Incompleto

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— Jungkook, querido? — Ouvi a doce voz de minha mãe ressoar ao longe e virei a cabeça para vê-la, atrás da porta, com a lateral do rosto encostada no batente. Ela tinha um sorriso luminoso e genuíno nos lábios, deixando os dentes compridos dos quais herdei meu sorriso à mostra.

— Hm? — Murmurei em resposta, ainda meio sonolento. Eu passava a maior parte do dia dormindo.

— Você tem uma visita — Ouvi-a dizer, feliz. Dava pra ver que tinha até feito um esforço para se arrumar um pouco mais — embora continuasse bonita independente do que fizesse. 

— O quê? — Fiquei em choque. — O-O que disse?

— Tem alguém aqui querendo te ver! — Ela revirou os olhos e riu. — Seu amigo — Sussurrou, colocando uma das mãos ao lado da boca, como se estivesse me contando um segredo.

Senti meu coração disparar. Estava tão agitado e batia tão rápido que eu jurava que a qualquer momento ele sairia pela minha boca. Tive que respirar fundo várias vezes para me acalmar.

Por que de repente eu havia ficado tão ansioso?

Não crie tantas expectativas, Jeon Jungkook. Qualquer pessoa pode passar por aquela porta.

— Ah...tá — Tentei parecer o menos nervoso possível, embora por dentro estivesse tendo um ataque. Eu não queria que ninguém me visse naquelas condições, e também continuava me sentindo mal por não ter recebido nenhuma visita antes, mas...era quase como se uma luzinha, bem pequenininha, tivesse se acendido dentro de mim.

Minha mãe sorriu e fez sinal para que a pessoa, provavelmente escondida atrás dela, entrasse, e ela mesma saiu, provavelmente querendo nos deixar a sós.

Prendi a respiração por um minuto quando ouvi alguém se aproximar, e soltei todo o ar acumulado em meus pulmões que ardiam quando uma cabeleira ruiva passou pela porta.

— H-Hyung... — Hoseok não estava com o sorriso largo e radiante de sempre. Na verdade, o único sorriso que carregava no rosto murchou assim que seus olhos pairaram sobre mim, tornando sua aura sombria.

Ele se aproximou com cuidado, no início um pouco hesitante, como se pisasse em cacos de vidro e a qualquer momento pudesse se cortar.

— Você veio sozinho? — Perguntei, encostando as costas na parede — mamãe provavelmente me mataria se me visse fazendo algo do tipo. Ela vivia dizendo que eu pegaria um resfriado ou qualquer coisa assim, mas eu não me importava.

Hoseok assentiu, de cabeça baixa. Percebi que ele parecia nervoso, porque mexia as mãos nervosamente na frente do corpo.

— Então... — Começou a falar, mas parecia estar indeciso sobre quais palavras usar. — Quer dizer que você não pode mais andar?

Olhei-o por algum tempo, me esforçando para ignorá-lo.

Que ótimo jeito de se iniciar uma conversa.

— Por que você veio me ver? — Perguntei, relutante.

— Porque fiquei preocupado. Porque queria ter certeza de que você estava bem.

— "Bem" — Ri, sem humor. — Se estava tão preocupado assim, por que não veio antes? Faz ideia do que estou passando? — Senti vontade de chorar e minha voz fraquejou, então me calei e olhei para cima, tentando conter as lágrimas.

— T-Todos...Todos nós ficamos muito abalados, Jungkook. Ninguém queria que isso tivesse acontecido — Se aproximou um pouco mais, me olhando com condolência, e percebi que esse era o pior dos jeitos com os quais ele poderia me olhar. A vergonha me consumiu outra vez. 

Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora