Capítulo 5

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Gabriel Duarte

Estava caminhando de mãos dadas com Rosa, minha mãe havia falado para ela sobre o coreto e como as estrelas ficavam mais brilhantes lá, sem as luzes da casa para atrapalhar, caminhávamos lado a lado, em silêncio, perdidos em seus próprios pensamentos. A mão de Rosa era pequena comparada a minha, não era tão macia como a mão de uma atriz deveria ser, mas eu até mesmo gostava disso; eu sempre soube apreciar as imperfeições do mundo e transforma-las em arte, as mãos de Rosa diziam muito sobre ela, sua leve aspereza mostrava suas lutas diárias, o tanto que ela trabalhou e teve que se esforçar para chegar até aqui.

Já estávamos longe da casa, eu podia facilmente largar sua mão agora, afinal, ninguém nos observava. Porém por alguma razão desconhecida, que eu não quis questionar naquela noite, eu não queria soltar sua mão, que encaixava de forma perfeita com a minha. Há quanto tempo fazia que eu não andava de mãos dadas com alguém?

Eu já tinha a resposta. Ana. Ana foi minha primeira namorada e última, desde então nunca mais andei de mãos dadas com ninguém, não troquei carinhos em publico com ninguém e nem tive alguém com quem compartilhar pensamentos. Vivi minha vida inteira sozinho, tive minha cota de mulheres, mas nunca as deixei entrar em minha vida de verdade.

Sabia que dali uns dias, Rosa iria voltar a sua vida e eu a minha, não entendia porque isso me dava uma sensação aterrorizante de solidão. Uma solidão que talvez sempre estivesse lá, mas apenas Rosa me fez percebe-la.

— Uau, que incrível. — Ela soltou minha mão e correu até o coreto como uma criança em um dia no parque. — Esse é sem dúvidas meu lugar favorito no mundo. — Ela encarou o céu estrelado, onde bilhões e bilhões de estrelas brilhavam.

— É realmente incrível. — Falei encarando-a. Rosa me encarou e pareceu perceber que eu estava observando-a com atenção demais e não estava chamando o céu estrelado de incrível. — É... bem... você gosta de estrelas? — Encarei o céu desviando meu olhar do seu.

— Claro, quem não gosta de estrelas? É tão incrível esses fantasmas...

— Fantasmas? Você acredita nessas coisas?

— Claro, estamos vendo um montão de fantasmas neste momento. — Olhei ao redor assustado.

— Onde?

— Olhe para o céu e verá muitos fantasmas. — Ela me encarou sorrindo e soltou uma risadinha ao ver que eu não estava entendendo nada. — Você já assistiu ao programa Cosmos?

— Não.

— Bem, há uma passagem que o astrônomo Willian Herschel está caminhando com seu filho na praia, e o filho pergunta se ele acredita em fantasmas, ele diz que sim, não no fantasma humano, mas nas estrelas, pois a maioria que vemos hoje, já estão mortas.

— Por causa dos anos que a luz leva para viajar? — Perguntei.

— Bingo! — Ela voltou a encarar o céu e suspirou. — Ele disse: Toda estrela é um sol tão grande e brilhante como o nosso, imagina o quanto você precisaria se afastar do sol para que ele parecesse uma estrela pequena como essas, a luz delas viajam muito rápido, mais depressa que qualquer coisa, mas não infinitamente, leva tempo para que a luz das estrelas chegue até nós, as mais próximas anos, as mais distantes séculos, algumas estão tão distantes que se passam eras até que sua luz chegue até nós e quando a luz de algumas estrelas chegam até aqui, elas já estão mortas e delas só vemos o fantasma. Vemos apenas a luz, já que o seu corpo já se foi a muito tempo. — Eu estava fascinado pela história, Rosa era sem dúvidas uma ótima contadora de história, e seu entusiasmo era contagiante.

Cicatrizes do passado - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora