Confiar

1.5K 254 83
                                    


Seokjin olhava para mim com um sorriso sugestivo, quase malicioso. Eu me sentia ansioso, um sentimento estranho que me preenchia sem eu ao menos saber o por que. Eu apertava as mãos nervosamente no colo, com os olhos fixados na ponta da caneta que escrevia rapidamente na folha de papel quase que inteiramente já preenchida.

Acho que ele sabia que havia algo de errado comigo. Eu também sabia. O único problema é que eu não fazia ideia do que.

— Como você está, Jungkook? — Sorriu para mim como sempre fazia, e eu retribui, mas durou pouco.

Eu havia me tornado um pouco mais próximo de Seokjin nas semanas que se passaram. Não nos falávamos muito, mas ele sempre se esforçava para que eu me abrisse mais. E quando minha voz embargava e eu simplesmente não conseguia continuar, estava tudo bem, porque ele continuava ali comigo. Sem dizer nada.

Mas eu não estava melhorando. Pelo menos, não de verdade.

A chama dentro de mim não era mais a mesma. Não era intensa, não era vibrante, não era quente. Estava mais para uma velinha de aniversário, daquelas que ficam acesas por uns quinze segundos antes de se apagarem novamente, com qualquer movimento brusco.

Eu não podia sequer respirar sem que o meu sopro a apagasse.

— Acho que bem — Encolhi os ombros. É claro que eu não estava bem, mas era difícil de explicar. Eu apenas estava ali, existindo. Morrendo aos poucos, sem nenhum grito de dor ou pedido de ajuda.

— Você parece mais agitado ultimamente — Observou. — Aposto que é por causa daquele tal de Jimin. Ele é seu amigo? Namorado?

Senti o rosto ferver. Aquilo era uma sessão terapêutica ou um interrogatório?

— Ele é meu amigo — Enfatizei. — Ele me faz bem. Acho.

— Acha? — Arqueou uma sobrancelha. Fiquei quieto por um breve momento, mas depois dei de ombros. — Seus amigos não deram notícias?

Tive vontade de rir, mas continuei sustentando a mesma expressão patética de sempre. A expressão que dizia "Olá, eu sou Jungkook. Um merda inútil que não pode mais andar e se tornou um estorvo maior ainda".

— Não — Balancei a cabeça. — Não acho que sejam mais meus amigos. Talvez nunca tenham sido — Minha voz falhou um pouco ao pronunciar tais palavras, e comecei a puxar um pedaço de linha desfiado da poltrona ao meu lado, numa tentativa de me distrair daquelas memórias ruins. — Mas não quero falar disso — Conclui, e ele suspirou. Devia ser difícil, eram raras as vezes em que ele conseguia tirar algo de mim.

Seokjin vivia rebatendo as minhas perguntas a mim mesmo, e eu odiava isso. Era como se ele soubesse de todos os meus pontos fracos, e eu não queria ter que pensar sobre eles.

— O que você faria se os visse novamente? — Insistiu.

Engoli em seco, surpreso com a pergunta. Mordi o lábio, desviando o olhar para ele por um segundo, e então retornando para o tecido esfiapado em minhas mãos.

— Não sei — Respondi, milhares de possibilidades passando pela minha cabeça. — Mas acho que eles não falariam comigo, de qualquer forma. Provavelmente fugiriam.

— Por quê?

— Vergonha. De mim. — Meus olhos estavam marejados. — Ou medo.

— Não acha que está tentando impor nos outros algo que sente sobre si mesmo? — Me lançou, e naquele momento me senti paralisado. Sem reação. Sem resposta.

Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora