queria mais sair com ela. – respondeu olhando fixamente para a sua frente.

- Mas por quê? Vocês brigaram ou algo assim? - perguntou Amanda.

- Não foi por briga Madá, só que ela queria algo sério e eu não nem um pouco a fim de nada dessa forma nesse momento. – confessou olhando para as três de forma desconfortável as fazendo entender que ela não queria mais tocar no assunto.

Ela só queria chegar em sua casa, tomar um banho relaxante, vestir seu pijama mais confortável e passar o resto das horas com um prato de macarrão instantâneo na mão em frente a TV, mas sua tão planejada vida não concordava com isso já que ela mal...

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Ela só queria chegar em sua casa, tomar um banho relaxante, vestir seu pijama mais confortável e passar o resto das horas com um prato de macarrão instantâneo na mão em frente a TV, mas sua tão planejada vida não concordava com isso já que ela mal teve tempo de parar em casa e se pôs a correr para não perder o ônibus em direção a faculdade.

Assim que colocou os pés dentro do ônibus sentiu o vento gelado do ar condicionado, pelo menos ele não estava tão lotado aquele início de noite. Ela viu um lugar vago ao lado de uma senhora que olhava para a janela de cara fechada, seguiu em direção a ela, mas não pode deixar de notar que ela torceu o nariz assim que ela sentou. Respirou fundo e também virou a cara, não estava com um pingo de paciência de ter que discutir com gente ignorante àquela hora da noite.

Assim que chegou em seu ponto agradeceu aos céus por poder sair do lado daquela mulher. Desceu correndo e quando chegou no portão parou por alguns minutos tentando recobrar o ar.

Se desencostou da coluna de pedra e começou a caminhar ignorando os olhares divertidos de Seu Ronaldo, o porteiro.

Caminhou mais alguns metros até a escada e subiu os degraus de dois em dois visivelmente apressada. Dobrou em alguns corredores e abriu um sorriso assim que viu seus amigos e alguns colegas de classe parados em frente a porta da sala.

- Finalmente, achei que abririam essa porta e nada de você chegar. – seu amigo nada dramático falou antes de puxá-la para um abraço de urso.

Ela se separou sorrindo e levantando o olhar para encontrar os olhos cor de mel que faziam todas as garotas do Santa Maria se derreterem em sua presença, bom, quase todas até porque ela e Luna, sua outra amiga, tinham um "feitiço" segundo Lucas que não as fazia notarem a sua importância para o mundo.

- E eu não existo? – escutou uma voz irritada a chamar e se virou para ver a garota baixa de cabelos roxos a olhar impaciente. Revirou os olhos de forma teatral, estava cercada de criaturas dramáticas. - Mas como foi o trabalho hoje? - ela perguntou após o abraço.

- Cansativo como sempre. Tive que cantar novamente, mas pelo menos não teve vômito hoje.

- Os acontecimentos do seu trabalho só me dão mais certeza de nunca ter filhos.

- A vida é uma caixinha de surpresas meu querido amigo. Quem sabe em um dia desses uma dessas suas ficantes não aparece com uma criança no colo?

- Larga de jogar praga Luna. Eu sou galinha, mas não sou burro.

- Corrigindo, você é rodado, mas não tão burro.

- Garota...

- Garota nada. Bora calar a boca vocês dois? Agora. - Ana mandou antes que eles começassem outra discussão sem nexo. 

- Se ela não fosse tão chata.

Mas antes que Luna protestasse, uma senhora apareceu para abrir a porta apressada se virando em seguida. Ana olhou para onde a senhorinha ia embora quando a professora do dia apareceu no fim do corredor fazendo o restante dos alunos entrarem na sala depressa.

Ana piscou rapidamente os olhos para evitar o cansaço e os fechou com força em seguida para aliviar o começo de uma dor de cabeça, e tentou se concentrar na mulher que já entrava na classe falando sobre outro artigo para eles fazerem.

(Des)encantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora