10 - Sam

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Cait estava deitada de bruços entre as almofadas do sofá, quando
eu lhe trouxera o copo de água que me pedira. Ela tinha se entupido de macarrão no jantar comigo e estava com sede. Deixei o copo na mesa de centro e o barulho do vidro se chocando com a superfície a despertou.
_ Desculpe... _ ela fez menção a se levantar.
_Pode ficar, só babou nessa almofada.
_Eu não babei. _ ela riu.
Sentei-me na mesinha.
_Já sei... Você vai dizer que a cena está perfeita?
_Ah, é! Você não gosta que eu olhe para você. _lembrei-me.
_Não é isso... _ riu de novo, constrangida.
_Mas a cena não está perfeita. _ corrigi.
_Não? Qual o jogo dos sete erros? Hum... Eu estou com uma roupa
estranha, descabelada e...
_Você está linda.
_Não fala assim. _ virou o rosto para o lado do encosto do sofá, se
escondendo.
_Desculpe, você também não gosta de elogios.
_Está me pintando como um monstrinho.
_O erro da cena é que não vai dormir nesse sofá.
_No chão, então?
_Na minha cama.
_Ãnh? _ ela sentou-se invocada. _ Pensou que podia me trazer aqui
e...? _ Ficou de pé.
Eu franzi a testa e não entendi por que ela mudara de humor uma
hora para outra, como se tivesse levado uma injeção de adrenalina que a tirasse do sono.
_Não sou o que está pensando. _ cruzou os braços.
Eu ri quando descobri o que achou que eu ensinuara. Levantei-me e
toquei no seu queixo:
_Não vai dormir comigo. Não terá esse prazer! _ pisquei o olho e
virei-me de costas para atravessar o corredor.
_Ah... era... isso...? _ ela tentou consertar e achei muita graça.
Fechei a cortina e puxei o lençol da cama. Cait apareceu no quarto
com as mãos atrás do corpo, envergonhada.
_Eu não quis ser grosseira, mas é que está tudo muito estranho. Eu
aqui, você... _ ela gesticulava, se atrapalhando na própria fala.
Parei com o travesseiro na mão e sorri para tranqüilizá-la.
_Está tudo bem.
_Eu fui uma estúpida. Mas pense bem... Nós, até ontem, nem nos
conhecíamos, aí hoje, eu estou aqui no seu quarto, aí você me diz que vou dormir na sua cama, aí sabe como é né... eu...
Peguei um lençol no guarda-roupa.
_Por que está tão nervosa?
_Nervosa? Eu? Não, não estou.
_Não? _ repeti, com a testa franzida.
_N-ã-o.
_Então, bom sono.
Sai do quarto e ainda pude ouvi-la dizer baixinho:
_Caitriona, você é uma idiota completa!
Deitei na cama da dependência de empregada e fechei os olhos. Eu
não tinha empregada que dormia em casa, por isso, acabava sobrando uma cama.
Estava me sentindo feliz. O dia havia sido repleto de grandes
emoções, situações novas e reais. Ouvi o barulho de um celular tocando.

O som vinha da janela que dava para a área de serviço. Caminhei
descalço até a cozinha. Acendi a luz. Abri a porta dos fundos. O vento úmido me arrepiou os pêlos dos braços. O barulho partia da bolsa de Cait esquecida ali. Será que eu deveria atender? Bom, ia desligar, então. Afinal, não conseguiria dormir com aquela musiquinha tocando.
Abri o zíper da bolsa e achei o telefone iluminado.
Peguei-o para desligar e vi o nome que indicava na
chamada: "Editora chefe Starzys".

O celular vibrava na minha mão e eu não tinha ação. Ela era
jornalista?! Era esse o site para o qual trabalhava? Apertei o botão e desliguei o aparelho. Deixei-o dentro da bolsa. Peguei o pequeno bloco, vi as anotações:
"Inundação no túnel paralisa o trânsito".
Virei as folhas e fiquei espantado com a quantidade de coisas
escritas sobre a chuva. Ela estava cobrindo a matéria quando eu fui buscá-la?
Guardei tudo de volta no lugar e fechei o zíper.

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