Cap. 10

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Há alguns anos atrás em Atalanis, durante uma pausa da comitiva do batalhão de montaria de Mestre Arthur, seus soldados repousavam aos pés de uma enorme montanha florida. As águas do rio Ambar colidiam suavemente nas pedras do ribeirinho sob a luz do sol que caia vagarosamente no horizonte, tingindo o céu com tons em degradê do alaranjado para o azul marinho, formando paisagem digna de um afresco.

Ágata e Clarissa finalmente puseram os pés para fora da carruagem. "Acompanhar a comitiva é um exercício de popularidade para as herdeiras da Ordem" dizia Arthur às filhas, que muitas vezes se recusavam a sair dos braços de regalias do Palácio Arcano Branco.

Passear era sempre bom, afinal. Ao lado do pai, Eva, mãe das garotas, estava completamente segura da integridade delas. Além disso, ela sabia da importância de manter contato com as ricas províncias vizinhas e estabelecer acordos bilaterais. Seria bom para as meninas respirarem um novo ar de vez em quando.

Ágata e Clarissa riam juntas e caminhavam de braços dados a largos passos entre os soldados que repousavam sentados no gramado do vale. Por onde percorriam despertavam atenção de guerreiros, cavaleiros e escudeiros que torciam o pescoço para tentar acompanhar o agradável perfume das garotas.

Elas passeavam alegremente pelos verdejantes pastos onde algumas ovelhas se alimentavam. Recolhiam exuberantes flores e colocavam em um cesto de vime para posteriormente presentear sua mãe e alguns queridos serviçais do palácio.

- Olha, Ágata! Tem mais umas aqui, só que são amarelas. - Dizia Clarissa agachando-se perto de um cercado de madeira enquanto sentia o perfume das pequenas flores campestres.

- Shhh.

- O que foi? - Pergunta a ruiva.

- Fale baixo. - Pede Ágata enquanto espreita por algo adiante.

Ao observar em direção ao que os olhos de Ágata estão focados, Clarissa compreende o motivo do pedido da irmã. Um coelho pardo alimentava-se de algumas raízes logo à frente e não havia notado a presença da dupla.

- O...o que você vai fazer? - Sussurra Clarissa.

- Eu vou levar ele pra casa, oras.

- Ágata, a mamãe não vai deixar você ficar com um coelho. Ela não gosta de bichos no palácio. Você se lembra o que ela fez com o nosso cachorro, né?

Ágata vira-se para a irmã e franze o cenho.

- Você não vai contar pra mamãe. Eu vou levar ele escondido!

Com o tom mais alto da conversa entre as duas, o orelhudo animal assusta-se e põe-se a correr.

- Ahhh. Você espantou ele, Clarissa!

A ruiva acha graça na seriedade com que Ágata falava a respeito de um simples coelho e ri.

A duas disparam campo adentro seguindo os pulos do animal.

- Ágata! Espera!

Bem afastada dos olhares da comitiva, as irmãs, ao perseguir o coelho, entram em uma floresta de longas e delgadas árvores. Por onde quer que o orelhudo pulasse, levantava um sortilégio de folhas secas.

Ágata parecia obstinada e nem sequer olhava para traz, enquanto Clarissa, que não queria acabar sozinha, se esforçava para acompanhar o pique da irmã.

Quando ela finalmente se aproximou do felpudo leporídeo, que exausto, parou próximo de uma árvore, Ágata o agarrou com as mãos após um longo salto de barriga para baixo. Não notando o ambiente ao redor, percebeu tarde de mais que o coelho não prosseguiu com a fuga por estar encurralado entre ela e um barranco coberto de galhos e folhas secas que havia adiante.

A Câmara Secreta de ÁgataOnde histórias criam vida. Descubra agora