Parte 1

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28 anos e meio. Faculdade incompleta. Vida amorosa arruinada. 

Bem, definitivamente essa não é a vida que eu imaginava que teria no futuro há 10 anos atrás... Claire, garota, pra quem tinha acabado de começar uma graduação, conhecido alguém que seria o amor para o resto de sua vida (ou pelo menos pretendia que fosse), pra quem tinha planos de se casar de véu e grinalda e passar a lua de mel em Paris, você definitivamente afundou uns três níveis abaixo do poço! 

Morar com a mamãe e o papai e um irmão no auge de sua adolescência foi a única saída que me restou, e, por mais que eu ame minha família, a convivência às vezes se tornava quase impossível. Josh, meu irmão mais novo, ora carinhoso, ora indescritivelmente chato, faz questão de me lembrar várias vezes o quão fracassada sou por ter levado um pé na bunda e voltado a morar com papai e mamãe. Mamãe, Sra. Gale, sempre foi muito doce com todos ao seu redor: lembro de, na infância, presenciar papai furioso todas as vezes que mamãe convidava os garotos da vizinhança para jantar ou quando regava as plantas do jardim do vizinho, que era inquilino da minha mãe e nunca estava em casa, deixando as pobres flores sempre secas e murchas. Meu pai, um fanático por futebol e corridas de cavalo, estava sempre reclamando de alguma coisa que parecia não estar certa, e por diversas vezes minha mãe o chamava de "ranzinza". 

Tudo parecia andar normalmente bem no meu casamento com Jake Alle, um dos homens mais bonitos e requisitados da cidade, um verdadeiro partido. Tirando as brigas ocasionais que todo o casal tem, a vida seguia seu fluxo normalmente. 

Quando, numa noite de verão, ao sair da faculdade, chego em casa e recebo uma mensagem de Jake dizendo ter um assunto muito sério a tratar comigo. Um turbilhão de pensamentos passaram pela minha cabeça: uma doença terminal, uma proposta de emprego em outra cidade, uma possível amante... tudo isso me consumia naquele momento, e, 2:30 horas depois de eu ter recebido essa mensagem, eu me encontrava aos pés da cama, chorando, que nem uma maluca, perguntando porque eu simplesmente tinha acabado de ter sido largada pelo meu marido depois de 3 anos de casamento. 

- Você tem uma amante, não é? Eu sabia! Bem que eu notei que você andava estranho ultimamente! Ficando até tarde no trabalho, escondendo o celular á sete chaves, sem disposição para sexo... só me diz uma coisa: o que ela tem que eu não tenho? Hein, responde, seu cafajeste! 

- Se você parar de dar chilique eu posso tentar manter um diálogo com você. Não existe amante nenhuma! Eu simplesmente acho que não está mais dando certo e decidi não insistir mais no nosso relacionamento. O problema n... 

-Ah não, espera aí... Não venha com essa papinho clichê de que "o problema não é você, sou eu" Você acha que eu sou aquela garota ingênua, aquela caloura recém chegada na faculdade que você tinha como projeto de caridade? - e enquanto essas palavras saiam da minha boca, eu jogava um copo em sua direção. 

- Projeto de caridade?
Você ficou maluca? Eu nu... 

- Maluca? Agora eu que sou a maluca? Você realmente acha que eu não percebia que as garotas da faculdade sempre me olharam torto quando estávamos juntos, pensando que você era demais pra mim? Você acha que eu sou idiota? 

- Por que você está dizendo isso? Isso foi há anos atrás. E além disso, você realmente acha que o amor que eu sentia por você, a dedicação e zelo que eu sempre te tratei eram partes de um "projeto de caridade"? - disse ele, e eu senti naquele momento, seus olhos murcharem e seu rosto tomar uma expressão triste. Por um breve momento eu me arrependi daquelas palavras. 

- Quer saber? Eu já não sei de mais nada! Eu só quero ir embora daqui e nunca mais ter que olhar pra sua cara. 

Depois de quebrar 7 copos e destruir o escritório dele, decidir recorrer a quem sempre está do nosso lado independente de qualquer coisa: nossa família. 
Feito isso, estava eu, as 23:45 da noite, chorando no colo de minha mãe e sendo arrebatada por perguntas de papai que iam de: "Quer uma água com açúcar?" até "Lembro que eu te disse isso? De nunca ter ido com a cara desse canalha?" Além disso, não parava de repetir que no dia seguinte iria até o apartamento de Jake ter uma conversa de "homem para homem" com ele. 
Mamãe, passando a mão na minha cabeça, tentava me tranquilizar dizendo que agora eu estaria segura e que nunca mais eu veria a cara daquele homem de novo. Josh me dizia palavras tranquilizadoras e fazia o seu papel de irmão mais novo "ora carinhoso, ora insuportável", e eu sentia que, apesar dos 9 anos de diferença, aquele garoto parecia ter mais maturidade e vivência que eu. 

Todas essas palavras simplesmente passavam como fumaça pelo meus ouvidos. O meu estômago embrulhava e as pernas bambeavam. Tudo que eu conseguia ouvir eram as últimas palavras de Jake ecoarem sem parar na minha cabeça. Eu queria gritar, mas a voz parecia não sair. Eu queria correr, mas parecia não ter mais força. Eu queria entender o por que daquilo tudo estar acontecendo comigo, mas eu não conseguia raciocinar com clareza. Eu me sentia fraca, vulnerável, como uma garotinha frágil e inexperiente. Cheia de ódio, tristeza, e mais um milhão de emoções juntas, eu só pensava que meu mundo havia acabado e não conseguia pensar em maneiras de me reerguer. 

Mr. Stupid JonesOnde histórias criam vida. Descubra agora