Nervous

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      Sabe, você deve tá olhando para essas palavras, e dizendo: "What?" Mas calma que pra tudo nessa vida tem explicação.
      Eu sou meia zoada das ideias, você já deve ter percebido, e a razão para tudo isso é minha personalidade mal construída por conta de um passado afogado na merda. O nosso cérebro é uma máquina muito complexa que nunca vamos compreender de fato, nunca vamos saber lidar com toda sua capacidade. É para isso que existe a psicologia, e suas teorias, para que a gente consiga compreender em partes o que acontece em nosso cérebro. Então senta que a tia Aysla vai explicar um pouco, tudo isso.

    Segundo a teoria psicanalítica de Freud, nosso cérebro tem três compartimentos: Consciente, pré-consciente e inconsciente. Ou como a psicologia moderna fala o: Id, ego e super-ego. Toda a nossa psique, nossa mente, é baseada nisso.
 
      O Id, ou inconsciente, é a parte que contém toda a energia, tudo o que a gente reprime fica lá também, nossos desejos sexuais, nossas vontades, tudo tá lá, o Id não tem noção de certo ou errado, como se fosse um ser selvagem. O super-ego, ou pré-consciente, é a parte que guarda todos os valores que temos, é o que diz que isso é certo, e aquilo é errado, como se fosse o juiz de nossas ações. O ego, ou consciente, é que satisfaz a vontade do Id de acordo com o que o super-ego diz.  Exemplo:

      O Id quer comer. O ego tem duas opções: ou rouba algum lanche da padaria, ou vai lá e compra. Quem diz que roubar é errado, é o super-Ego.

    Entendeu essa parte? Beleza, agora segue comigo. Se o Id possui muita energia, essa energia tem que ser liberada certo? Certo. E como o Id libera essa energia? Através dos sonhos e etc. É como se fosse uma proteção, para que a bomba não exploda e cause danos para todo o sistema. Mas logicamente, nosso sistema tem vários mecanismos de defesa, porém é assunto para outra pauta.
    Acontece que, toda informação que chega no nosso consciente tem tipo um peso, e as vezes por ser muito pesado o consciente joga la no Id para que ela não fique tão presente "no mundo real", é como se ela tivesse sido presa na masmorra do castelo. Mas, como nem tudo na vida é perfeito, existem o que a turma chama de "gatilhos de memória", ou só "gatilho" memo. Que é tipo um botão que resgata aquela memória. Exemplo:

      Você ama muito uma pessoa, e de repente ela morre. Mas você não vive o luto pela morte daquela pessoa, e segue sua vida normalmente. Daí passa 10 anos, e seu gato morre. E é assim que você entra numa depressão profunda, sem saber o porquê, e de uma hora para outra.

     Deu pra entender, ou ficou muito confuso? Porque tipo, eu sou ótima em saber das coisas mas para explicar sou uma péssima professora.

    Mas o que eu to tentando dizer aqui é que, meu Id é cheio de coisas, cheio de memórias e experiências ruins. E muita das vezes, eu to bem, to zen, entrei pra faculdade com o Enem... Mas acontece alguma coisa, que me faz resgatar essas memórias ruins e pronto, era uma vez uma Aysla feliz. E tipo, não está sob meu alcance controlar essas coisas sabe? Não é como se eu quisesse ficar assim.
     Chega até ser engraçado ouvir as pessoas dizerem: "Repreende em nome de Jesus que passa" sendo que o buraco é bem mais embaixo. Eu já contei a vocês que eu sofro com alguns transtornos, e eu até fiz terapias, e até acredito que seja por conta delas que eu ainda estou viva. Mas, os meus problemas sempre vão estar aqui. Não é como se eu pudesse fugir deles sabe?

     E ao mesmo tempo em que eu fico mal, que eu me afogo no meu próprio mar revolto, eu levo pessoas, pessoas que se importam comigo, pra se afogar junto. E eu não acho justo fazer isso com elas, não acho justo mesmo.
     Porém, eu não posso negar a elas o direito a escolha, não posso porque se fizer vou estar sendo egoísta. Olhe só o Theo, ele está todo machucado porque o privei de escolher. Pensei só em mim. Eu sou uma péssima pessoa.

     É por esse motivo que eu estou solteira, não posso cuidar de mim mesmo, como vou cuidar de outra pessoa? Porque sim, o relacionamento tem que ter reciprocidade em tudo, um tem que cuidar do outro.

    Ah... foi uma péssima idéia me envolver fisicamente com ele. Não que não tenha sido bom, ele foi incrível. As vezes fecho os meus olhos, e sinto o toque dele em meu corpo, a maciez dos seus lábios contra os meus, o seu cheiro... tudo está bem vivo em minhas memórias. Mas eu sou toda bugada. Ele merece uma mulher especial ao lado dele, uma mulher normal e não uma doente como eu...

-Tá pensando o que? -pergunta o Theo curioso. Desde que voltei para a vida, ele não larga do meu pé. Começamos uma série que intitulamos de filmes de "A à Z", onde cada noite a gente assiste um filme daquela letra. Começamos com "Até o último homem" na letra "A", sim, os filmes são de vários tipos, e agora estamos na letra "D" e o filme da noite é "D.U.F.F".

-Em nada... -respondo comendo um pouco do sorvete.

-Hum, sei... -desconfia- ele também pensa em vocês Aysla...

-Ele quem?

-Quer mesmo que eu fale em voz alta? -ergue uma sobrancelha.

-Como você sabe? -rebato sua pergunta com outra pra desviar o assunto.

-A Ava me disse e... -responde sem se dar conta.

-Você e a Ava estão se falando? Uuuh... - interrompo insinuosa.

-E... não muda de pauta Aysla. -cora- O assunto aqui é você e o Mendes.

-O que aconteceu com aquela estagiária lá? -ignoro sua fala, meu amigo apaixonado é tão lindo.

-A Ava bota ela no chinelo, já reparou como ela é linda? -fala com os olhinhos brilhando.

     Aaaaaah, eu shippo tanto esse casal...