Capítulo 10 (Apolo) Na Memória e No Coração -Parte 1

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Apolo

Eu não conseguia compreender porque tamanha dor de minha amada, de minha companheira. Não fazia o menor sentido a culpa que ela exalava, não tinha porquê senti-la, por ser agredida por um sádico louco, não podia pedir perdão por ser a vítima. Estava tudo estranho para mim. Não conseguia compreender e meu coração não havia explicações para seus sentimentos. Mas aguardei ela se recompor, tomar folego e continuar a contar o que de fato a estava despedaçando. Não me dei o luxo de tentar adivinhar, pois temia que minha mente pregasse peças em mim e me fizesse viajar por caminhos ainda mais tortuosos. Ao menos ela havia me garantido que não tinha sido estuprada, pois ai sim eu não suportaria continuar sentado aqui. Cassaria o bastardo e incendiaria todos os mundos na loucura de destruí-lo e pulveriza-lo da face da terra, de todas elas.

- Eu te amo. Disse Iris enquanto fechava seus olhos permitindo que eu entrasse em sua mente e visse através de seus olhos o que a atormentava tanto.

Diante do espelho apenas de calcinha e sutiã, Iris avaliava sua condição. Seu rosto estava magro, rugas de preocupação vincavam sua pele e o local em que havia levado um tapa e a lateral de seu corpo na direção das costelas estavam ainda um tom vermelho arroxeado deixando claro que era uma sombra dos hematomas da noite anterior. Tocando suas costelas, inspirando e expirando para ter certeza de que seu corpo estava em funcionamento. Minha amada olhava-se pelo espelho e vendo a si mesma, uma sombra do que já foi, uma desconhecida a olhava, uma covarde, pois era assim que se sentia, pois o medo a tomava com força. Greta, a garota com pouco mais de 13 anos a olhava atrás do espelho, dando-lhe um sorriso desconcertante.

- Não se preocupe. Eu fiz o meu melhor, você não ficará marcada. Ainda continuará linda. Disse a garota um tanto tímida, e pude sentir a compaixão de Iris brotar no seu coração. Aquela era apenas uma criança, um pouco mais velha que Pedro, mas ainda sim uma criança, que não deveria fazer parte desses horrores. Mas Greta era tão mirrada, tão humilde que tomou o coração de minha amada, que logo passou a vê-la como alguém em quem desejava proteger. Da mesma forma que sentia a respeito de Pedro.

Por sorte Eros não apareceu após o incidente e Iris pode aproveitar o dia sentada no jardim da nova casa. Ela havia sido transportada para outro local, não estava mais no acampamento que conhecia, a partir da clareira na tarde anterior após fazer o juramento ela tinha sido levada para outro lugar, acordará em um quarto desconhecido morta de sede e por conta de toda a comoção e violência não teve tempo de indagar nada a respeito de onde estava. Sentia cada vez mais distante daqueles que amava. Lembrou-se de sua mãe, de sua guardiã e amiga, de todos os amigos da faculdade, de mim. Ela estava se lembrando de mim, de nós, de tudo que vivemos juntos e o calor aqueceu seu coração e sentindo suas emoções através de seus olhos de suas lembranças eu fui tomado por pura felicidade, em perceber o quanto eu era de fato importante para ela. Exalei sem perceber o cheiro da ligação, mas controlei meus impulsos e permaneci em sua memória, precisava ver o que ela tinha para me mostrar. Quem sabe as memória poderiam me ser úteis, para a caçada que eu iria fazer, mais cedo ou mais tarde, eu cassaria Eros e o levaria a justiça, me certificando que pagasse por tudo que fez minha amada passar.

As coisas estavam mais calmas, Eros não aparecia já fazia alguns dias e enquanto tentava arrumar um jeito de fugir, não via uma oportunidade para fazê-lo. Iris estava sendo mantida em cárcere privado, o jardim único local em que podia ir era vigiado por várias sentinelas. Ouvia através da porta de seu aposento alguém que parecia ser responsável pela tarefa de guardá-la para Eros, estava deliberando ordens, para deixar o local intransponível. Ninguém saía, ninguém entrava, essa eram suas ordens, ordens vindas de Eros. Iris se irritou, sentiu-se cansada e o desejo de fuga aumentava a cada dia. Pedro dava informações sobre o exterior da casa, como era, como funcionava as rondas, onde e quando os turnos eram trocados, mas Iris sentia medo por ele, se alguém descobrisse o que ele estava fazendo não seria nada bom para o seu amigo. Então ela o convenceu a fugir, a seguir ela para longe de toda aquela violência e ele aceitou sua proposta, convenceu Greta a se juntos ao bando. Seriam o trio maravilha que sairia dali a alguns dias. Reunindo suprimentos, roupas e cobertas quentes, para que pudessem fugir tranquilamente. Pedro e Greta cavou em torno da propriedade escondendo todo o suprimento da fuga e no dia escolhido iriam até os locais seguros para pegar o que precisavam e seguiriam para a liberdade.

Mas duas noites antes da fuga, Eros retornava a propriedade, estava todo sujo, ensanguentado, seu semblante era de irritabilidade, minha amada podia sentir em seus ossos, que algo dera errado, muito errado para Eros e ele não estava para brincadeiras. Temendo seu estado de espirito, desmarcou a fuga com a intenção de ver se era de fato seguro dar andamento aos seus planos. Com Eros no local, tudo seria mais complicado e as coisas poderiam desandar de vez.

- Vejo que está com um semblante melhor. Fico feliz que se recuperou. Sentiu minha falta minha rainha. A voz do bastardo era cantarolada, cheia de uma falsa mansidão e pude sentir Iris se encolher em seu íntimo, o medo tomando seu corpo, a incerteza dedilhando em seu cérebro, mas a lembrança daqueles que amava lhe encheu de forças para responder ao monstro a sua frente.

- Não graças a você. Disse desgostosa com puro gelo em sua voz.

VIAJANTES II - A PROCURA #Wattys2018Onde histórias criam vida. Descubra agora