05. Ana, ou por um momento congelada

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Sentada no tapete da sala enrolada em um cobertor, ela encarava a tela da televisão com um sorriso saudoso.

Lágrimas silenciosas escorriam constantemente de seu rosto e as lembranças se tornaram loopings em sua mente.

Sentia falta de seu pai e por incrível que pareça os contos de fadas tinham a capacidade de aproxima-la dele. Lembrava das noites que dormia embalada pelo som de sua voz, das tardes que se sentia triste e que esperava seu pai chegar do trabalho para passarem por mais uma maratona de filmes e sorriu principalmente quando lembrou dos resmungos do irmão que queria jogar vídeo game.

Poderiam dizer que seu pai a criou para se tornar uma princesa, uma criança educada e que acatava ordens sem problemas, mas isso seria mentira.
Seu pai, o homem mais sincero que ela conheceu, trabalhou duro para criar dois filhos após sua mãe deixá-los e ensinou as mesmas regras para os dois.
Mas ela sentia que ele queria que ela se transformasse em uma grande pessoa, e por mais que contasse todos os contos de fadas possíveis para ela, ele sempre terminava dizendo que ela não precisava de nenhum príncipe para resgata-la e que por mais difícil que o mundo pareça ele sempre melhora em algum momento.

E ela estava à espera desse momento, ali encostada no sofá e assistindo A Bela e a fera pela milésima vez ela queria que tudo melhorasse.
Queria ele de volta, queria voltar a ver o sorriso no rosto de sua avó. Queria sua família reunida novamente.

- Ei. - se assustou com a voz e ao virar para o lado viu suas duas amigas em pé em frente a porta aberta. Ela nem notou quando elas chegaram, mas ficou confusa quando viu a chave na mão da loira.

- Seu irmão. - Camila respondeu decifrando sua expressão.

Diana correu em direção a ela e a abraçou apertado enquanto a outra fechava a porta novamente.
Ana não soube o por que delas estarem ali, mas agradecia. No fundo não queria ficar realmente sozinha, mesmo que desse todos os sinais do contrário.

- Eu lembrei que dia era hoje e sinto muito por ter me esquecido. - a ruiva falou com a voz embargada e se afastou para olha-la nos olhos, Ana somente deu de ombros e a puxou para outro abraço antes que ela chorasse também.

- Eu falei com o Rodrigo e ele estava na missa, mas pediu pra avisar que vai demorar algumas horas porque a sua avó está prendendo todo mundo lá na casa dela. - Camila informou sentando ao lado delas e puxando a mão de Ana para si.

- Eu não consigo ir ainda. Sei que a minha vó faz tudo isso porque não quer passar o dia de hoje sozinha e me sinto muito mal de não ficar com ela, mas eu não consigo, não ainda.

- E não precisa. Tudo tem seu tempo Ana. - Diana falou enxugando as lágrimas da amiga que abriu um sorriso triste.

- Meu pai sempre dizia que existem momentos que não se apressam e eu acho que esse é um deles.

- Não consigo imaginar o que você está sentindo, sei que ando  bem distante dos meus pais, mas não quero que nada aconteça com eles. Mesmo quando a minha mãe insiste para que eu curse medicina ou meu pai fica horas e horas falando que uma Albuquerque não deve se rebaixar a um emprego medíocre que te faz servir outras pessoas. 

Ana e Diana encararam a amiga que tentava controlar a respiração. 

- Outra briga?

- Ele apareceu lá na Contos de fada depois do expediente, mas não vamos falar sobre isso agora. - deu o assunto por encerrado abrindo um sorriso forçado em seguida.

 - Nós poderíamos colocar outro filme. - Diana sugeriu tentando mudar um pouco a atmosfera da casa, recebeu em troca sorrisos agradecidos.

- Que tal um de ação?

- Ação não Camila. Podemos ver romance.

- Não, não e não. Eu estou vendo romance e animação faz quase três horas e não quero ver mais. Estou com a Camila.

- Perdeu lady. - a loira sorriu animada ao ver a cara emburrada da amiga.

Ana suspirou e se deixou levar pela energia das amigas, seria eternamente grata por elas em sua vida.

Ana suspirou e se deixou levar pela energia das amigas, seria eternamente grata por elas em sua vida

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04/06

- Eu poderia ser presa por agressão? - sorriu ao escutar a voz de Patrícia, que fazia Ana, irmã de Elsa. 

- O que foi agora?

- Mais um pai perguntando se eu não quero conhecer o castelo dele. Sinceramente mulher, eu já estou cheia desse povo e vou pedir demissão. - a negra revirou os olhos diante da afirmação, Patrícia reclamava todos os dias e ameaça sair pelo menos duas vezes por semana, mas já estava na empresa há quase cinco anos. Antes ela era somente mais um dos animais falantes e depois passou ao posto de princesa.

E por falar em animais falantes.

Ela avistou Heitor, um dos príncipes, tentando novamente chamar Camila para sair e gargalhou assim que escutou o som do tapa que ele levou por parte da loira.
As abordagens dele nem sempre eram respeitáveis e isso já rendeu várias reclamações, mas seu Fábio fazia vista grossa em relação a isso fazendo a maioria das mulheres que trabalhavam na empresa nutrirem um ódio mortal por ele.

- Princesa Tiana. - abriu um sorriso simpático quando Luís, que fazia seu par, a cumprimentou com uma reverência enquanto Patrícia se afastava para despejar suas reclamações em outra pessoa.

- Príncipe Naveen, a que devo a honra de sua companhia? - perguntou vendo os olhares das crianças, que estavam ao seu redor, se iluminarem ao ver os dois juntos.

- Queria saber se a senhorita gostaria de sair comigo um dia desses. - respondeu pegando em sua mão e depositando um beijo no dorso da mesma. Ana arregalou os olhos surpresa e notou que ele estava falando sério.

- Diga sim Tiana. - uma garotinha que estava em pé à frente deles pediu com um beicinho adorável, e quando ela percebeu quatro pessoinhas já gritavam a plenos pulmões "Sim! Sim! Sim!"

- Ok, ok. - falou pedindo silêncio e assentiu constrangida para ele. - Eu aceito.

- Ótimo, depois nós conversamos melhor. - avisou chegando perto para lhe dar um beijo na bochecha e se retirando em seguida.

As crianças logo tornaram sua atenção para outra princesa e Ana contou mentalmente.

5, 4, 3, 2...

- Me conta tudo! - Diana chegou animada a puxando pelo braço na direção de Camila, Amanda e Carol, que fazia a branca de neve. Até Fábio a esperava ansioso.

- O que aconteceu?

- Eu ainda tô tentando entender Aurora. - respondeu sincera se preparando para a enxurrada de suposições.

(Des)encantadaOnde histórias criam vida. Descubra agora