Capítulo 3

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Rosa Bianchini

Despertei na manhã seguinte com um falatório alto do outro lado da porta do quarto, Gabriel já não estava mais no sofá, o som do chuveiro ligado no banheiro também chegou aos meus ouvidos. Seis dias, eu precisava atuar por apenas seis dias, um dia já havia se passado e tudo deu certo. Levantei da cama e encarei meu reflexo diante do espelho, meus cabelos estavam um verdadeiro caos e minha bochecha estava com uma marca de travesseiro do lado esquerdo, peguei um laço e fiz um rabo de cavalo para domar meu cabelo, se não Gabriel tomaria um susto se me visse parecendo uma bruxa do Halloween.

Eu nunca iria entender a lógica dos diretores de novelas, séries, filmes e afins. Eles faziam aquelas mulheres acordarem sempre com um rosto de anjo e os cabelos domados, sempre achei que eles deveriam ser mais realistas e faze-las acordar como qualquer mulher comum, por exemplo, como a Anna de Frozen, pois eu sempre acordava como ela.

— Bom dia. — Gabriel saiu do banheiro desta vez já vestido, ele usava uma bermuda jeans escura e camisa polo branca, seus cabelos claros estavam úmidos e o cheiro do seu perfume preencheu o quarto.

— Bom dia. — Cumprimentei-o com um sorriso animado. Não queria demonstrar para ele o quanto seu beijo havia me afetado, não era para isso que eu estava ali, não era para romances e sim para ganhar dinheiro.

Aqueles caras não me deixariam em paz se eu não conseguisse o dinheiro antes de fevereiro.

— Acho que o resto do pessoal chegou, hoje é o grande dia. — Comentou ele.

Senti um frio na barriga, mais parentes. Eu teria que interpretar meu papel ainda melhor com todas aquelas pessoas por perto.

— Por que seus pais decidiram se casar só agora? — Perguntei e ele me encarou pensativo. — Sabe, se sou sua namorada isso é o mínimo que preciso saber.

— Está certo. — Ele se sentou em uma poltrona e suspirou. — Eles se casaram no ano de 1990, eu nasci em 1992 e quando completei cinco anos eles se divorciaram, meu pai cometeu um erro e fez sexo com a secretária, tanto que nasceu meu irmão Gustavo, quando completei dez anos foi descoberto a leucemia e isso fez meus pais se unirem de novo, eles conversaram e resolveram tentar de novo, mas nunca oficializaram a união, resolveram oficializar agora.

— Seu pai foi um cretino. — Falei. — Desculpe a ousadia, mas sua mãe é uma mulher incrível.

— Sim, eu sei. E ele sabe também, tanto que passou os cinco anos de divórcio sofrendo sozinho, ele não namorou, pois não conseguia esquecer minha mãe, em resumo um não vive sem o outro.

— Isso é tão lindo, essa capacidade da sua mãe de perdoar e eles estarem juntos até hoje.

— É sim, pena que nem todas as histórias de amor terminam de forma tão bonita. — Disse ele triste.

— Sim, é verdade...— Falei sentindo meu coração apertar ao pensar na minha mãezinha.

Sempre acreditei que as pessoas só morriam de doenças ou acidentes, jamais pensei que as pessoas pudessem morrer de tristeza. Mas a tristeza é a doença que mais te consome por dentro.

— Bem, vou esperar você aqui, assim vamos juntos cumprimentar a todos. — Assenti. E com um vestido branco de algodão com detalhes em renda corri para o banheiro para me aprontar.

De cabelos soltos, com pulseiras e uma maquiagem simples, afinal estava um dia quente, segui ao lado de Gabriel até a sala de jantar onde vozes altas eram ouvidas.

Cicatrizes do passado - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora