Céu Rosa

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O problema da depressão é que ela é instável, completamente. Você nunca está bem, pelo menos não de verdade. Em um momento você está feliz, mas então uma onda te atinge e você se afoga novamente, em questão de segundos.

Você tem recaídas e mal sabe explicar o por quê. O motivo parece ser tão óbvio, tão claro, mas é difícil de explicar. Você inspira todo o ar que pode, mas seus pulmões continuam vazios. Como procurar cegamente por algo que não existe.

Como procurar por uma felicidade que está longe demais para ser alcançada.

Jimin passou a me visitar regularmente depois daquele dia. Nós não conversávamos muito, talvez por eu ainda me sentir um pouco desconfortável diante de sua presença, mas com certeza tê-lo por perto era melhor do que ficar sozinho o dia inteiro.

Às vezes os meus pais perguntavam por ele, mas eu não queria que os conhecessem; não queria que enchessem sua cabeça de ideias malucas ou qualquer outra coisa que o fizesse querer distância de mim. Eu precisava de si tanto quanto precisava de meus remédios, ou tanto quanto precisava respirar.

Apenas tê-lo por perto já era um conforto imenso; mesmo que isso significasse ter que lidar com o meu próprio constrangimento em ser quem era.

Vez ou outra Hoseok mandava alguma mensagem, me "atualizando" sobre tudo o que estava acontecendo, mas eu não tinha nem sinal dos outros. Nem de Taehyung, nem de Namjoon, e muito menos de Yoongi — que parecia ter sumido do mapa.

Para falar a verdade, sem Jimin, os dias sozinho no hospital pareciam ter passado em branco. Não havia nada de divertido ou interessante, nenhuma distração sequer, e lidar sozinho comigo mesmo era a pior das torturas.

— Jungkookie, qual é mesmo o nome daquele rapaz? — Minha mãe perguntou e voltei minha atenção para ela, cansado de ouvir a mesma pergunta pela milésima vez.

— Jimin — Respondi, com a voz baixa, enquanto um médico forçava minhas pernas contra o meu peito. — Minhas costas doem — Reclamei. A fisioterapia era uma merda, e eu não tinha começado nem há uma semana.

Mas lá estava eu, de moletom cinza e deitado em um colchonete no chão, cercado por pessoas cheias de expectativas em cima de mim, quando no fundo todas sabiam que não havia nada para esperar.

— Faltam apenas uns quinze minutos. Você aguenta — Jin tentou me confortar, com o seu jeito calmo e sereno de sempre. Ele decidiu que talvez fosse melhor estar presente nas sessões, e eu não o impedi. Às vezes ele tomava algumas notas sobre a situação.

O hyung era quase como um irmão mais velho para mim. Eu ainda não conversava muito com ele, porque sentia que a ferida em meu peito se abria mais a cada vez que eu tentava falar sobre aquilo — sobre a paraplegia, sobre meus pais, sobre mim, sobre tudo —, e tampouco podia dizer que confiava em si, mas eu podia ver que ele era uma boa pessoa. Ou pelo menos era o que fazia parecer.

Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego. Era simplesmente inútil. Não havia nada mais cruel do que ser obrigado a, todos os dias, encarar e tentar lutar contra algo que é inatingível, ou tentar alcançar algo que é inalcançável.

Como se ficar paraplégico já não fosse o bastante, eu diria que a parte mais dolorosa era a fisioterapia. Não por causa da dor extrema, porque é claro, eu não podia sentir nada do quadril para baixo. Mas a dor interna, a que me perseguia todos os dias. Ah, essa era a que mais doía. Porque eu sabia que, mesmo me esforçando e fazendo todas aquelas coisas, jamais recuperaria meus movimentos.

Na verdade, isso tudo era apenas para impedir possíveis deformidades articulares, ou seja, impedir que eu perdesse uma das pernas ou as duas. Você sabe, todo aquele negócio de coagulação de sangue e tal. Mas qual era a diferença de meus membros necrosarem, se meu coração já estava completamente negro?

Lírios BrancosOnde histórias criam vida. Descubra agora