30 - Sam

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_ Valeu, pessoal! Ficou muito bom! _ o produtor bateu palmas e o
fotógrafo apertou a minha mão.
Stella se aproximou com uma garrafa pequena de água mineral e
uma toalhinha para limpar o excesso de óleo que passaram no meu corpo.
_Onde está a Cait? _ perguntei.
_Ela foi embora sem explicação. Fugiu.
_Como assim fugiu? _ franzi a testa.
_Sei lá. Ela pareceu um bichinho do mato...
Nem terminei de ouvir Stella. Peguei o celular e disquei o numero de Cait. Tocou, mas ela não atendeu e caiu na caixa postal.
_Você falou alguma coisa para ela? _ perguntei intrigado.
_Eu? Longe de mim. _ respondeu, mexendo no seu celular.
Olhei o celular em minha mão, pensei em religar, mas não o fiz.
_Quanto tempo faz que ela saiu?
_Uns minutos.
_Quantos?
_Sei lá! 15, 20...
_Vou ver se ela está em algum pela redondeza.
_Não! _ Stella veio atrás de mim. _ Você não pode... _ conteve-me.
Parei diante da porta de vidro do estúdio. Ela tinha razão, eu não
poderia sair pela rua sem camisa. Senti-me preso como nunca. Liguei mais uma vez e torci em pensamento para que atendesse.
_Alô? _ ouvi sua voz doce e baixa.
_Cait! _ respirei aliviado e feliz.
_Oi.
_Cadê você?
_Eu estou indo para casa!
_Por que não me esperou?
_Pensei que demoraria...
_Não! Eu quero almoçar com você, não vai escapar!
Ela riu.
_Sério! Onde está? Vou te pegar!
_Hum... chegando em casa.
_Estou indo para aí. _ disse-lhe.
_Aqui?
_É!
_Sam, eu quero hoje ficar sozinha... Preciso de silêncio. Foi tudo
muito louco de ontem para hoje... eu...
_Tudo bem, eu prometo que não falo nada. Mas, estou indo agora
para sua casa.
Desliguei o telefone e coloquei no bolso da calça. Vesti a camisa e
peguei as chaves do carro. Stella disse que eu não tinha nada de importante
para fazer.
_Ótimo!
_Onde vai?
_Sair. Nos vemos amanhã, então.
_Na sua casa? _ perguntou.
_Não. No escritório. Você não disse que já estava tudo quase pronto
lá?
_Hum... mas...
_Não se preocupe, você consegue. _ pisquei o olho para ela.

[ ...]

Quando desliguei o telefone já estava subindo a escada do meu
apartamento. Virei a chave na porta e entrei. Não demorou mais que meia hora para Sam chegar. Nesse tempo minha cabeça era uma tormenta de pensamentos que rodopiavam em uma velocidade quase desastrosa. Eu já não me sentia forte para lutar por ele. Ficar em sua casa no silêncio e
privacidade era uma coisa. Mas, amá-lo sob os holofotes era outra
completamente diferente.
A campainha tocou. Abri. Ele estava em pé, com um bloco de
folhas de ofício na mão. Eu suspendi as sobrancelhas. Na primeira, estava escrito em letras garrafais:

"Eu prometi que não ia falar."

Sorri e balancei a cabeça para os lados. Não acredito...

"Eu vim aqui porque meu dia ainda não tinha começado sem seu
sorriso"

Ele puxou a folha para trás das demais e assim foi fazendo
sucessivamente.

"Nem tudo é como você pensava.
Mas eu ainda nem te mostrei nada!"

"Esse é o mundo dos outros.
Eles acham que sabem tudo."

"Só que eu guardei o meu melhor apenas para você. "

"Não os deixe entre nós.
Porque eu já não sei o que é não precisar de você. "

"Você é a melhor parte de mim. "

"Não fuja, porque vamos perder tempo retornando.
Me deixe te amar porque essa é a única coisa que não está na
minha agenda."

"Eu não preciso tomar nota do que guardo no coração.
Você quer o silêncio. Eu te dou.
Só não deixe o silêncio despovoado."

"Posso silenciar ao seu lado?"

Sam abaixou as folhas e olhou-me com os olhos marejados. Puxei-o
pela mão e fechei a porta. Beijei sua boca e os papéis deslizaram de seus dedos.

[...]

Entramos no meu restaurante preferido e pedimos uma ótima
macarronada. Eu estava com muita fome e precisava de muito carboidrato. Cait riu e disse que eu parecia um menino. Acariciei seu rosto e lhe falei ao seu ouvido que a sobremesa seria em sua casa.
_Ah é? _ ela beijou-me de leve e antes de fechar os olhos,
pude ver um flash de luz.

Em um susto olhei para frente e reparei em um fotógrafo do lado de fora do vidro do restaurante. Fiz uma cara de bravo e me afastei de Cait.
_Que foi?_ ela não entendeu nada.
_Temos companhia!
Ela olhou para trás e constatamos que ele não só tirou fotos como
estava filmando todo nosso jantar. Agora tínhamos uma “vela” para nos acompanhar.
_Por isso, que eu não consigo mais nem sair! _ levei as mãos à
cabeça.
_Amor. Calma. Está tudo bem. _ ela falou baixinho perto do meu
ouvido e acariciou o cabelo da minha nuca. _ Quer cancelar o pedido? Eles vão entender se a gente explicar... podemos comer lá em casa.
_Não, não... _ respondi rispidamente, descontando a minha raiva nela.
Ela bebeu o copo de água e ficou olhando para o pão em cima da
mesa fixamente.
_Desculpe, desculpe, eu sou muito impulsivo!
_Vamos embora...
_Não! Vamos ficar. Não posso deixar de fazer as coisas!
Não foi o melhor almoço. Matei minha fome física, mas minha
vontade de ficar em privacidade com ela não foi saciada. Pelo contrário, ficamos a mercê de muitos flashs.
Antes de entrar no carro, acenei para o fotógrafo que pediu um
“beijo” nosso. Respirei fundo e fechei a porta.
_Para minha casa ou a sua? _ perguntei mecanicamente.
_Não íamos ter a sobremesa? _ ela riu.
_Claro. _ liguei o carro.
_Cruzes! Com esse humor só um café preto e amargo, hen!
_Desculpe...
_Vamos para minha casa, então. _ ela mudou de idéia. _ Stella
estará lá?
_Claro que não!
_Como as coisas mudaram...
_Ela não gostou muito.
_Eu me refiro também a você. Parece mais bonito...
_Olha, o primeiro elogio que recebo!
_Aaaah, vai ficar me zoando, né?
_Eu posso ficar feliz em receber o primeiro elogio oficial, extra
profissional?!
_Metiiiiido. _ ironizou de brincadeira.
_Me sinto tão bem ao seu lado. Sei que suas palavras são verdadeiras.

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