CAPÍTULO 11 (Iris)Convocação - Parte 1

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Iris

Ele estava ofegante, seus olhos ejetados para fora. Eu sabia o quanto custava para ele compartilhar minhas memórias, um preço alto demais, para mim e para ele, mas eu precisava mostra-lhes todas as memórias, não queria correr o risco de em algum momento inesperado fragmentos não explicados de minha terrível história pudesse atingi-lo de forma a confundi-lo ou faze-lo achar que eu não o amava. Precisava pagar o preço dessa dor, a ligação exigia honestidade e era o que eu estava dando a ele. Não havia outra forma de reparar a ligação, em meu intimo conseguia ver nossa rara ligação oscilar diante de minha fuga, de minha tentativa de esconder de Apolo os acontecimentos passados. Eu não tinha escolha, ou eu lhes mostrava toda a história, ou ele e eu sucumbiríamos a loucura, a verdadeira loucura que somente a ligação era capaz de produzir para se manter intacta, firme, solida.

- Eu sinto muito... Sinto de toda a minha alma... mas... _ As palavras fugiam de minha boca ao vê-lo tão destruído diante minhas memorias infames.

- Não. Não faça isso. Não tem que se desculpar por ser uma vítima de um sádico louco. Por Deus Iris! É apenas muito para eu processar, mas estou com você e sempre estarei. Preciso apenas de um pouco de ar.

Apolo tocou seus lábios macios nos meus, acariciando minha bochecha e seguiu para a varanda. De certo estava apenas tentando entender toda aquela confusão em minha vida. Eu estava cansada, muito cansada de lutar contra a maré, estava a ponto de desistir, jogaria a tolha se tivesse que continuar ferindo meu amado desta maneira. Precisava de um tempo, tanto quanto ele e saí do quarto em direção a porta da frente. Disse a Apolo por meio da ligação que iria dar uma volta na praça, para me recompor. Senti seu amor fluir por entre nós acariciando meu coração lenta e cuidadosamente, dando-me o espaço que precisava, que ambos precisavam.

Enquanto eu seguia para a praça, passando por algumas lojas de roupas, me perdi olhando os modelos na vitrine, enquanto meu coração diminuía as batidas a pouco descompassadas, observei um lindo vestido azulado pendurado em um cabide. Era bom ver e fazer algo normal de vez em quando, sem viagens dimensionais, sem missões, sem ligações especiais, sem guardiões, sem mundo viajante. Só uma garota de 18anos vendo uma vitrine de roupas, nada mais, simples assim. Mas comigo nada nunca foi simples e senti meu coração sendo puxado, convocado, meu peito pulando feito um louco, olhei em minha volta e não encontrei Apolo por ali.

Enquanto eu caminhava pela calçada a ânsia aumentava, a necessidade se tornava incontrolável, insuportável, minha respiração passou a falhar e minhas mãos tremiam desesperadas, como um abstémico. E a nevoa tomou minhas narinas, o cheiro almiscarado e apimentado, tomando forma a minha volta, dançando em meus sentidos, minhas pupilas se dilataram e o calor subiu por meu pescoço e minha pernas. A boca seca de desejo, meu corpo desperto agora ansiava pelo toque, pelas caricias, não havia como controlar e segui o cheiro, como uma loba em plena caçada, passos apertados se transformavam em passadas longas, que se transformaram em corrida apressada, e quanto mais perto dele, mais tudo se intensificava, tornando minha corrida frenética e histérica. Eu precisava reivindicá-lo para mim. Meu corpo doía de antecipação e juro que morreria ali mesmo se os lábios dele não pudessem tocar minha pele, minha boca, todo o meu corpo. Ofegante e desejosa, eu pude vê-lo na entrada do parque florestal. Estava lindo, um Deus encarnado, vestido de terno na cor preta, Mocassim de couro de mesma cor, cabelos muito bem penteados, brilhando em conjunto com a luz solar, fazendo-os ainda mais claros, com olhos famintos, azuis como o céu.

Por Deus! Eu estava perdida. Pânico! Total pânico corroía minhas veias, e eu atravessei a rua correndo, enquanto ele adentrava ainda mais o parque, longe dos olhos dos transeuntes. Assim que atravessei parei ainda na entrada do parque, obrigando-me a voltar, a retroceder, quem sabe pelo menos não dar nenhum passo, mas era mais forte do que eu, o cheiro varreu meus sentidos, dilatando minhas narinas, tomando todo e qualquer controle sobre mim e eu corri mais uma vez, direto para o seus braços , enquanto tentava reunir o máximo de raiva, ódio, indiferença, nojo, qualquer sentimento que pudesse me libertar, me salvar, mas foi tudo inútil, pois a única coisa que eu sentia era, amor, desejo, necessidade dele. Chorei, porque nada que eu fazia iria parar o que meu corpo e coração estavam me obrigando a fazer, meu cérebro começava a entrar em choque, pois a confusão se alastrava, e mais uma vez eu estava sendo puxada por duas cordas opostas, rasgando minha alma ao meio. Eu o beijei faminta, desesperada, enquanto suas mãos percorriam meu corpo, a minhas costas. Seus dedos em uma caricia suave, tocando meu rosto, meus cabelos, puxando-me para encaixar em sua cintura e pude sentir seu membro desperto contra meu corpo e um gemido dele enlouqueceu meus sentidos. O beijo era selvagem, de pura reivindicação, como se gritasse que eu era dele, por inteira. Me esfreguei em seu tórax enquanto meus gemidos se encorpavam, enquanto ele apalpava minhas coxas, enfiando os dedos pela pele macia.

- Pare por favor! Supliquei entre seus lábios. O sorriso malicioso e safado projetava de sua boca linda.

- Não consigo Amor. Sabe que não consigo. Disse ele em meio a doces risadas de alegria.

- Como posso parar se estou feliz. Eu te amo Iris, mais do que jamais poderia ser possível amar alguém. Agora eu sei o que é ser completo, agora que você expulsou as trevas deixando sua luz em meu coração, não posso mais viver na escuridão.

- Mentiroso! A voz saiu tremula e amaldiçoei essa ligação. Reuni toda as minhas forças e me afastei dele, com muita dificuldade, enquanto ele sorria e achava graça de meus esforços.

- Tão linda! Quero possuí-la aqui e agora amor. _ Disse ele e meu corpo se incendiou em seguida, mas mantive-me firme no mesmo lugar apenas vendo seus olhos queimar ao percorrer minha pele.

- Pare! Eu gritei, agora mais firme, mais contida. Respiração se acalmando, os nervos esfriando e o peito diminuindo as batidas. A cada palavra dele, eu evocava uma imagem de Apolo. Como uma ancora, um bote salva vidas e tomei o controle de meu corpo afastando-me alguns passos para longe de Eros.

- Não. Não faça isso Amor! Me mata quando você usa a ligação com ele para se distanciar de mim. Disse Eros com uma tristeza no olhar, tão genuína, tão aflita e verdadeira que tomei um folego chocada com o que eu estava vendo. Onde estava a ira, o ódio, as trevas que o acompanhava. Talvez minha percepção distorcida, dada pela ligação era a responsável, mas eu podia jurar que o Eros que conheci em um bar no dia no meu aniversário era total e completamente diferente deste a minha frente. 

Espero que gostem deste capítulo. Não esqueça de deixar seus comentários para eu saber o que está achando do livro até agora. Obrigada a todos! Boa Leitura.

VIAJANTES II - A PROCURA #Wattys2018Onde histórias criam vida. Descubra agora