Eu e Rodge precisávamos nos entender um pouco melhor. Não porque não sejamos amigos, e sim por que eu não entendo muito bem os poderes de um bardo. Suspeito que ele também não entenda. No caminho para Mandrágora, encontramos um bar. É agora. Preciso beber pra colocar a "festa" do Cross num lugar escondido da mente. Rodge precisa beber por que... porque ele é um alcoólatra. Lawrence ficou do lado de fora, já que ele precisa me manter vivo. Duvido que alguém aqui dentro tentaria me matar. Bares são lugares de paz.
Arranjei uma mesa e duas cadeiras, fiz sinal ao garçom para que nos trouxesse duas cervejas. Rodge pegou o violão, como havíamos combinado anteriormente. Começou suave, como o sabor da bebida. Os homens começaram a se empolgar com a música boa, cantarolando no ritmo e gritando nos pontos altos. Eu termino a minha caneca. Tenho que admitir que não esperava que Rodge conseguisse ficar dois minutos sem tocar na sua caneca, cheia até a boca. A música terminou e ele engoliu a caneca como um animal. Fiz mais um sinal ao garçom, enquanto os presentes já faziam um coro. Eles queriam mais de Rodge. Fiquei curioso, não sabia se ele conseguiria manter o ritmo, mas uma caneca só nunca fez mal a ninguém. A dança começa e lá eu me jogo, para me juntar aos rapazes. A música é empolgante, o que posso fazer? Integro-me a uma canção que não conheço, unido a homens que nunca vi na vida e a uma dança irreconhecível. Meu coração bate junto ao ritmo do violão e aqui eu sinto como se este fosse um dos dias mais alegres da minha vida. É como se nada tivesse acontecido, como se a minha vida estivesse sendo uma maravilha. A música circula por todo o corpo e me embala, assim como faz com todos os outros. Tenho certeza que Lawrence está batendo o pé do lado de fora do bar. Aí a música fica mais agitada, mais agressiva. Como havíamos planejado.
A briga começou em dois segundos. Embalados pelo ritmo, ninguém percebeu no que estava se metendo. Bem, ninguém além de mim, que já sabia. Até mesmo o garçom e o dono do bar pularam na briga, como se suas vidas dependessem disso. Três homens partiram pra cima de mim e, para cumprir todos os clichês, estalei os dedos. Dois vieram juntos, me forçando a apenas defender e recuar. Te garanto isso: toda vez que você ler sobre uma cena onde o protagonista derrote dúzias de homens sozinho, duvide. Já é irritantemente difícil enfrentar dois. Todos os heróis que repetiram essa cena são charlatões mentirosos. Que bom que não sou nenhum herói, o que me permite dar uma corridinha e apanhar uma garrafa. Quebrei na cabeça do primeiro e a minha mão direita já buscava a Corta-Relâmpago, mas bares são lugares de paz. Vim aqui para testar os poderes de Rodge, não pra uma carnificina generalizada. E meu amigo, Rodge era rival até mesmo para Abigail desse jeito. O bardo sabia o que estava fazendo, era só não deixá-lo se embebedar. Ele começa a relaxar a música, trocando-a por um tom mais calmo e melancólico. Os homens começam a cambalear e a cair no chão. Comecei a gargalhar.
- Rodge! Depois de hoje, você estará comigo pra sempre, entendeu? - ele pegou a caneca. Pelo jeito que ele consegue evitar a caneca até o final da música, tenho que admitir que estava errado sobre o rapaz. Olhei ao redor, vendo homens dormindo, tranquilos - Pelo Rei, você é genial, garoto!
- Vamos deixar essa bebida toda largada por aqui? - o garoto disse, sorridente. Estava orgulhoso de si mesmo. Ele realmente não conhecia o próprio poder.
- Claro que não. Lawrence, chame o condutor! Temos uma festa aqui! - e assim se seguiu. Foi uma noite divertida.
Andar com um condutor bêbado é uma aventura sem igual. Você tem medo de morrer a cada curva. Ah, a propósito, eu paguei sim a bebida que nós 4 consumimos. Eu posso ter causado um frenesi de gente se batendo, mas não sou um ladrão. Tem muita gente me devendo no mundo. Eu não deixaria de pagar um dono de bar honesto. Bem, isso é passado, deixa isso pra lá. Ao chegar na cidade, dei ao condutor uma bolsa cheia de moedas e pedi para que ele nos aguardasse por três dias. Me recuso a demorar mais que isso pra achar a porra de um artefato do Crown. Escravo do Oswald ou não, eu ainda sou eu mesmo.
Me separei de Rodge, que foi procurar mais um bar. Onde ele arranja tanto dinheiro? Lawrence e eu fomos procurar algum lugar para a noite.
- O que estamos procurando, Vincent? - ele não parava de olhar ao redor. Talvez a história sobre o Cross o tenha deixado nervoso, mas essa é a vantagem de tratar seus funcionários direito. Nas histórias, você normalmente vê homens governando seus subordinados com medo, ameaças e pagamentos normalmente atrasados. Você não costuma reclamar seus direitos com quem vai arrancar seus dedos ao abrir o bico. Mas eu não sou assim. Meus homens são tratados com respeito, confiança e bolsos cheios. Na verdade, é estimulante mandá-los atrás de quem está me devendo. Um recado bem dado ao devedor e um empregado satisfeito. Lembro-me de quando Maurice estripou dois capangas só pra mandar um recado ao velho cafetão que estava me devendo. Fui pago logo na manhã do dia seguinte. Um daqueles homens sobreviveu. Ele não sai mais da cama. E mantendo as coisas assim, confio plenamente em meus rapazes, sabendo que eles não têm motivos pra me trair.
- Estamos procurando por alguém com uma capa chamativa, Lawrence. Muito chamativa. Chamativa ao ponto de cegar um homem cego - ele apontou para uma estátua. Era um homem com a capa mais legal do mundo. Bem ornamentada, longa, imponente, o tecido perceptivelmente sedoso até mesmo na pedra, é como se ele fosse um rei. Reconheci o homem como o Mago Crown, obviamente.
- Tem um museu dedicado ao Mago aqui em Mandrágora, senhor. É bem bonito, nós deveríamos procurar algo por lá - olhei pra ele, não reconhecendo o mudo Lawrence naquele homem.
- E como é que você conhece museus de outras cidades? Desde quando é fã dessas coisas? - eu nunca havia saído de Baronesa acompanhado. Percebi que não conhecia muito de meus homens, embora confiasse minhas costas a eles.
-Oh, minha esposa, senhor. Amanda me arrasta pra todo tipo de lugar quando não estou trabalhando - ele pareceu, de alguma forma, envergonhado. Eu sorri. Ter sido arrastado até aqui até que não foi de todo ruim, afinal. Farei isso mais vezes, depois que a cabeça de Cross estiver disposta pra mim numa bandeja.
- Então vamos lá, senhor culto! Apresente-me ao Museu de Mandrágora! Estou ansioso pra partilhar desse seu cérebro!
E pra lá partimos. O portador do Manto do Anfitrião já nos observava, mas eu não sabia ainda. Mandrágora é uma cidade legal, será interessante mostrá-la. Vamos?
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Shard of Lies
FantasiVincent Grinn nem de longe é o que você chamaria de bom. Um assassino profissional, a única coisa que move a sua vida é o constante desejo por poder. Quando Abigail, uma velha conhecida, o procura pedindo ajuda para localizar um artefato do lendário...