Funeral de Flores

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Eu sempre ficava ansioso ao ir ao psicólogo, mas não porque era desconfortável, mas sim porque era o momento pelo qual eu mais esperava durante toda a semana.

Estávamos — eu e o Dr. Seokjin — progredindo bem, e eu me sentia cada vez mais confortável para conversar com ele. Sobre tudo. Sobre mim, sobre a minha família, sobre Jimin. Meus medos, anseios e pensamentos, coisas que eu não podia falar com os citados.

Eu podia falar tudo o que eu sentia, sem medo ou desconfiança. Era uma relação de médico e paciente, e aquelas visitas esporádicas me faziam mais bem do que eu jamais poderia pensar.

Desde que eu havia descoberto sobre o câncer de meu namorado, as conversas se voltavam quase todas para ele. Eu e Jimin tentávamos não tocar muito no assunto, e eu não queria aborrecê-lo mais ainda com os meus pensamentos melancólicos.

Eu queria curtir o meu tempo com ele, qualquer que fosse...

Mas eu estava com medo.

— Como vocês estão indo? Têm se visto muito? — Perguntou, quebrando o silêncio entre nós.

— Bem — Respondi, sem entrar muito em detalhes. — Sugeri que ele se afastasse um pouco da faculdade, mas ele é mais teimoso que minha mãe. Diz que quer fazer o que gosta até o último minuto — Ri abafado. — Ele quer...descobrir o máximo que pode do mundo — Minha voz saiu falha, talvez até um pouco rouca, e então me vi segurando o assento da cadeira de rodas, as pontas dos dedos já ficando brancas pela má circulação do sangue.

— Bem, isso é bom. Quer dizer que ele ainda está disposto o suficiente para continuar estudando — Sorriu e eu retribuí. — E quanto a você, não pretende voltar a estudar ainda? — Perguntou, pleno e minucioso, se inclinando para frente em demonstração de interesse e cruzando as pernas compridas.

Meu sorriso murchou na hora.

— Hyung, podemos..falar do Jimin? Não estou pronto para falar disso ainda — Não estou pronto é uma grande desculpa quando não se quer fazer ou falar sobre algo, mas nem sempre funcionava com Jin.

Ele me instigava a dizer coisas que não queria e me devolvia minhas próprias perguntas, como se fossem as respostas que eu precisava.

Mas eu sempre torcia para que ele cedesse.

— Tudo bem — Suspirou. — Mas esse ainda é um ponto que precisamos trabalhar, Jungkook — Me olhou por cima do óculos. — Como você tem lidado com toda essa situação?

— É...um pouco assustador. Quero dizer, muito assustador — Soltei uma risada nasal. — Eu não consigo parar de pensar nisso. Eu quero perguntar “quanto tempo temos?”, mas não quero realmente saber. Mas é como viver cada dia com medo do que pode acontecer, entende? Viver cada minuto pensando “certo, está tudo bem. Por enquanto.” Não sei se estou pronto para lidar com isso. Câncer. Morte.

— Ninguém nunca está, Jungkook. E, principalmente você que está com uma carga emocional pesada...sei o quão difícil é. Por mais que tente, ninguém nunca vai estar pronto para dizer adeus — Observou. — Mas você precisa saber de uma coisa. Morrer é esquecer. E eu sei que Jimin será sempre lembrado por você — Disse, e eu senti uma pontada no meu coração, como se alguém me desse uma agulhada no peito. — Vocês precisam se ajudar agora, certo? Não precisa mostrar que é forte toda hora. Vai fazer bem para os dois se forem sinceros e falarem sobre isso.

Apertei as mãos, agora em meu colo, e abaixei a cabeça.

— Eu sei, eu tento, mas...eu me sinto culpado. Acho que as coisas poderiam ter sido diferentes se eu tivesse dado mais atenção a ele — Engoli em seco. — Sei que não posso ficar preso no passado nem nas inúmeras possibilidades, mas é difícil, entende? E se...eu o ajudei a morrer?

Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora