Algodão Doce

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Apertei o corpo de Jimin contra o meu, ainda com o rosto escondido em seu pescoço. Eu precisava de um tempo em silêncio e Jimin respeitava isso, porque não falara nada desde que me colocara nas costas.

A chuva estava mais forte e as calçadas pouco movimentadas, embora o trânsito estivesse praticamente parado. Eu não fazia a mínima ideia do horário, e nem sequer imaginava qual fora a reação da minha mãe ao chegar em casa e não me encontrar por lá. Tinha medo de que ela ficasse tão desesperada a ponto de chamar a polícia ou coisa do tipo; a conhecia muito bem.

Mas eu não estava em condições de pensar sobre isso.

Enrolei no dedo indicador uma pequena mecha encharcada do cabelo de meu namorado, como se assim pudesse garantir que ele continuaria ali comigo para sempre.

Franzi o cenho quando percebi a mudança de rota e levantei a cabeça levemente confuso.

— Para onde estamos indo? — Perguntei, tentando enxergar em meio ao escuro da noite.

— Para a minha casa — Respondeu, e eu não quis questionar, então nem eu nem ele dizemos nada até o fim do caminho.

Do lado de fora, a casa do Park parecia bem simples, mas era bem bonita. Na verdade, era exatamente como a casa que me vinha à cabeça quando escutava "casa de 'vó". Era toda feita de tijolinhos e tinha um pequeno jardim frontal, com lírios. Todos brancos. Sorri, porque sabia que só podia ser ideia dele.

Nós entramos e, para a minha surpresa, a mulher de traços bem envelhecidos estava à espera do neto, com um sorriso doce nos lábios.

Ela parecia muito mais saudável que a primeira vez que eu a havia visto, e isso me fez lembrar de que fazia muito tempo que Jimin não me falava sobre ela. Estava contente em finalmente poder conhecê-la.

— Estou de volta — Anunciou, limpando os pés no tapete da porta de entrada e fazendo impulso com o próprio corpo e me levantando em suas costas, para me segurar melhor.

— Você demorou dessa vez — Ela disse, mas sem parecer brava ou coisa do tipo. Seus olhos desviaram a atenção para mim, mas não consegui sorrir, apesar de tentar. — Quem é o seu amigo, Jiminie?

— É o meu namorado, vó. O Jungkook — Respondeu simplista e eu arregalei os olhos de leve, com medo da reação da mais velha, mas ela apenas sorriu e fez uma expressão compreensiva, como se já soubesse de tudo.

Jimin passou por ela e me levou para o que eu imaginava ser o seu quarto, me deixando cuidadosamente sentado sobre a cama.

Então foi até o banheiro, pegou uma toalha pequena e começou a esfregar minha cabeça com ela, secando o cabelo molhado. Seu quarto tinha o seu cheiro e era cheio de pôsteres e fotos espalhadas pelas paredes, principalmente de paisagens com o céu estrelado.

Sorri fraco.

— Você me deu um baita susto hoje, hein? — Segurou o meu rosto com as mãos, me olhando sério. — O que eu ia fazer se te perdesse? — Sua voz saiu falha e antes que eu tivesse a chance de responder, ele puxou minha cabeça em direção ao seu peito, me envolvendo com os seus braços.

Senti meus olhos marejarem e segurei os seus braços, o afastando levemente de mim, assim podendo olhá-lo nos olhos, que pareciam tão cansados quanto os meus.

— Achei que...achei que aquelas coisas que eu disse tinham te ajudado.

— E ajudaram. Mas... — Funguei e deixei que uma lágrima escorresse. — Mas o Yoongi apareceu e tudo desmoronou novamente. Eu me sinto...eu me sinto completamente paralisado, Jimin. Não posso voltar atrás, mas também não consigo seguir em frente — Meu choro se intensificou e puxei Jimin para perto, me escondendo em seu peito. — Por mais que eu tente avançar, todos esses sentimentos sempre voltam e me derrubam. Eu não aguento mais. Não tenho mais forças pra levantar. Acho que nunca tive — Abracei sua cintura. — A realidade me assusta. Não quero viver me olhando no espelho todos os dias e me odiando. Eu nem posso segurar sua mão quando andamos juntos! Porque nunca vamos poder andar lado a lado, certo? — Solucei, incomodado com a sensação de queimação em minha garganta irritada. Ter me encontrado com Yoongi me fez sentir como se uma onda tivesse me engolido e, embora eu desse o meu melhor, nunca conseguia alcançar a superfície. Eu estava me afogando — Mas eu também não quero morrer. Estou com medo. E raiva.

Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora