1 - Caitriona

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_ Você está ótima! _ elogiei Lauren, que havia acabado de chegar à
redação depois da sua licença maternidade.
_Ah! Obrigada, querida, vou precisar desse apoio moral para comer
bastante matinho e voltar a ter aquele corpinho! _ riu e pôs sua bolsa sobre a mesa.
Lauren era uma grande amiga.
_Oi! Como está a mais nova mamãe? Leanne, nossa editora-
chefe trocou dois beijinhos com Lauren e depois me cumprimentou com apenas um olhar.
Eu não gostava muito dela, me soava tão falsa quanto os guarda-
chuvas de camelô: quando você pensa que vai te tirar de uma tempestade, te deixa na mão.
_Lauren, temos aqui para você hoje... _ ela olhou no papel. _ ... Um
cadáver foi encontrado carbonizado dentro de um "microondas" feito de
pedras. E quero fotos e nota sobre os dois corpos espedaçados que
acharam em um chafariz no centro da cidade. Tudo bem para você?
_Claro. _ ela pegou as pautas e a esperou ir embora para cochichar
comigo. _ Eu acabo de arrumar o quarto do meu bebê com ursinhos e cheiro de lavanda e ela me manda cobrir corpos picados? "Está tudo bem para você?" _ imitou a voz de Leanne.
Eu ri baixinho.
_Ah! Cait... _ A Loira voltou com os papéis para mim. _ Faz uma
matéria sobre esmaltes, cabelo, cremes ou alguma coisa assim para a gente atualizar a página da revista.
Revirei os olhos assim que pude.

_Quer me dar as unhas e ficar com os corpos? _ Lauren perguntou
sem olhar para mim, digitando no buscador para ver quantos sites da Internet já tinham dado a notícia.
_ Eu não gosto disso. _ suspirei e bebi meu café. _ Parece que eu
não escrevo nada de importante.
_ Vai chegar sua grande matéria. _ Lauren sempre me incentivando.
_ Agora, deixa eu cuidar desses corpos aqui.

Abri meu e-mail.

_ "Coletiva de imprensa com ator Sam Heughan". _ li em voz alta o
assunto do e-mail que acabava de receber.
_ Sobre o que você vai falar? Suas férias em Bahamas, com
mulheres na beira da piscina te dando suquinho de
canudinho na boca? _ conversei com a tela do computador.
Era tão estafante viver como a sombra dos artistas. Eles começam
te seguindo como se fosse o bote salva-vidas e, depois, pisam e desprezam como se fôssemos o vírus ebola.
Mas eu tinha que imprimir minha marca em algo mais significante
que esmaltes. Subir um degrau na escala de relevância as custas dele não seria um sacrifício tão grande.
Pedi a pauta para Leanne que não negou. Então, enfiei o cordão do
crachá no pescoço e chamei Luke um dos fotógrafos para cobrir essa comigo. Assim
que chegamos a porta do hotel onde o galã estava hospedado, nos
deparamos com um grupo de garotas aos berros e se descabelando.
_Do que elas seriam capazes para tocarem nele? _ Luke olhou para as
fãs enlouquecidas.
_Comer uma dúzia de baratas? _ cruzei os braços e
encostei o bloco de anotações no queixo.
_Dormirem em uma caixa de acrílico repleta de cobras? _ ele
ajudou.
_Não... Isso seria fichinha. _ fiz uma careta.
_ É porque elas ainda não viram que eu cheguei. _ Luke estufou o
peito.
_Claro, vou avisar. _ ri e dei-lhe uma tapinha nas costas.
_Só fala para elas não rasgarem minha roupa, eu sou tímido.
_Pode deixar. _ caminhei até o segurança e mostrei o meu crachá
de imprensa.

Aquele pequeno cartãozinho azul e branco com a minha foto tinha a
credencial para o mundo dourado e estelar que as fãs morreriam para fazer parte. Subindo pelo tapete vermelho e as deixando para trás, senti-me poderosa.
Há uma inveja do público que consome as revistas e jornais a
respeito do nosso trabalho por estarmos nos bastidores do que acontece de mais importante. A diferença é que os artistas ganham uma fortuna capaz de
comprar meu apartamento trezentas vezes e serão lembrados pelo caderno de cultura a cada década da sua morte, enquanto eu, a mera jornalista, vou contar as moedinhas para pagar o aluguel e ainda terei que me rastejar para
não ser mandada embora a cada vencimento de contrato temporário.
_Povo mesquinho. _ Luke pegou um pedaço de torrada com patê. _
Só trazem essas torradas com cimento para a gente comer.
_Vamos pegar um bom lugar... _ puxei-o pelo braço.

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