Capítulo 9

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Gabriel Duarte

Sexta-feira á noite quando entrei em meu frio apartamento sozinho, senti o quão vazio ele era, sentei-me no sofá e encarei o desenho de mim e Ana de mãos dadas parecia que haviam se passado séculos desde aquele dia que Ana e eu demos nosso primeiro beijo na praia, aquilo era assustador, Ana estava realmente me deixando agora, tornando-se apenas uma lembrança cheia de saudades e eu não sabia se estava pronto para deixa-la ir.

Eu tinha saúde, uma família incrível, um apartamento confortável para viver e uma carreira de sucesso...então por que me sentia tão sozinho? Senti vontade de ligar para Rosa, convida-la para vir jantar comigo, mas sabia que ela tinha seus compromissos, já havia monopolizando-a por uma semana, e não sabia se estaria à vontade se ela entrasse em minha casa. Aquilo nos aproximaria ainda mais e por mais que eu dissesse que nossa amizade poderia continuar, eu sabia que desejava, lá no fundo do meu coração, que nos tornássemos mais que amigos. Eu amava Ana, passei minha vida inteira amando-a...agora que Rosa tentava entrar em meu coração. era assustador.

Minha mente estava agitada, e eu não conseguia pensar direito, fiz então o que eu sempre fazia quando minha mente gritava. Me tranquei em meu estúdio e comecei a pintar, me deixando levar por meus sentimentos mais secretos.


****************


O dia da minha viagem com Rosa chegou finalmente, ele demorou tanto para chegar que ao invés de dois dias, parecia que se passaram dois meses, busquei Rosa desta vez no terminal de ônibus do centro da cidade, dali seguiríamos até o Hercílio Luz. Não entendia por que nunca podia buscar Rosa em casa, ainda não sabia onde ela morava, eu tinha o endereço em sua ficha de trabalho em algum lugar em minha escrivaninha, mas nunca havia prestado a atenção á aquela folha...tudo que foquei em seu currículo inicialmente, foi sua experiência em fingir ser outra pessoa, sua experiência em atuar.

Ela estava novamente linda, usando um short jeans, um par de all-stars vermelhos e uma blusa branca. Seus cabelos estavam presos a um coque frouxo e de longe eu podia ver alguns dos seus cachos rebeldes voando ao vento. Na sua mão aquela mala ridícula e fofa, na outra ela observava a tela do seu celular. Uma cena rara, de todas as pessoas do século 21, Rosa era mesmo uma raridade, você dificilmente a veria com o rosto colado na tela do celular e em seu Instagram que espiei durante esse longo fim de semana, haviam poucas fotos e em todas ela estava sozinha e sorrindo, aquele sorriso triste e lindo.

Ela tirou os olhos da tela do celular e então avistou o meu carro, ela ergueu o braço para o alto e começou a acenar para indicar o lugar onde ela estava, como se fosse possível não a ver, ela se destacava de todos com aqueles cabelos cor de fogo e sua mala ridiculamente infantil. Sorri, pois, seu sorriso era contagiante e parei ao seu lado.

— Bom dia. — Ela cumprimentou e logo abriu a porta de trás e jogou sua mala ali atrás, bateu a porta e sentou-se ao meu lado. — Que dia lindo para uma viagem. — Disse ela animada colocando o cinto de segurança. Como ela podia estar tão calma se meu coração estava aos saltos?

— Bom dia. — Olhei de soslaio suas coxas desnudas e logo desviei o olhar para seu rosto. — Você está bem? — Perguntei encarando-a.

— Muito bem, nunca estive em São Paulo, estou nervosa também, sei que o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo, mas se ele cair já era sabia? — Tagarelou ela. — Tipo, é o fim... The end. Não se você cair em uma ilha muito louca...sim a referência a Lost é grande, mas sabe, aquela série incrível acabou com o final...eu detestei e você? Aliás você já assistiu Lost. — Dava para notar que ela também estava nervosa já que não parava de falar coisas aleatórias, entrei na onda dela para tentar acalma-la.

Cicatrizes do passado - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora