Capítulo 1

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Dia 1 – Um mês antes...


Gabriel Duarte

Segui em direção à beira-mar de São José, Rosa pediu que a pegasse ali para seguirmos viagem á Laguna. Só esperava que ela fosse uma boa atriz e conseguisse fazer todos acreditarem que realmente éramos namorados. Minha mãe era muito observadora, ela seria a pessoa mais difícil de enganar, mas se ensaiássemos a história direitinho durante aquela uma hora de viagem, tudo daria certo.

Ao chegar na beira-mar já consegui vê-la de longe, seus cabelos estavam presos em um coque, mas algumas mexas mais rebeldes se soltaram do coque e balançavam ao vento. Ela usava um vestido rosa chá com alguma espécie de flor desenhada por todo ele, ela segurava a barra do vestido com uma das mãos e com a outra segurava a alça de uma mala com rodinhas que parecia também cheia de figuras, apoiado em seu nariz fino estava um óculos de sol grande cobrindo seus olhos azuis esverdeados, ou seriam verdes azulados? Já não lembrava mais, mas aquela cena sem dúvidas era uma obra de arte.

Um escritor poderia criar toda uma história apenas ao ver aquela garota de cabelos cor de fogo, com seus cabelos rebeldes, segurando a barra de seu vestido e com uma mala que parecia infantil ao lado. Ela estaria fugindo de casa? Ela estaria á procura de aventura? Ou ela estava à espera de um namorado que viria busca-la para que ambos fugissem de sua vidinha chata?

Eu como pintor, se fosse desenhar aquela tela, ela estaria cheia de cores vivas e não pintaria perfeitamente, deixaria o pincel criar vida em minha mão e agir com rebeldia e força...ao mesmo tempo tristeza. Não sabia dizer o porquê, mas a sua imagem também parecia solitária, triste e perdida.

Buzinaram atrás de mim, eu estava tão pensativo observando Rosa que estava dirigindo muito devagar, a buzina chamou a atenção de Rosa que acenou para mim e sorriu como uma criança quando vê que o pai chegou em casa; liguei o pisca-alerta e parei no acostamento esperando ela chegar até mim, ela correu com seu vestido florido, desta vez sem se importar se ele voaria ao vento, ela apenas correu arrastando sua mala e sorrindo.

Desviei o olhar daquela cena. Por que eu não conseguia parar de olhar? Me concentrei em descer do carro para ajudar Rosa a colocar a mala no porta-malas.

— Bom dia. — Cumprimentou-me Rosa.

— Bom dia, você é bem pontual. — Comentei.

— Pontualidade mostra profissionalismo, odeio esperar então detesto deixar os outros esperando. — Disse ela. — Está um lindo dia não é mesmo? — Ela colocou os óculos na cabeça e sorriu ainda mais.

— Sim, está bom para viajar. — Falei e então peguei sua mala. — Pucca?

Era uma mala branca cheia de figuras da Pucca.

— Ela é fofa. — Foi tudo o que ela me disse e então entrou no carro. Balancei a cabeça e coloquei sua mala peculiar ao lado da minha mala preta.

— Você recebeu o relatório que enviei ontem? — Perguntei quando voltamos para a estrada.

— Sim, recebi e já decorei tudo. — Ela estava confiante e prosseguiu falando. — Seus pais se divorciaram quando você tinha cinco anos, eles voltaram a se aproximar depois de cinco anos quando você teve leucemia, você tem um meio-irmão chamado Gustavo que tem vinte anos, Daniel de quinze e Ana de treze. Você faz aniversário dia dezessete de fevereiro e tem vinte e cinco anos, completa vinte e seis mês que vem.

— Perfeito e os nomes dos meus pais e avós?

— Marianne é sua mãe, que é linda por sinal. Seu pai se chama Heitor, sua avó Tânia e seu avô Carlos Eduardo.

Cicatrizes do passado - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora