Capítulo 2

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Caitriona suspirou e voltou à realidade. Quando a gravação do programa terminou, eram 21h, e ela se sentia exausta. Despediu-se e foi para o estacionamento, pensando em comprar algo para comer, em tomar um banho e preparar a casa para resistir ao furacão. Ela olhou para o carro e parou de repente.

Sam.

Com o coração batendo forte, ela o analisou de cima a baixo. Vestia um terno azul, mas afrouxara a gravata. Seu cabelo loiro caía sobre a testa. Estava numa posição casual, mas muito sexy, com as mãos enfiadas nos bolsos, seus olhos Azuis não deixavam de fitá-la. Se fosse um homem menos confiante e sensual, o seu rosto poderia ser considerado delicado, mas ele possuía uma aura de pura virilidade. Seu cabelo emoldurava as maçãs do rosto, a boca sensual, os olhos sugestivos. E, quando ele sorria... Santo Deus, podia se ouvir a distância as mulheres se agitando dentro de seus espartilhos. Ele fazia com que ela se lembrasse de eras passadas, de cavaleiros empoderados usando mantos exuberantes e fazendo mesuras românticas acompanhadas por belas sinfonias e poemas de amor.

Sim, ele era adorado por milhares de pessoas em todo o mundo.

E ele lhe proporcionara o melhor sexo que ela já fizera na vida.

Ele era o sonho de qualquer mulher.

Ela sentiu o coração se contrair e se expandir novamente, e teve vontade de morrer de tristeza.

Eles se conheciam há tanto tempo. Contar a ele que estava grávida mudaria tudo. Sam não gostava de compromissos. Amava seu trabalho e as mulheres, e a liberdade de desfrutar dos dois. E ela não iria perder seu melhor amigo por causa de uma noite incrível, mas insensata. Não podia.

Cait respirou fundo e recomeçou a andar. Quanto mais se aproximava, pior se sentia. Eles haviam feito coisas muito íntimas. Coisas que ela nunca imaginara fazer com ele. Haviam se despido, e ele tocara e beijara todo o seu corpo. Agora, ele queria conversar sobre o assunto, e ela preferiria mergulhar com tubarões a cometer o erro de reviver aquela noite. O que poderia ser pior? Demonstrando uma coragem que não sentia, ela acionou o controle de alarme para abrir a porta do carro.

– O que faz aqui? – perguntou ela, controlando o impulso de colocar a mão na barriga e jogando a bolsa dentro do carro.

– Precisamos conversar – falou ele com um sotaque escocês carregado que nunca deixava de arrepiá-la, mas que, agora, fazia com que ela prendesse o cabelo atrás da orelha e endurecesse o rosto para encará-lo. A luz do carro iluminou o rosto de Sam. Ela sentiu o coração acelerar ao ver que ele estava muito sério, mas controlou seu nervosismo e cruzou os braços.

– Sobre...?

– Nós poderíamos conversar no meu barco.

Cait suspirou.

– Sam, já é tarde e um furacão se aproxima. Não podemos fazer isso outro dia?

– Você está evitando os meus telefonemas. Portanto, não. E o furacão ainda vai demorar horas para chegar. – Ele olhou para o céu e franziu os olhos ao perceber que mal se sentia um sopro de vento.

– Eu estou cansada.

Ele olhou para ela, irritado.

– Telefonemas não atendidos.

– Você não vai desistir até que eu concorde, vai?

_ Não.

– Tudo bem. Mas seja breve.

Ela suspirou.

Ele se aproximou e ela recuou. Ele franziu as sobrancelhas.

– Você não vai me deixar esperando, vai?

– Não, não vou. Palavra de honra.

– Ótimo. – Sam se afastou, entrou no seu carro e partiu.

Cait ficou olhando para a luz da seta do carro, enquanto ele virava à esquerda ao sair do estacionamento, e só então percebeu o significado do que havia feito. “Precisamos conversar.” Apenas duas palavras, mas carregadas de implicações, e que conjuravam uma série de cenas estranhas do seu passado desastroso. Dez semanas antes, eles não apenas haviam cruzado o limite entre amantes e amigos, como também o destruíram. Ela sentia vontade de correr para casa e se esconder debaixo das cobertas, mas também queria acabar com aquela situação estranha e constrangedora.

