09/06
- Não sei porque estou te ajudando. Eu deveria estar na minha cama quentinha e maravilhosa em vez de tá arrumando esse seu quarto bagunça... Mas que merda Rodrigo – a loira reclamou assim que o agora namorado puxou o lençol que ela dobrava de suas mãos. – Se não quer minha ajuda tudo bem.
- Larga de drama Camila e vamos terminar logo isso. – ele pediu a puxando delicadamente pela mão antes que ela saísse do quarto. Ela revirou os olhos, mas se deu por vencida assim que viu o olhar que ele lançou em sua direção.
- Você me convence com muito pouco. – resmungou pegando uma fronha e procurando o travesseiro pelo quarto.
- Você que não resiste ao meu charme. – se gabou recebendo uma travesseirada como resposta.
- Menos querido, bem menos.
- E eu estou mentindo por acaso?
- Vamos terminar logo isso. – pediu sem conter o sorriso e esqueceu totalmente que estava com raiva dele quando Rodrigo a abraçou pela cintura caindo por cima dela na cama ainda desfeita.
Ana observava tudo da sala com um sorriso satisfeito no rosto, mas o desmanchou quando se lembrou que na noite seguinte teria um encontro praticamente às cegas e duplo com Luna. Sua amiga iria pagar muito caro se tudo desse errado. Pode-se dizer que ela tinha o péssimo hábito de tentar arranjar pretendentes nada agradáveis para ela.
Ainda se lembrava com desgosto dos três últimos. Um era estudante de Engenharia que tinha o rei na barriga, esse foi ideia de Rodrigo que forjou um encontro surpresa para ela a pedido de Luna. Outro tinha uma mania horrível de cortar todas as conversas ao redor, sem contar que era muito mal-educado com quem ganhava menos que ele, como se ser secretário de um escritório o fizesse melhor que os outros reles mortais seres humanos.
O último havia sido com certeza o pior, ele era primo de Luna e Ana o havia conhecido no aniversário dela. Ele era estudante de Direito e possuía os olhos mais azuis que ela já tinha visto na vida, mas o olhar que ele lançava a todos fazia o encanto acabar. Era grosseiro, machista e cínico. A tentava diminuir a cada instante e Ana se perguntou a noite toda o por que de Luna apresenta-lo, no fim descobriu que a mãe dela achava que talvez ela conseguisse dar um jeito nele. Como se ela fosse babá ou adestradora.
A negra fechou os olhos e respirou fundo. Estava cansada, mas uma pilha de apostilas se amontoava na mesa de centro. Se ajeitou no sofá e voltou sua atenção para o artigo que digitava no notebook. Com toda a certeza seria uma noite longa.
E ela estava certa desde o início.
Observou irritada o grupo de pessoas que estava sentado à mesa ao seu redor sentindo uma vontade quase incontrolável de se levantar e ir embora daquele lugar sem olhar para trás.
Seu pretendente, que se chamava João, dava em cima de uma garota loira que fazia parte do grupo de desconhecidos que ele chamou para jantarem com eles. Ana cerrou os olhos em sua direção e naquele momento queria ter uma visão de raio lazer só para acabar com a alegria daquele babaca.
Luna nem notava o quê se passava ao redor já que era toda amores para cima de Tiago, que a olhava com a mesma admiração, pelo menos para Luna a noite não foi um desastre.
Ana soube assim que botou os pés naquele local que iria passar uma raiva enorme. Primeiro que João a secava descaradamente, não só a ela como não poupava olhares para todas as garotas no local. Tiago foi extremamente educado e se desculpou pelo amigo quando notou que Ana estava incomodada após a saída do rapaz.
Eles escolheram uma mesa um pouco afastada da entrada e começaram a pensar nos pedidos. Luna tentou inserir uma conversa comum entre os quatro, mas existia um pequeno empecilho: João.
- Você vão viajar nessas férias? - a de cabelos roxos havia perguntado olhando para todos.
