28 - Caitriona

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Sam me pareceu pensativo desde que Stella soube da nova relação
de trabalho e saiu aborrecida.
_Por onde anda essa cabecinha? _ perguntei e fiz um carinho com a
mão no cabelo da sua nuca.
Ele virou o rosto para mim e não quis responder. Beijou-me e
continuou calado, só instigando ainda mais meu interesse.
_Pode falar comigo. Aliás, é o que mais fizemos até aqui. _ ri e
deixei que nossos dedos se entrelaçassem.
_Nada mais importante que estar com você. _ segurou meu rosto e
acariciou minha bochecha com o polegar.
_Não quero que existam barreiras entre nós... _ falei com jeito para
não parecer chata.
Sam soltou-me abruptamente e se levantou. Enfiou uma das mãos
no bolso de trás e com a outra coçou algum lugar no centro das costas, se contorcendo. Não estava em nada confortável. Andou uns passos à frente e
soltou o braço, deixando cair ruidosamente sobre a coxa. Esperei que virasse para mim outra vez.
_Quer almoçar? _ perguntei.
Levantei as sobrancelhas incrédula. Ele não ia dividir comigo o que
se passava?
_Quero sim, mas só depois de você sentar aqui e me dizer por que
está tão calado! _ falei firme e com a voz um pouco alta.
Sam sentou-se e manteve os cotovelos sobre as pernas olhando diretamente para frente.
_Eu estou comprando uma briga. _ disse como se aquilo só tivesse
significado para si mesmo, mas eu suspeitava que se relacionava a sua assessora. _A Stella tem um pouco de razão em sentir-se traída. _ soltou de uma vez o ar dos pulmões e jogou a cabeça para trás, no encosto do sofá.
_Ora, então, por que fez isso?
_Porque eu quero viver sozinho um pouco e ter uma só sombra, a
minha.
_Mas o que te impediu de ter isso antes?
_É tão complexo... _ balançou a cabeça para os lados.
Levantei-me e sentei em cima da mesa de centro. Olhei nos olhos
de Sam e peguei suas mãos.
_Me explica?
_Você quer mesmo me entender, não é? _ sorriu, desarmado.
_Como posso querer só um pedaço de você? Só um corpo: uma
boca, uma mão, um peito? Eu não entrei nisso para ter sua presença social ao meu lado. Eu preciso aprender como você funciona, qual a sua lógica! Nossa
relação é um nó frouxo ainda e só com a proximidade ele vai se tornar tão firme que ficará impossível desamarrá-lo!
Ele deu um impulso e se ajoelhou na minha frente para que ficasse
na altura de me beijar.
_Você é o que eu precisava. _ encostou sua testa na minha.
Acariciei suas costas e retribui com mais beijos. Puxei-o para o sofá
e ficamos deitados entre as almofadas com nossos rostos muito próximos.
Sam contornou meu rosto com a ponta dos dedos, como se pudesse decorar o desenho das curvas para reproduzi-lo.
_Não é muito simples minha relação com a Stella. _ ele abaixou os olhos e acariciou minha cintura nua pela blusa um pouco suspensa. _ Não é um mero contrato de trabalho, eu te pago e você faz o que deve. Pronto,
acaba e vai embora.
_Eu bem que tentei esse método. _ observei.
_Ainda bem que não conseguiu! _ me encheu de beijos salpicados
na boca.
_Você é um patrão muito sedutor. _ ri alto e ficamos ainda mais
colados, com as pernas entrelaçadas. _ Para onde foi minha impessoalidade jornalística?
_Ah! Deve ter ficado caída em algum canto lá da sua sala. _ zombou.
_Sam! _ levantei um pouco o rosto e fingi aborrecimento, mas
acabei enchendo seu pescoço de beijos e voltei a deitar no seu braço. _ Eu já percebi que a Stella tem um certo domínio sobre tudo aqui. Pelo que me
parece, sua família não gosta muito... então.
_ Eu comecei a me entregar ao teatro. A Stella me descobriu. Ela tinha uma visão muito otimista sobre mim e me lançou no mercado. De repente, eu
era o queridinho dos comerciais e estava fazendo filmes.
_Sente que não vai poder nunca retribuir?
_Um pouco isso. Acabo tolerando tudo por comodismo. É muito
fácil ter alguém que faz tudo dar certo. Só que isso
tira também a minha privacidade. Eu praticamente não tenho nada que só eu saiba. Às vezes, me pergunto o que é só meu e o que é embutido por Stella na minha vida como um anexo à minha personalidade.
_ Então, me escolheu como uma coisa para não partilhar com
Stella? _ franzi a testa. _ Você não está me usando para ensiná-la a te dar liberdade de...?
_ Não, não... _ Sam levantou-se e seu rosto ficou acima do meu. _
Cait, eu quero você só para mim. Não me interprete mal, por favor. Não gostaria de fazer um relatório sobre meu relacionamento para Stella passar como release para a imprensa! Não quero os olhos dos outros sobre nós,
analisando a gente!
_Nem eu... Mas, será inevitável. Eu tenho tanto medo.
_Não posso mudar o mundo para você, mas você pode mudar meu
mundo e já está fazendo isso.
Sorri.
_Exagerado!
_Eu sou mesmo exagerado, por você eu mudaria tudo... _ beijou
meu pescoço e me fez fechar os olhos. Puxei sua camisa e joguei para trás.
Ouvimos um barulho na porta da varanda e, de repente, Stella
estava em nossa frente. Assustei-me e Sam parou de me beijar.
Nós três nos entreolhamos.

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