06. Branca de neve, ou a teoria do beijo

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  05/06

- O que eu faço?

- Beija né, Ana. - Camila falou a olhando descrente enquanto tentava acalma-la para o encontro.

O vestiário quase vazio dava mais privacidade para a conversa.
Luís a esperava do lado de fora para tomarem algo após o trabalho. Desde que ele havia a convidado para sair no dia anterior ela não conseguia parar de visualizar o desastre que iria ser.

- Eu nunca namorei ninguém Camila. Nem beijei! - lembrou irritada terminando de guardar seus pertences em uma bolsa. Ela guardava tudo de forma desajeitada e retirava suas peças de roupa, recolocava, dobrava, amassava e desistia jogando tudo de qualquer jeito. Parou frustada tentando respirar normalmente. - Eu sei que tenho vinte anos e que a sociedade manda que não seja assim, mas eu sou e estou uma pilha de nervos com isso!

- Calma amiga, assim você vai infartar. - Diana pediu preocupada a segurando de forma delicada pelos ombros. - Inspira e expira Ana, faz comigo.

- Presta atenção criatura. - a loira começou interrompendo Diana que a olhou irritada. - Vai ser estranho e se tiver sorte não vai ser ruim, mas é só o primeiro que vai ser desse jeito, depois vai ser definitivamente melhor. Vai por mim.

Ela quis acreditar na amiga e em seu sorriso malicioso, mas o nervosismo sempre foi seu nome do meio, bem depois do pessimismo.

Não é que nunca apareceu alguém para beija-la, só que Ana nunca teve vontade e nem viu necessidade de trocar o aconchego de seu quarto e carinho dos seus livros por uma noite em pé rodeada de pessoas vazias

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Não é que nunca apareceu alguém para beija-la, só que Ana nunca teve vontade e nem viu necessidade de trocar o aconchego de seu quarto e carinho dos seus livros por uma noite em pé rodeada de pessoas vazias. Tudo bem, ela poderia estar exagerando um pouco, mas nunca sentiu vontade de beijar alguém, pelo menos alguém que estivesse ao seu alcance.

Mas assim que colocou os olhos em Luís e viu o sorriso acolhedor dele, ela repensou seriamente em suas convicções.

- Podemos ir? - ele perguntou segurando a mão dela e entrelaçando seus dedos. Ainda bem que Camila levaria todas as suas coisas para casa, e com toda a certeza esperaria junto com Rodrigo para saber todos os detalhes quando ela voltasse.

Como o tempo dos dois era curto eles optaram por tomarem algo na praça perto da empresa e aproveitaram também que na quarta-feira eles sempre saíam 1:30 mais cedo.

- Confesso que achei que você não aceitaria. - ele quebrou o silêncio que estava para se tornar incômodo entre eles, ela o encarou com um sorriso.

- Por que eu não aceitaria?

- Você nunca aceita Ana. O Fábio já te chamou para sair, o Carlos e o Vinicius também. Pensei que eu só seria mais um que levaria um fora.

- Mas você me pediu na frente das crianças! Isso foi golpe baixo.

- Temos que usar as armas que possuímos, não é mesmo? - perguntou mexendo as sobrancelhas de cima para baixo a fazendo sorrir.

- Ainda bem que você usou. - ela só percebeu o que havia falado quando viu o sorriso dele aumentar. Sorte que chegaram logo a praça e ela teve algo para se distrair ou seria capaz de abrir um buraco no chão por conta da vergonha.

A conversa fluía de forma natural entre eles e ela agradecia por ele ter assunto, diferente dos outros.
Carlos só sabia falar do carro novo que havia comprado, e ela tinha plena certeza de que ele trabalhava com algo ilegal. Não era possível um príncipe fajuto daquele só comprar produtos de marca.

Já Vinicius era pegajoso demais e tinha uma grande necessidade de autoafirmação que a deixava louca.
Agora Fábio era seu amigo e argh ela nunca veria os dois juntos. Era simplesmente anti-natural para ela.

Mas parecia que Luís era diferente e ela queria acreditar que era. Tentava silenciar a voz irritante em sua mente que estava sempre à procura de algum defeito, ela se autossabotava e tinha plena consciência disso.

- Mas como anda a faculdade? - ele perguntou após engolir um pedaço de seu sanduíche.

Eles acabaram encontrando uma barraquinha que vendia ótimos pratos, o que despertou a fome invencível de Ana.

- Está indo bem. Já estou entrando no meu terceiro período e até agora não me vejo trabalhado com outra coisa a não ser com as palavras.

- Isso é muito bom. Eu nunca encontrei algo que quisesse fazer, não me vejo preso em uma sala, sentado em uma cadeira durante horas e aprendendo sobre assuntos enlatados que no final não fazem o menor sentido. - ela arqueou a sobrancelha surpresa diante de tal pensamento o fazendo sorrir. - Opinião própria.

- Gosto da sua opinião. Bem revolucionária. - ela falou trocando um sorriso doce com ele.

No início da noite eles andavam em direção ao ponto de ônibus dela e antes de chegarem na parada ele cessou a conversa de repente e segurou novamente suas mãos.

Ana percebeu o que estava acontecendo assim que ele a puxou para mais perto de si.
Era estranho estar a um passo de fazer algo que todas as princesas fazem nos filmes. Aurora e Branca de neve literalmente acordaram com um beijo, que elas nem pediram, mas que no fim salvou suas vidas.
Mas ali estava ela pensando em contos de fadas e notando que sempre havia esperado por um príncipe. Pode parecer clichê, mas ela sempre se imaginou beijando alguém por quem ela estivesse apaixonada e no fim aquele alguém fosse se tornar único na vida dela. Mas ela estava aprendendo de forma dura que nada é como planejamos e ali, na frente dela, estava um cara legal que queria ficar com ela e não um príncipe encantado que a salvaria de tudo e mudaria sua vida.
Ali ela percebeu que...

Foda-se o príncipe.

Pensou antes de puxa-lo pela gola da camisa para um beijo que o surpreendeu, mas Luís logo se recompôs e apertou a cintura da jovem mulher à sua frente. Ela soltou sua blusa e passou os braços ao redor do pescoço dele.

Camila tinha razão, o primeiro era estranho, mas os que se seguiram fizeram valer a pena.

(Des)encantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora