Capítulo 10

665 159 18
                                    


Gabriel Duarte

Quando desembarcamos no Aeroporto de Guarulhos Rosa parecia uma criança tamanha felicidade, ela disse que nunca esteve em São Paulo e que sempre quis conhecer a cidade em que a maioria dos seus atores favoritos viviam.

— Laura Cardoso nasceu em São Paulo, a admiro tanto, um dia quero conhece-la. — Disse sonhadora.

— E você irá, até mesmo atuar com ela quem sabe. — Pisquei para Rosa.

— Será? Oh meu deus isso seria um sonho, minha mãe amava Mulheres de Areia. — Disse ela com saudades em cada palavra pronunciada. — Em seus dias bons ela brincava comigo eu era a Ruth e ela a Raquel ou então ela era a Isaura.

— Foi aí que nasceu seu desejo de atuar? — Perguntei interessado.

— Sim, mamãe disse que tinha dois sonhos, um era atuar e o outro era se apaixonar; infelizmente ela se apaixonou primeiro e só atuou em peças na escola...

— Por que infelizmente? — Estávamos caminhando no meio de muitas pessoas naquele grande aeroporto, porém era como se estivéssemos apenas nós dois, minha atenção era toda voltada para Rosa e em cada palavra pronunciada. — O amor não é algo único e lindo? — Perguntei, mas sabia que o amor poderia muitas vezes ser cruel, principalmente quando a vida nos roubava aquela pessoa que amávamos.

— Ela se apaixonou pela pessoa errada. Talvez se ela tivesse se tornado atriz antes, tivesse conhecido uma pessoa melhor, tivesse sido mais feliz... talvez ela ainda estivesse aqui. — Ela baixou a cabeça e peguei em sua mão entrelaçando nossos dedos.

— Mas você não teria nascido. — Ela me encarou surpresa. E eu não estaria assim, tão mexido que assusta. Acrescentei em pensamento.

— E o que Rosa Bianchini acrescentou ao mundo com seu nascimento? — Perguntou ela como se ela não fosse alguém de grande importância.

— Luz e cor. Rosa Bianchini é como uma grande estrela brilhante que ilumina quando há total escuridão e colore os ambientes mais cinzentos. — Ela sorriu, aquele sorriso triste, mas o brilho em seu olhar estava lá, estava de volta a luz de Rosa.

— Você sabe dizer as melhores coisas Gabriel. Sabe fazer uma garota se sentir especial. — Entramos em um taxi e pedi que nos levasse até o Meliá, hotel que ficaríamos.

— Você é uma garota especial Rosa. — Falei após o carro dar partida, estávamos com as mãos unidas ainda.

Eu estava sendo verdadeiramente sincero e pela quinta vez naquele dia desejei beijar seus lábios, a primeira foi quando a vi de longe, a segunda quando ela entrou em meu carro, a terceira dentro do avião, a quarta no desembarque e agora a quinta, dentro do taxi. Mais uma vez me contive, nosso namoro era falso, não precisávamos fingir naquele momento.

Tentei me distrair encarando pela janela do carro as pessoas lá fora, eu podia não beijar Rosa, mas sua mão continuava unida a minha, eu não conseguia larga-la. Hoje á noite era minha exposição e eu tinha muito o que pensar, então me concentrei a pensar em trabalho, assim não pensava em beijos. Ou em nossa noite de entrega naquele acampamento, uma das noites mais libertadoras da minha vida, a noite em que pude mostrar quem eu realmente era, em que fui confortado por Rosa e pude chorar em seus braços como a tempos eu não fazia.

Era tão fácil sorrir diante de todos e dizer que tudo estava bem. Eu dizia: estou bem, quando queria dizer que estava morrendo por dentro, ficava em silêncio quando queria gritar e sorria quando desejava chorar. Aprendi que muitas pessoas vivem assim, usando aquela máscara da falsa felicidade, afinal ninguém quer saber dos seus problemas e se você fala muito de seus problemas e dores é taxado de dramático e que se faz de vítima.

Cicatrizes do passado - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora