Acenar, sorrir, fazer uma pequena reverência, sorrir ainda mais e acenar novamente.
Era essa a sua rotina quase todos os dias.
Se sentia como uma boneca em uma exposição, não poderia sair por mais de dez minutos de seu posto e quando voltasse teria...
- Ele foi idiota, mas está arrependido de verdade Ana.
- Não.
- Eu conheço ele e você também. Sabe que eu estou falando a verdade.
Ana respirou fundo e continuou seu caminho ignorando o gritinho irritado de Luna.
Lucas ainda tentava falar com ela e já havia deixado milhares de bilhetes com pedidos de desculpas e até mandara um buquê de rosas mais cedo no seu trabalho, o que gerou perguntas insistentes por parte de Luís que a deixou ainda mais impaciente.
O fato é que ela não estava mais com tanta raiva assim de Lucas, mas possuía algo chamado orgulho que não a deixava voltar a falar com ele. O ignorava e quando falava com ele, por obrigação, o tratava mal. Ela percebeu que estava descontando toda a sua frustração no amigo e isso era péssimo, mas não conseguia evitar.
Assim que chegou no ponto não demorou muito para seu ônibus chegar e mesmo indo em pé não conteve o alívio de que logo chegaria em casa.
Mas assim que abriu a porta do apartamento deu de cara com uma cena que estava quase acostumada a ver, quase.
- Eu sinceramente preferia que vocês fizessem isso na sua casa Camila. - reclamou ao fechar a porta e ligar a luz da sala.
Sua amiga e seu irmão separaram o beijo rapidamente e ele logo saiu de cima da loira, que caiu no chão pelo susto.
- O que você tá fazendo aqui?
- Sério Rodrigo?! Eu moro aqui caso você tenha esquecido. - respondeu irônica sentando na cadeira ao lado.
Camila já estava novamente sentada no sofá e massageava o braço que era inspecionando por Rodrigo.
- Mas você não ia sair com a Luna e o Lucas depois da aula?
- Ainda tô sem falar com o Lucas e não tive vontade de sair também. - respondeu a amiga e prevendo seu discurso logo a cortou. - Também tô sem paciência pra discurso a essa hora da noite.
- Desculpe-me senhorita mal humor.
- Nós pedimos uma pizza Aninha, já tá pra chegar. - Rodrigo avisou assim que ela levantou para ir em direção ao quarto.
- Só vou banhar e tentar não dormir.
Mas assim que sentiu a água quente tocar seu corpo e depois o pijama macio sobre sua pele ela desistiu da ideia de jantar e resolveu ir dormir. Só acordou com a vibração de seu celular horas mais tarde. Abrindo os olhos ela notou que sua porta ainda estava aberta e a sala já se encontrava escura. Seu irmão certamente já estaria dormindo e ao olhar as horas viu que já eram quase duas da manhã.
Seu estômago deu sinal de vida e ela se forçou a levantar, ao chegar a cozinha e ligar a luz viu um bilhete grudado na porta do micro-ondas.
'Seus pedaços estão aqui caso você acorde de madrugada.'
Sorriu satisfeita e colocou a pizza para esquentar, resolveu olhar suas mensagens e jurou que mataria Luna em todas as suas reencarnações.
"Adivinhaaa Encontro duplo. Eu, você, o Tiago e o primo dele Diz sim, por favor"
Leu e releu a mensagem tendo certeza de que ela já havia aceitado por ela. Até porque devia um favor a Luna e pelo visto ela já estava cobrando.
"OK, mas se tiver dando errado eu vou embora"
A reposta veio em segundos.
"Vai dar errado não, pelo menos o meu. O Tiago é um fofo"
Ana sorriu ao pensar que a amiga estaria falando até aquela hora com seu mais novo namorado. Esperava que tudo desse certo daquela vez, Luna tinha uma séria mania de ficar com quem só a dava dor de cabeça.
Lembrou do seu jantar atrasado e logo se pôs a saborear seus pedaços de pizza sabor calabresa e queijo.
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- Eu não posso fazer mágica meu amor. Já viu algum filme em que eu faço mágica?
Observou Camila falar calmante com um menininho de aproximadamente seis anos. Ela apoiava as mãos nos joelhos e falava com ele quase da mesma altura já ele a encarava irritado e Ana não duvidava que daqui a alguns segundos esse mesmo olhar iria estampar o rosto da loira.
- Você só dorme. Deveria fazer pelo menos uma mágica pra compensar.
- Compensar?! Você sabe pelo menos o que significa essa palavra? - perguntou se levantando vermelha.
- Sim, minha mãe diz que eu e minha irmã precisamos ser cultos. Nós somos gêmeos, mas não iguais. - respondeu ainda de braços cruzados e Ana queria entender o sentido daquela afirmação, mas ele logo voltou ao assunto. - Por que você é uma princesa? O que você fez de legal pra ser uma princesa?
- Olha que até eu queria ter essa resposta. - Ana sorriu ao ver que Camila também estava em dúvida. Ela puxou o menino pela mão para se sentarem em um sofá perto e eles deram início a uma conversa sobre o que define uma princesa.
Ana resolveu procurar alguma criança para entreter, mas acabou entrando em uma conversa com algumas mães que estavam no local.
- Eu sinceramente não sei por que ele não pode trazer eles. Não vai matar ninguém. - uma mulher negra de longos cabelos lisos falou irritada. Ana descobriu que ela era mãe do menininho que conversa com Camila e sua outra filha brincava com Diana um pouco mais afastada.
- O Luís Otávio é do mesmo jeito. E ainda tem a audácia de reclamar quando eu trago o Otávio Júnior, que é meu enteado, com a Lívia. - dessa vez foi uma mulher ruiva com algumas sardas pintadas pelo rosto que falou. Ela possuía alguns quilos a mais, mas sua autoconfiança era tão gritante que Ana não conseguiu segurar o sorriso admirado quando a viu.
- Mas Manuela, o Otávinho vem arrastado já o Caio adora. Ele diz que não vê diferença nas brincadeiras, até porque aqui é cheio de comida. - a mãe dos gêmeos falou sorrindo e Ana descobriu depois que seu nome era Luana.
- Melhor do que deixar ele em casa sozinho. - a mulher rebateu olhando para seu enteado em um sofá distante que estava com os olhos vidrados no celular. - Acho que vou me separar do pai dele. O que você acha Ana?
A princesa engoliu seco e antes de pensar em responder seu Eliseu apareceu e lhe lançou um olhar irritado que a fez se levantar na mesma hora.
- Acho que você deveria fazer o melhor para você e as crianças. - respondeu apressada passando a mão pelo vestido para desamassa-lo. - Aliás, se você estiver bem eles estarão bem.
Recebeu um sorriso agradecido em resposta e logo seguiu para a cena que lhe chamava atenção.
Uma garotinha magra puxava o cabelo de uma definitivamente mais velha que ela. Ana correu antes que choros fossem ouvidos, apenas mais uma tarde normal.
XXX
Feliz Natal adiantado.
Espero que essa data mágica dê um up nos nossos ânimos e desejo a vocês um fim de ano renovador e cheio de leituras maravilhosas!