Ela deu um suspiro, entrou no carro, deu a partida e saiu do estacionamento. Não poderia fugir dele para sempre. Estava na hora de respirar fundo e de enfrentar as consequências daquela noite.

A marina estava agitada. As pessoas se apressavam a amarrar seus barcos e a guardar seus equipamentos, preparando-se para a tempestade. Cait estacionou o carro e percorreu a plataforma de madeira, observando a força das ondas escuras que batiam no píer. Em algumas horas, um furacão de categoria 4 varreria a costa, e todos sabiam a destruição que ele iria causar. A cidade mal se recuperara depois que o furacão Sten destruíra Santa Mônica há alguns anos.

O barco de San estava ancorado no fim do píer. Era um barco simples e brilhante, que ele fizera questão de descrever em detalhes, assim que resolvera comprá-lo. Ela não se lembrava da potência do motor ou do seu tamanho, mas se recordava muito bem do entusiasmo infantil com que Sam falara dele e que atingira o seu coração da mesma maneira que atingia agora, enquanto ela repassava lembranças de três anos atrás.

Ele estava no deque e lhe ofereceu a mão, enquanto ela atravessava a prancha. Ela pegou na mão dele, sem pensar. Era estranho. Ela pegara na mão dele centenas de vezes, mas, agora, aquele simples gesto lhe causava nervosismo, como se todo o seu corpo estivesse em estado de alerta e esperasse pelo próximo passo.

Aquilo era bobagem, absurdo. E um grande inconveniente.

Droga, nisso é que dava dormir com o melhor amigo. Agora ela não conseguia conter as lembranças daquelas mãos passando pelo seu corpo e provocando sensações que a haviam feito tremer de excitação.

Assim que Cait pisou no barco, soltou discretamente a mão dele e evitou encará-lo. Odiava aquele constrangimento. Eles haviam feito o impensável e estragado tudo. Por um instante, ela sentiu uma dor lancinante passar pelo seu coração, deixando uma cicatriz profunda e dolorida. Nunca mais as coisas voltariam a ser como antes. Como acontecera com seus relacionamentos desastrosos.

Ela voltou à realidade ao ouvir o ruído do motor, enquanto entravam na cabine, e parou.

– Você vai navegar?

– Yeah. Nós vamos até a ilha.

Ela engoliu em seco e o seu aborrecimento se transformou em fúria.

– Você ficou louco? Não! – Cait saiu da cabine, mas já era tarde. Furiosa, ela se voltou e olhou para Sam. – Eu não concordei com isso! Caso não tenha notado, estamos à espera de um furacão. – Ela apontou para o píer, que desaparecia rapidamente. – A cidade está em alerta. E o meu carro está na marina.

Sam cruzou os braços, apoiou-se na amurada e afastou um facho de cabelo que o vento lançara sobre o seu rosto.

– Primeiro: a minha casa na ilha foi projetada para resistir a condições climáticas extremas, incluindo furacões. Provavelmente ela é mais segura que muitos locais do continente. Segundo: eu vou mandar que retirem o seu carro. Terceiro: a previsão diz que a ilha será atingida apenas pela borda do furacão, cujo centro atingirá Los Angeles depois das 3h.

– A essa altura, não poderemos voltar, e Deus sabe por quanto tempo. Não. Volte, Sam.

– Não.

– Odeio quando você fica prepotente.

Ele retorceu a boca, mas não disse nada e suportou o olhar furioso que ela lhe dava.

– Você esteve evitando os meus telefonemas – falou ele por fim.

Cait deu um gemido de frustração e apoiou as mãos na grade da amurada.

– Droga. Você consegue ser taaaaão irritante!

– Isso quem diz é a mulher que ainda não me contou que está grávida.

O coração dela acelerou e engoliu em seco.


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