- Como sempre não. Experiências de vida. - Tiago brincou fazendo Luna sorrir. Ótimo, Ana pensou naquele momento, eles já tem até uma piada interna!
- Eu vou pra Mônaco. Meu amigo tem uma ilha lá que é lotada de gente bonita, seu lugar gatinha. - João afirmou lançando uma piscadela para Ana que a fez querer revirar os olhos.
E a partir daquele momento tudo desandou. Luna e Tiago entraram em uma conversa sobre as diferenças da nova geração Star Wars para a antiga e João entrou em uma sobre ele mesmo.
Ana não conseguia acreditar em como todo cara que ela conhecia era um babaca egocêntrico, mas o mais impressionante era esse cara ser primo de Tiago. Eles não tinham nada em comum e como ele o aguentava? Até ela estava com vontade de jogá-lo do outro lado da rua.
- E foi assim que eu ganhei o campeonato de surfe.
A voz de João a trouxe de volta a realidade. A loira com quem ele conversava o escutava admirada e Ana não teve como não sorrir, aquela pobre garota acreditava em tudo.
- Também ganhei um prêmio como cidadão modelo. Sabe como é, eu sou um exemplo de pessoa. - E naquele momento ela não conseguiu segurar a gargalhada que saiu alta e chamou a atenção de todos na mesa. - O que foi?
- Você sabe que esse prêmio nem existe né? - ela ignorou João e perguntou a garota loira que abriu a boca para responder, mas foi interrompida.
- Claro que existe Ania. - ele errou seu nome de propósito a fazendo sorrir incrédula. - Você deve não saber por estar sempre presa naquele castelinho de quinta.
- Ok, você quer mesmo comparar as nossas vidas neste exato momento? Tipo, agora mesmo? Na frente desse monte de gente?
João a olhou irritado e ela devolveu o olhar de forma ameaçadora. Ela queria tanto que ele abrisse a boca, só precisava de alguém que merecesse e ela descontaria um pouco da sua frustração.
Luna cessou seu beijo com Tiago e os dois se viraram de frente para à mesa e para os amigos.
- Se está tão incomodada por que você não sai? Eu nem queria sair contigo mesmo, aceite quando um cara não te quer.
- Oi?! - ela só conseguiu sorrir diante da falta de noção dele.
- Nós chegamos aqui e você estava claramente na minha, mas você não faz meu tipo garota e mesmo assim continua aqui sentada ao meu lado pra vê se consegue um pingo de atenção.
- Garoto, tenho pena de você, sabe. Acha mesmo que eu continuo aqui por sua causa? Estou aqui pela comida e pela Luna, mas principalmente pela comida. O que eu mais queria era estar na minha cama quentinha porque seus comentários idiotas me dão sono. - ela falou com um sorriso no rosto pegando a cesta de bolinhos salgados que estava em cima da mesa e se levantando com um copo de suco na outra. - Não sei vocês, mas até a voz dele já me enjoou. Boa conta e péssima noite.
Ana saiu caminhando, com o canudo de suco na boca despreocupada, deixando para trás a loira que sorria abertamente e Luna que logo se levantou com Tiago para seguir a amiga.
- Essa é por sua conta cara, obrigado. - Tiago disse dando um tapinha no ombro de João que começou a xingar o primo assim que ele saiu do restaurante.
O grupo que estava ao seu redor saiu sem ele perceber e quando viu, o garçom que olhava tudo de longe com um sorriso no rosto se aproximou.
- Sua conta. - João o escutou dizer e jurava que ele tinha dito a frase com uma grande satisfação.
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(Des)encantada
Novela JuvenilAcenar, sorrir, fazer uma pequena reverência, sorrir ainda mais e acenar novamente. Era essa a sua rotina quase todos os dias. Se sentia como uma boneca em uma exposição, não poderia sair por mais de dez minutos de seu posto e quando voltasse teria...