Não houve um amanhã, mas o Sol continua brilhando. Como sempre.
A verdade é que já faz cinco anos que você se foi — sim, se foi, porque morrer é esquecer, e eu nunca permitiria que você fosse esquecido. Sob nenhuma circunstância.
Faz cinco anos que você se foi, e a dor continua a mesma. A saudade fica cada vez maior. O tempo passa e você tem que se forçar a andar pra frente, se arrastar, aguentar firme e respirar, porque senão, fica para trás.
Às vezes, tenho que me lembrar de respirar. Me lembrar de que ainda estou vivo.
Porque, Jimin, a vida acontece. Ela não para.
A dor da perda acaba por se tornar suportável, mas não quer dizer que não esteja mais lá. Ela ainda machuca, ainda lateja, ainda fere. Alguns dias, dói mais do que o normal. Em outros, é quase como se eu pudesse me esquecer que tudo isso aconteceu.
Mas o Sol continua brilhando. As noites continuam escuras. E eu continuo sendo Jeon Jungkook. E todas as memórias continuam vivas em minha mente, mas tudo bem. Porque não quero perder nenhuma parte de você, mesmo que isso envolva os momentos ruins. Foi você que me ensinou que devemos lidar com os nossos problemas, não é? Que ficar se remoendo não adianta de nada.
Acho que é mais uma das coisas pelas quais eu preciso te agradecer.
Não sei se você sabe, embora eu espere muito que sim, mas em todos esses anos, em todos os mil oitocentos e vinte e seis dias que passei sem você, eu nunca quebrei minha promessa. Acho que sabe a que estou me referindo.
É por isso que, hoje, no aniversário de sua partida, estou sentado, nesse vagão de trem, sozinho. Esperando chegar ao meu destino, porque agora não moro mais com os meus pais e meu apartamento fica muito longe do cemitério.
Estou olhando pela janela e me esforçando para não chorar. Meu reflexo no vidro da janela parece quase vazio, mas não me importo, porque por dentro estou sentindo tudo.
E estou com um buquê branco no meu colo, que vou dar a você.
Suas flores favoritas eram lírios brancos, mas não acho que combine com elas.
Você é luz e vida e eu floresci em você.
Enquanto elas também têm um significado sombrio. Ouvi falar que é sobre morte, palavra que não deve ser nunca referida à você.
Já ouviu falar de Gypsophila? Elas são puras e inocentes como você, Jimin. Um passáro que não precisa de asas para voar. É por isso que as escolhi para hoje.
Eu sempre soube que você podia tocar o céu. Bem, você foi o meu céu.
Mas sei que agora não é mais apenas meu. Você está no céu de outras pessoas também, porque sei que espalhou sua essência pelo mundo.
Sinceramente, não sei exatamente onde você está. Às vezes me pergunto se você está em qualquer lugar, se está me observando de longe, ou se continua aqui, me observando de perto, bem debaixo do meu nariz. Mas acredito que você está em um lugar bom, provavelmente que você mesmo criou, e isso me tranquiliza.
De repente, o trem para e escuto o barulho das portas se abrindo, então sei que cheguei. E lembro também que tenho muitas coisas para contar, mas decido esperar até o cemitério, porque, por mais bizarro que soe, sinto que ali você está ainda mais presente e vai realmente me ouvir.
Demoro um pouco para descer do vagão, porque, bem, as cadeiras de rodas não ajudam muito.
Quando chego no cemitério, que mais parece um campo enorme cheio de flores, dos mais variados tipos e cores, inalo o frescor e o aroma doce e peculiar das plantas e me sinto bem porque é um lugar bonito e acho que as pessoas que foram enterradas ali gostariam de estar em um lugar assim.
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Lírios Brancos
FanfictionJeon Jungkook vivia a vida tranquila e quase monótona de um rapaz de dezenove anos - sem ambições, emoções intensas ou grandes expectativas. Acostumado a viver de acordo com um roteiro produzido por ele mesmo, pretendia chegar ao fim de seus anos de...