Capítulo 6

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Rosa Bianchini

Dois dias haviam se passado desde a cerimônia de casamento dos pais de Gabriel, dois dias desde nosso último beijo, dois dias desde a estrela cadente, hoje, segunda-feira pela manhã, todos os familiares de Gabriel retornaram para suas casas, suas vidas e sua rotina. Eu ainda tinha mais quatro dias ali com aquela família que me acolheu tão bem.

— Ei Rosa venha até aqui. — Ana me chamou para dentro da piscina jogando água em mim.

— Já fiquei tempo suficiente aí. — Ri. — Estou mais murcha que não sei o que.

— Ah quem se importa de ficar murcha? É apenas nosso corpo se adaptando a água.

— Nerd! — Provocou Daniel seu irmão.

— E com orgulho, podem nos tirar tudo neste mundo, nosso dinheiro, nossos bens, mas jamais poderão arrancar de nós o nosso conhecimento.

— Ah não ser que você tenha Alzheimer. — Retrucou ele.

— Ah vê se não enche Daniel. — Ana e ele começaram a brincar agora, um jogando água no outro, fiquei observando aqueles dois.

Eu estava deitada em uma das espreguiçadeiras a beira da piscina, Gabriel estava com seu pai e seu irmão Gustavo preparando o churrasco, Marianne estava adormecida sob a espreguiçadeira e os avós de Gabe estavam dentro da casa assistindo ao noticiário que não perdiam nunca.

Pensei que a casa ficaria silenciosa após a partida de todos, mas ela mantinha-se barulhenta por conta dos irmãos de Gabriel. Fiquei observando aqueles dois brincarem e me perguntei como teria sido minha vida se eu tivesse um irmão ou irmã. Talvez fosse bem menos solitária, ou talvez mais difícil, já que teria que ver meu irmão ou irmã sofrer a perda de mamãe.

— Ah essas crianças me enlouquecem. — Marianne que estava até o momento adormecida sentou-se na espreguiçadeira. — Não se tem um minuto de sossego quando se é mãe.

— Pense na viagem sábado que vem. — No sábado seguinte, Marianne e Heitor fariam uma viagem até Fortaleza para passar cinco dias em lua de mel, as crianças ficariam ali com os avós.

— Ainda assim não terei sossego.

— Mas estará em lua de mel. — Falei.

— Com o celular ligado, sempre no alto, e por mais que eu me distraia por alguns momentos, passarei metade do tempo ligando para saber se tudo está bem. — Ela deu de ombros. — Eu não consigo ser diferente, me pergunto se todas as mães são assim ou se sou assim porque quase perdi um filho. — Ela olhou na direção onde Gabriel, Gustavo e Heitor conversavam animados diante da churrasqueira.

— Imagino que quase ter perdido um filho tenha ajudado você a ser assim. — Segurei em sua mão. — Então é compreensível.

— Sabe, às vezes me sinto culpada, tenho três crianças. Gustavo, Daniel e Ana, eu me preocupo com eles demais, mas com Gabriel é que me preocupo mais. — Ela suspirou. — A vida após o câncer não é fácil sabe, todo o ano ele precisa fazer vários exames, ele precisa se cuidar sempre e todos os anos quando ele faz os exames novamente eu fico com o coração apertado.

— Ele é um homem forte, tenho certeza que essa doença maldita jamais voltará. — Confortei-a.

— Sim, mas o medo e a ansiedade são mais aterrorizantes do que a coisa em si. E mesmo ele sendo o mais velho, ele não viveu nada ainda, ele se trancou em uma bolha desde a perda da Ana, e por isso estou muito feliz em te conhecer Rosa.

Cicatrizes do passado - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora