07. Mulan, ou a resistência contra opiniões alheias

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- E então?

Ana deu de ombros diante da pergunta da amiga. Camila e Diana a encaravam ansiosas para saber sobre o encontro e tudo o que tinha acontecido depois. Até porque Ana não havia voltado para casa, ela seguiu direto para a faculdade, o que resultou em algumas folhas de caderno emprestadas e canetas que ela tinha certeza de que iria acabar esquecendo de devolver.

Após contar tudo o que havia acontecido, Camila repetiu a pergunta.

- Eu não sei. – ela respondeu sincera vendo o olhar confuso das duas à sua frente.

- Como você pode não saber?

- Não é tão simples assim Diana. Eu só não sei o que eu deveria ter sentido.

- Você gostou do beijo, não foi? – Camila perguntou vendo-a concordar. – Então não tem mais nada para sentir. Você gostou, repetiu e vai repetir quantas vezes quiser, simples assim.

- Argh. Não é tão simples assim, não pra mim. – afirmou se levantando do banco do vestiário em que estavam e saindo para a área lotada de crianças. Seu Eliseu já as esperava impaciente e elas andaram juntas até um canto onde se encontravam as crianças menores, que com certeza não iriam se intrometer na conversa.

- E o que você queria ter sentido? – Diana perguntou assim que as babás que cuidavam das crianças se retiraram aliviadas após as verem.

- Parece idiotice, mas eu queria ter sentido aquele frio na barriga ou o nervosismo bom que todos falam. Eu fiquei nervosa claro, mas depois passou e por mais que o beijo dele seja bom e que a tarde de ontem tenha sido ótima, eu não tenho mais vontade de ficar com ele. O Luís se mostrou um grande amigo e sei que ele gosta muito de mim, mas eu não gosto dele desse jeito e acho injusto continuar com algo que eu sei que vai dar em nada. 

"Eu me conheço e vocês podem dizer que é a minha auto sabotagem acabando com uma chance de ser feliz, mas eu não vou estar feliz se ficar ao lado de alguém que não merece só metade do meu carinho, então agradeceria se vocês não me criticassem e tentassem entender o meu lado. Por favor." – pediu após o monólogo percebendo que as duas se mantinham caladas contra a própria vontade.

Ela queria encontrar alguém, mas tinha certeza de que ainda não estava preparada. Mas ela só possuía vinte anos, tinha tanta vida pela frente e principalmente no presente. Estava atolada de trabalho e responsabilidades que não tinha tempo para algo sério, nem casual ou esporádico. Ela só queria continuar como estava e não ter mais ninguém além dela e do irmão com quem se preocupar. Sua mente era ferrada demais para deixar outra pessoa entrar.

E isto foi tudo o que disse para Luís assim que ele a puxou para conversar. Ana sabia que ele iria dizer que o dia anterior tinha sido perfeito e que ele gostava tanto dela que queria repetir o passeio outro dia, ela notou como os olhos dele brilharam quando ela aceitou a mão estendida e se sentiu mal quando o mesmo brilho diminuiu aos poucos quando ela terminou a conversa. Ele ainda aceitou ser seu amigo, até porque seria muito mais estranho se eles não se falassem já que eram o par um do outro, mas ainda assim seria estranho e demoraria um bom tempo para que tudo voltasse ao normal, ou o mais normal possível.

Enquanto isso ela ocupava sua mente com as conversas animadas que tinha com as crianças sobre bonecas, príncipes, viagens e o quão injusto seus pais eram por não as deixarem jogar futebol. Às vezes ela se surpreendia com a força de vontade daqueles pequenos seres humanos, eles ainda tinham muito o quê ensinar para o mundo.

 Às vezes ela se surpreendia com a força de vontade daqueles pequenos seres humanos, eles ainda tinham muito o quê ensinar para o mundo

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- Então, você está solteira novamente?

Ela revirou os olhos diante da pergunta de Lucas e se virou na carteira para encará-lo. O professor daquela noite havia saído por alguns minutos e ela estava conversando com alguns amigos e acabou contando que nada dera certo entre ela e Luís.

- Eu sempre estive solteira Lucas.

- Mas você ficou com um cara e você nunca fica com alguém, então achei que você iria querer algo sério.

- E porque ele não poderia querer algo sério comigo? Eu posso muito bem ter dito que queria algo casual ou sem rótulos, como a Camila e o meu irmão, e ele não ter aceitado.

- Por favor Ana, você vive literalmente de contos de fadas. Se você quisesse apenas algumas ficadas já teria aceitado minha proposta há séculos. – ela o encarou irritada e Luna percebeu que nada de bom iria sair daquela conversa.

- Sabe por que eu nunca aceitei ficar com você? Porque por mais que eu quisesse apenas ficar com alguém eu iria escolher pelo menos um ser humano decente que não tivesse o risco de me passar alguma doença.

- Isso só aconteceu uma vez! – exclamou indignado chamando a atenção de boa parte da sala. – E o fato de você nunca ter ficado comigo é porque ainda espera o seu príncipe encantado e não tem coragem de viver algo real.

- Você é muito idiota. – falou magoada e Lucas notou que havia falado demais. Mas antes que ele pudesse pedir desculpas ela o cortou. – Eu nunca fiquei com você porque somos amigos, ou achei que fôssemos, e por mais idiota e inconsequente que você seja eu ainda confio na sua palavra. Mas eu não vivo nos contos de fadas e você sabe o quanto a minha vida é desencantada, então agradeceria se você não acabasse com a minha pouca paz. – pediu se virando para frente e dando a conversa por encerrada.

Luna encarou Lucas com raiva e ele passou a mão no rosto frustrado e tendo certeza de que demoraria para Ana perdoá-lo. Já ela respirava fundo tendo noção de que aquele dia tinha esgotado totalmente suas energias.

(Des)encantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora