Para você, das estrelas

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Numa escala de zero a dez, meu nível de estabilidade emocional estava negativo — se é que ele ainda existia. Minha vida parecia ter sido programada para dar errado, desde os primórdios de minha existência, e qualquer um que dissesse o contrário era um péssimo mentiroso.

A dor me consumia aos poucos, e eu nunca estive tão mal. Mas eu sabia que, cedo ou tarde, as coisas iriam piorar. Sempre pioram.

Eu era um incômodo na vida de todos a minha volta, até mesmo na minha. E essa era a pior parte. Eu estava começando a me incomodar — ainda mais — comigo mesmo. Eu odiava pensar em como tudo mudou em questão de um mísero segundo, em como fui um completo babaca.

Talvez Yoongi não tivesse tanta culpa assim. Nem Taehyung, nem Hoseok, nem Namjoon. Muito menos os meus pais.

Se eu tivesse prestado atenção, não teria sido atropelado, então não acabaria em uma cadeira de rodas, e as coisas continuariam as mesmas de sempre. Se eu não tivesse dado uma de "bonzão" com Yoongi, então não teríamos discutido, e aquele provavelmente seria só mais um dia que passei com os meus amigos.

Existiam inúmeras possibilidades. Mas eu não podia voltar atrás e tentar nenhuma delas. Seokjin me fez entender que não se pode viver de e se's, então só nos resta aceitar o presente.

Eu sempre soube que não era nada demais. Não havia nada de misterioso ou instigante em mim; eu não era uma pessoa iluminada como Hoseok, nem divertida como Namjoon e Taehyung. E as pessoas também não queriam saber mais sobre mim, como sempre faziam com Yoongi. Eu não era o tipo de pessoa que vale a pena conhecer.

Eu não era nem o bom, nem o ruim. Muito menos ótimo ou péssimo. Eu era apenas..."ok". Com Jungkook? Ok. Sem Jungkook? Ok.

Mas eu nunca me importei. Sempre aceitei isso. Ser um ninguém era tão natural quanto ouvir o meu próprio nome.

Mas agora eu parecia tão...patético. Não conseguia aceitar. Não queria aceitar.

Sentia como se eu tivesse pegado a minha vida inteira e jogado fora.

Já fazia quase duas semanas que eu não saía daquele quarto. Eu queria manter a minha decisão de ficar isolado para sempre, mas eu não conseguia ceder a tentação de morrer de fome.

No ínicio, Jimin ficava batendo na porta como um louco, e até já ameaçara arrombá-la várias vezes, mas desistiu de tentar depois de uns dias.

Ainda assim, todos os dias eu ouvia um "Jeon, estou bem aqui. E vou continuar, até você abrir a porta." A porta não estava trancada, e sim aberta para quem quisesse entrar. Mas ele respeitava o meu espaço. E eu apreciava isso.

Mas aquele dia foi diferente.

Ele estava à frente da minha cama, com as mãos na cintura e me olhando com cara de indignação.

— Por quanto tempo você pretende ficar deitado aí?

— Até meu corpo concordar que continuar vivendo é inútil — Respondi, débil, me enrolando no edredom estampado.

Jeon Jungkook — Disse ríspido. — Viver não é inútil.

— Mas eu sim — Murmurei, com uma carranca. — Aliás, você não devia estar na faculdade? É melhor parar de vir aqui. Não quero atrasar ainda mais a sua vida.

— Do que você 'tá falando? — Perguntou como se aquele fosse o maior absurdo do mundo. Ele pareceu esperar uma resposta, porque ficou me olhando por alguns segundos até se tocar de que eu não estava a fim de ter aquele tipo de discussão. — Por que você 'tá falando esse tipo de coisa?

Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora