Capítulo 5

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O vinho estava estocado em um lado da sala. No outro, havia um sofá, uma geladeira inteiramente abastecida e um pequeno gerador para alimentar as lâmpadas, que ele acendeu.

Cait parou na porta, olhou em volta da sala e avaliou a situação.

– Não se preocupe.– falou ele, apertando a mão dela. – Estaremos em segurança.

Segurança. Novamente aquela palavra. Ele fechou a porta pesada e se voltou para ela. Cait engoliu o pânico e deu um sorriso trêmulo.

Os dois logo ficaram à vontade no ambiente. Ela resolveu fazer um café, enquanto Sam checava a passagem de ar no alto da parede e as lâmpadas. Alguns minutos depois, eles sentaram no sofá. Sam pegou as cartas do jogo UNO e os dois se prepararam para enfrentar a noite.

– Então, como é trabalhar com a Amber? Ela ainda é uma mala? – perguntou ele, embaralhando as cartas.

– Ah, ela não é tão ruim.

– Hum... – Ele parecia não acreditar.

– Na verdade, eu sinto falta do meu antigo emprego em Paris.

– Qual deles? Aquele em que você trabalhou no período entre o Tony e o Scott?

– Eca! – Ela fez uma careta. – Você reduziu os momentos mais significativos da minha vida a um espaço entre os meus ex's.

Ele deu risada.

Ela colocou uma carta de número 2 na pilha e resmungou alguma coisa, assinalando o final da conversa. Sam não disse mais nada. Durante a próxima meia hora, os dois jogaram e fingiram que tudo estava bem, apesar dos estalidos pela casa e da força do vento, que aumentava. Por fim, Sam ligou o rádio e as notícias encheram o ambiente.

De repente, a luz apagou e Cait se assustou. O gerador entrou em funcionamento e as luzes voltaram a acender, mas isso não amenizou o seu pânico.

– O que estamos fazendo aqui? – balbuciou ela, passando o dedo ao longo das cartas, olhando para o gerador. – Nós saímos durante um alerta de furacão! Isso é loucura. E é também perigoso.

– Não estamos no trajeto do furacão. Você acha que eu faria algo que nos colocasse em perigo? Confie em mim. Estamos a salvo.

Ela começou a tremer e ele a envolveu num cobertor. Cait esperava que, para completar, ele lhe beijasse carinhosamente a testa. Droga, ela realmente estava ansiando por isso. Ele sempre lhe dava beijos do tipo “você é minha melhor amiga”, na testa ou no rosto. E se abraçavam frequentemente. Mas ele nunca a beijara na boca. Não até aquela bendita noite.

Durante os próximos 20 minutos, eles jogaram, enquanto a chuva e o vento ficavam mais fortes e os boletins de notícias se transformavam em reportagens locais, em entrevistas com pessoas que estavam em abrigos ou que haviam escolhido ficar em casa.

Meia hora depois, o furacão chegou.

Eles esqueceram o jogo e se encolheram no sofá, fazendo silêncio e se grudando ao rádio. O vento batia na casa, agitava as árvores e sacudia as janelas. De dentro do seu refúgio, eles ouviam o ar se deslocar, o ranger das árvores que se curvavam e se quebravam ao sabor dos elementos, o impacto de estilhaços que caíam. A casa permanecia firme, mas o vento e a chuva permaneciam constantes, atingindo-a em ondas.

O rádio transmitia informações cruciais a respeito do momento em que o furacão atingia a costa. Uma hora se passou, depois, duas, até que o furacão finalmente se afastou de Los Angeles e se dirigiu para o sul, antes de desaparecer no mar. E então começaram as notícias sobre a devastação, relatadas pelos sobreviventes.

Um nó se formou na garganta de Cait quando ela ouviu o último apelo, feito por uma mulher e sua família, que tinham estado na rota do furacão. Ela teve a sensação de que o seu coração estava sendo perfurado por garras e deixou que as lágrimas escorressem, enquanto a extensão dos danos era relatada em detalhes.

Sam colocou a mão no seu joelho, tentando consolá-la. Ela levou um susto e olhou para ele. E quase se desmanchou ao ver no rosto dele um misto de tristeza e de compreensão que refletia tudo que ela tentara esconder.

Ela o viu engolir em seco, enquanto enxugava suas lágrimas com o dedo.

– Não chore amor – disse ele ternamente, tocando-lhe o rosto. – Está tudo bem.

– Mas, todas essas pessoas...

– Elas irão se recuperar. Você sabe. Não houve mortes, e isso é muito bom. Está tudo bem. Estamos a salvo.

Ela fungou.

– Eu estava com medo.

– Eu sei. – Ele se inclinou, segurou o rosto dela e beijou-lhe um lado do rosto. Depois, o outro. Há alguns anos, ela se admirara com aquele gesto dele, mas agora o seu coração batia mais forte, enquanto ele se afastava lentamente, com o rosto iluminado por um sorriso.

Sossegue, mulher. Se você não se comportar normalmente, ele saberá que há algo de errado. Mas aguentaria as pequenas coisas como os sorrisos, os abraços, o carinho, sem se abalar com o que os dois haviam feito?

Cait olhou para a boca de Sam, aquela boca sensual e adorável que parecia um pecado num homem já tão bonito. Sim, essa seria a melhor maneira de descreve-lo. Por fora, ele  parecia seguro, enfrentava o público, as câmeras, a imprensa, com uma naturalidade que equilibrava a experiência e o charme. Sempre conseguia o que queria, fosse um patrocínio, a melhor mesa do restaurante ou uma mulher. Mas ela sabia que aquela imagem pública era apenas uma parte dele. Ele era generoso, leal. Ardente e amável com as pessoas que amava.

Ele olhava para ela, acompanhando a sua expressão e todos os seus gestos. Cait percebeu que estivera olhando para a sua boca e sonhando, como se fosse uma fã  assanhada. Sentiu a garganta ficar seca e o encarou.

E a sua respiração voltou a ficar ofegante.

Apesar de provavelmente ter demorado alguns minutos, ela não soube o que aconteceu porque lhe pareceu ser instantâneo. Num instante, ela estava sentada, com o coração acelerado, a mão dele no seu rosto, sentindo o calor de seus beijos. Ele sorria para ela, que entreabria os lábios. Ele soltou um gemido e, no instante seguinte, os dois se beijavam.

Ela abraçou-o pelo pescoço, soltou um gemido rouco e se entregou. Ele puxou-a contra o peito como se quisesse absorvê-la.

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