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-Você vai acabar chegando lá sem os dedos. -diz o Theo olhando para mim e já predendo sua atenção na estrada.

-Me deixa, eu estou absurdamente abaforida com essa situação... -sou interrompida por uma enxurrada de risos- o que foi?

-Abafo o quê? -pergunta predendo o riso

-Abaforida. -digo como se fosse a coisa mais normal do mundo, e ele solta o riso preso. Acabo rindo junto com ele.

-Isso é de comer? -pergunta enxugando as lágrimas que haviam saído, diante de sua crise.

-Ridículo você hein? -fingindo irritação. Ele suspira forte, olhando pela janela do carro.

-Chegamos. -sorri largo.

-Ai Jesus...-olhando na mesma direção que ele- me deseje sorte! -digo dando um beijo na sua bochecha.

-Essa já é sua! -sorri sincero e me mandando uma piscada.

-Disso eu sei né querido. -falei meio que dando umas voltinhas, jogando meus cabelos, e fazendo uma voz fanha- Vou precisar de sorte para enfrentar a fera do Phil, por está atrasada.

    Ele faz uma careta lembrando quem era a fera, me deseja um boa sorte, eu mando beijinhos no ar para ele e atravesso a rua.

      Entro na agência cumprimentando o Sr. João, o porteiro que mais gosto e logo vejo o Phil batendo o pé no chão, impaciente enquanto digita algo no seu celular.

-Bom dia agente mais lindo do mundo! -digo chegando por trás e dando um belo abraço nele, como se eu fosse a pessoa mais meiga da face da terra.

-É quase boa tarde dona Algodão! -diz levemente, pra não dizer muito, irritado com meu atraso- Isso são horas? Já estão começando a avaliar as garotas! Anda, anda!

   Praticamente ele me empurra para a sala onde estão fazendo a seleção. Abrindo a porta, vejo todos os olhares daquela sala caírem sobre mim, coro levemente. Após cumprimentar rapidamente a todos, sento-me e aguardo meu nome ser chamado. Eram quinze garotas, contando comigo, disputando essa vaga. O Phil me colocou entre os últimos nomes, porque me conhece e sabia que eu me atrasaria, pois ontem quando me ligou o Theo falou algo deixando óbvio que eu estava em sua companhia. Depois de um tempo, sou chamada. Vou andando devagar e calma, porque era capaz de eu cair e quebrar alguma coisa, ou parte do meu corpo, finalmente chego a um banquinho que foi posicionado na frente dos avaliadores. 

-Bom dia! -falo em inglês sorrindo, cumprimentando os avaliadores, que era algumas pessoas da equipe do cantor.

-Bom dia! -retribuem em uníssono, sorrindo. Uma das avaliadoras, uma mulher de cabelos pretos porém sorri mais entusiasmada que os outros.

-Bom, você é a Aysla Martins correto? -sorriso achando fofo o jeito que o cara do centro, falou meu sobrenome.

-Correto! -respondo por fim.

    Assim, se inicia uma série de perguntas, respondo todas elas com sinceridade e esbanjando simpatia. A mulher de cabelos pretos, estava tão animada com minha presença ali que chego a duvidar se está sóbria. Seu entusiasmo é contagiante, e todos ali acabam esquecendo um pouco que aquilo era uma entrevista de seleção. Acabamos contando um pouco sobre coisas de teor particular, como se estivesse em uma roda de amigos, foi uma, senão a, das melhores seleções que já participei.
    

-Bom Aysla, você é adorável, creio que todos aqui gostaríamos de continuar a conversa, mas temo em dizer que infelizmente precisamos entrevistar outras garotas. -o cara do centro diz, um tanto abatido no final da frase, porém sorrindo. Sorrio em conformidade com ele.

-Sem problemas, eu entendo perfeitamente. -digo descendo do banco- Até mais, espero. -sorri sincera.

  
   Observo o desapontamento da mulher de cabelos pretos, mas saio de lá feliz, acredito que fiz uma boa entrevista. Mal saio e Phil já vem correndo para me abraçar, assustada retribuo.

-Você não existe Algodão! -diz entusiasmado.

-Hã?

-O clima lá em cima não estava nada bom... -diz me puxando para o canto, para "termos" privacidade- o Sr. White estava querendo a cabeça de todos numa bandeja... -arregalo os olhos- esses clientes são importantes para a empresa, foram nas cedes de Toronto no Canadá, e Nova York nos States e não se agradaram de nenhuma garota lá. Você sabe como o Sr. White é exigente, e estava quase perdendo esses clientes quando os convenceu de vir até aqui. E de nossas garotas não se agradavam, foi cada gafe... -coloca a mão na testa fechando os olhos, como se ele lembrasse das cenas- ai chega você Algodão, salvadora da pátria. Em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece. Nunca vi uma seleção virar uma roda de conversa, o que mais impressiona é que isso não foi trágico, foi esplêndido!! -diz sorrindo, gargalho baixo com sua empolgação- Essa já é sua monamour!

-Espero que sim, tem a Bianca e a Sara ainda, eu...

-Você é muito melhor que elas. -disse sincero- Vai esperar o resultado e vai almoçar comigo hoje?

-Pode ser, eu só tenho que avisar o...

-O pedaço de pecado? -me interrompe, e confirmo sua pergunta- Chama ele também, temos que comemorar todos juntos... -sorrio diante da sua certeza- e eu também não posso perder a oportunidade de seduzi-lo...

-Ele é hétero criatura... -digo rindo.

-Por isso é também meu pedacinho de ilusão, sabe, a esperança é a última que morre. É como o filme do Crô, ele gay até a alma como eu, o crush hétero da Silva e no final o que acontece? -olho sem saber a resposta- Descobrimos que ele de hétero não tinha nada, era só mais um gay encubado. Vitória das manas baby. -e me joga um beijo no ar.

    Gargalho um pouco alto atraindo o olhar das meninas que estão apreensivas, à espera do resultado. O tempo se passa, e logo os avaliadores vem ao nosso encontro. Me sinto levemente apreensiva, e me disperso um pouco em pensamentos até escutar...

-Aysla Martins!

   Olho para o Phil que está com um olhar do tipo "Eu te disse". Algumas meninas me aplaudem, outras me olham com inveja. E a mulher de cabelos pretos vem me abraçar, retribuo calorosamente seu abraço, então me dou conta de que... AI MEU DEUS!!!

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